Vocaloid - Abstract Nonsense

Tempo estimado de leitura: 19 minutos

    18
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Família

    Álcool, Drogas, Estupro, Linguagem Imprópria, Nudez, Suicídio, Violência

    Boa Leitura!

    Pedalo da escola até minha casa rápido. Está ameaçando chover, e não quero ficar encharcada. Por sorte, o caminho não é longo e talvez eu consiga chegar antes da chuva.

    No caminho, penso no trabalho em grupo e decido que já vou começar todas as partes dele, já que provavelmente Yagumi e Kyashi vão me fazer pesquisar tudo.

    Chego em casa. São 3:00h da tarde, o que significa que minha mãe deve estar no computador ?trabalhando?. Ou seja, bisbilhotando todos os meus clipes de músicas da internet. Ela cisma que eu devo fazer algo mais sensual, como um clipe romântico mas mais, como ela diz, picante. Eu me recuso. Mesmo tendo que manter a pose de cantorinha pop, ISSO eu não posso fazer. Minha mãe diz que mesmo um clipe na praia onde eu uso um biquini ou onde eu apareço seminua já está bom, mas eu não vou fazer isso de jeito nenhum. Não sou esse tipo de pessoa. Ela vê todos os sites de fofoca e as pessoas estão me achando sem graça, e todos acham que eu sou uma criança e minto sobre ter 14 anos, porque não quero tentar provar que tenho ?curvas definidas?, um jeito mais bonitinho de falar ?com peitos grandes e bunda redonda?. Bom, eu não ligo. Se eles só vão gostar da minha música se eu tiver um corpo bom, acho que vou perder alguns fãs. Mas se bem que minhas músicas não me definem. Não me identifico com nenhuma delas.

    ? Cheguei. ? anuncio, depois de deixar a bicicleta numa area coberta. A chuva vem logo em seguida.

    ? Hmm. ? ouço a voz de minha mãe responder. A porta pela que entrei dá para a cozinha, onde há uma tijela de arroz vazia e um pouco suja e um copo de sakê pela metade. Há um par de hashis sujo sobre a mesa, o que indica que ela acabou de almoçar. Tem um pequeno corredor na frente da entrada para a cozinha, que não tem porta. Nesse corredor tem quatro portas: meu quarto, um banheiro, o quarto dos meus pais e o escritório da minha mãe. No final do corredor tem uma sala de visitas. A mesa para as refeições fica na cozinha.

    ? Rin. ? ela me chama num tom de irritação. Vou até o escritório dela. Droga, o que eu fiz dessa vez? Ela sempre fica irritada por qualquer coisa que eu faça, porque ?uma celebridade não pode cometer gafes. Ela é absolutamente perfeita?. Hum. Ela pensa que eu sou o que, um anjo?! Eu não posso ser perfeita, assim como ela definitivamente NÃO É. Ninguém é.

    ? O que foi, mãe? ? pergunto. Ela se vira em sua cadeira e está com uma expressão de desgosto no rosto.

    ? Rin. ? ela repete.

    ? Tá bom, mãe. Eu sei qual é meu nome. ? respondo, irônica. Esses dias, minha mãe tem exigido demais de mim. Será que vou ter que reprimir meus sentimentos dela, também?

    ? Rin. Posso saber o que é isso? ? ela diz e vira a tela de seu laptop para mim. O que eu vejo é uma cena de um dos meus clipes na qual minha saia se levantou acidentalmente, mas estou com um short por baixo dela. É isso que ela acha ruim? Sério? A maioria dos pais repreende as filhas por usar saias curtas ou mostrar o corpo, e não por escondê-lo.

    ? Ué. Acho que você sabe o que é isso. É um short por baixo de uma saia.

    ? Sim, eu não sou cega. Eu quero saber porque você fez isso.

    ? Mãe! Eu só... não gosto de mostrar meu corpo publicamente para qualquer um ver!

    ? Viu? É por isso que você nunca teve um namorado!

    Me viro para ela, chocada.

    ? O que você está dizendo?! Quem disse que você pode se meter assim na minha vida pessoal?!

    ? Rin, eu só estou...

    ? Pare de tentar dar desculpas! O que você tem com o fato de eu nunca ter tipo um namorado? Dane-se! Ninguém apareceu para mim ainda! Melhor que você, que aos 12 anos não era mais virgem!

    ? Rin, sua imagem! Uma celebridade precisa ter um namorado! Assim, os fãs...

    ? ESTÁ VENDO?! ? eu grito, magoada, com lágrimas se formando nos meus olhos. O que ela pode dizer sobre mim?! Ela não me conhece, e olha que eu sou a filha dela! ? Você só liga para a celebridade! Não liga para mim de verdade! Você só quer ganhar dinheiro comigo! Como se eu fosse seu cãozinho que faz truques! Alguma vez você me perguntou o que eu acho?! Não! Eu nunca quis ser uma cantora pop! Eu gosto de cantar, mas... não assim!

    ? NÃO FALE ASSIM COM A SUA MÃE. ? ela aumenta o tom de voz.

    ? Minha mãe? Você não é minha mãe! Mães não são assim! Elas apoiam, ajudam, e pelo menos aceitam o que as filhas querem ou não querem fazer, como canta pop!

    ? Rin. ? ela me repreende, séria, em tom de ameaça.

    ? Eu não sou a Rin que você conhece. Mas você não quer me conhecer de verdade. ? vejo uma fotografia minha sorrindo com um microfone na mão, com um fundo rosa fofinho com carinhas de olhos grandes e brilhantes. Pego uma caneta e rabisco uma boca triste e uma lágrima sobre meu rosto da foto.

    ? RIN! ? ela berra. ? Você está louca?! Não sabe quanto isso vale?!

    Não aguento. Preciso sair daqui. Minha própria mãe não liga pra mim. Ela não está nem aí. Ela nem me conhece. Nem quer conhecer!

    Pego minha capa de chuva, que está pendurada no cabideiro na frente da porta.

    ? RIN, ONDE VOCÊ VAI?!

    Não respondo. Ela não merece resposta. Vou para fora de casa, e está caindo uma tempestade. Mas eu não ligo. Prefiro tomar chuva do que ficar no mesmo ambiente daquela mulher que se diz minha mãe.

    Pego minha bicicleta e pedalo com toda a minha força. Preciso ficar sozinha. Depois de um tempo, chego a um mirante. O clima está como eu: cinzento. A vista até seria bonita, se eu não estivesse tão magoada.

    Eu não tenho amigos. Sou como o animal de estimação daquelas duas. Tenho que fingir para todos. E minha mãe só liga para dinheiro. Para ela. Talvez eu devesse morrer.

    Sim. É isso que vou fazer.

    Eu vou me matar.


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