Fim adiado
? o que eu mais temia ?
? Por Paola Tchébrikov
Eu ainda sofria pela morte dela, eu ainda me culpava, chorava e me lembrava de cada um dos momentos que havíamos passado juntos. Lamentava diariamente por não ter ido visitá-la mais vezes no hospital e tentava conviver com as memórias tristes e felizes sem lamentar cada uma das minhas escolhas. Eu havia feito tudo o que podia, mas não havia sido o suficiente. É claro que não! Porque o tempo dela era limitado, e enquanto eu seguia a minha vida naturalmente, ela morria aos poucos.
E eu não podia fazer nada?
E eu não estava lá para ajudá-la?
Nem para confortá-la, apoiá-la, sorrir com ela?
Eu era o pior dos homens. Eu havia lhe dado esperanças e fugido. Correra com o rabo entre as pernas, assustado, como se ela fosse um fantasma, como se sua doença fosse o problema entre nós. Mas o problema era eu. Eu era um tolo incalculável, eu merecia morrer no lugar dela.
Eu queria que ela tivesse vivido.
Eu queria tê-la curado.
Queria que seu sorriso durasse para sempre.
Mas eu era um inútil. Eu só conseguia me esconder e fugir, fingindo que, assim, os dias dela conosco se multiplicariam. Eu evitava vê-la, nutrindo uma esperança utópica de que isso a faria ficar mais um pouco conosco. Eu agia exatamente ao contrário de como deveria realmente agir. Como um irmão mais velho, eu devia fazê-la sorrir e aproveitar cada minuto que ainda lhe sobrava.
Mas eu era um fracasso de irmão.
E havia sido um fracasso de homem ao fugir de sua presença depois de sua confissão.
Eu podia não ter prolongado sua vida, mas com certeza prolongaria seu sorriso.
Mas eu estava muito perdido em meus próprios ideias.
Sequer notei que o que ela queria era que eu estivesse ao seu lado.
Ela não havia pedido que eu curasse sua doença.
Ela só pedira que eu a amasse.
E eu sequer conseguira fazer isso.
Eu não merecia amar nem ser amado.