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Boa leitura! :)
Vou postar toda sexta-feira, ok?
Tento tirar os risos que me cercam da cabeça. Eu estou em aula, preciso me concentrar no que o professor diz. Entretanto, algo me impede.
Me viro e vejo as duas garotas (Kyashi e Yagumi) cochichando algo.
? Sabe a Rin Kagamine? Essa garota é realmente um cão monocromático.
? Cão monocromático? Como assim?
? Você não vê? É um fantoche da mídia, com essa voz estridente.
Me viro novamente. Aquelas garotas acham que me conhecem? Até dizem que são minhas amigas. Mas estão erradas. Eu apenas finjo ser o que não sou. Finjo ser alegre quando na verdade, estou sofrendo.
Desperto de meus pensamentos com o sinal da hora do almoço batendo. Kyashi, com seus longos cabelos azuis , e Yagumi, com os cabelos cor de rosa presos com marias chiquinhas, se aproximam e dizem, como se não tivessem falado nada há poucos instantes:
? Oi, Rin-chan!
Eu apenas faço o que sempre fazia, depois de ter virado uma cantora, e até mesmo antes. Abro um sorriso de orelha a orelha e respondo:
? Oi, Kya-chan! Oi, Yagumi-chan!
? E então? Quer fazer o trabalho em grupo com a gente.
?NÃO, não quero!?, eu queria dizer. Eu QUERIA. Mas não posso. Bom, elas sempre deixam todo o trabalho para mim. Mas o que eu posso fazer além de obedecer? Eu quero ser aceita por elas, as garotas mais bonitas e populares da escola. Não gosto delas, mas se elas não gostarem de mim, ninguém mais vai gostar. Fantoche da mídia? Eu apenas canto o que me mandam cantar, e não concordo com o que está nas letras das músicas que tem eu rosto nas capas de seus CDs. Eu não sou nem RICA, como todos esperam que eu seja. Tenho ficado um pouco famosa, mas isso não faz muita diferença. Na verdade, não me sinto como se EU fosse famosa. As músicas que me mandam cantar é que são. Meu rosto é.
Não... não meu rosto. A minha máscara. A minha máscara de alegria e espontaneidade. A máscara que esconde minha dor.
? Claro! ? digo, por fim.
? Certo! ? responde Yagumi, com uma doçura enjoativa. ? vamos combinar as lições para amanhã.
Elas começam a andar para suas carteiras e fazem sinal para que eu as siga. A aula recomeça e o professor nos manda decidir os grupos e combinar as lições. Assim, combinamos quem vai fazer o que para amanhã: cada uma fará uma pesquisa sobre nosso tema.
? Já formaram os grupo e se organizaram? ? pergunta o professor.
? Siiiiim! ? responde Kyashi. Então, o professor manda todos se sentarem e continua suas explicações sobre o tema, mas não consigo prestar atenção, então começo a rabiscar em uma página em branco de meu caderno.
Desenho bonecos de palitinho (que é o melhor que eu consigo fazer) de mãos dadas, numa roda. Desenho um lacinho num deles. Sou eu. É o que eu quero. Que me aceitem como eu sou. Que não exijam que eu seja animada sempre, ou cante músicas bobinas, leia revistas de moda e esteja sempre com um sorriso no rosto. Que deixem eu fazer a expressão que eu quiser, que me deixem agir como eu mesma. Que deixem a verdadeira eu se libertar.
Dou mais detalhes ao meu desenho, com cabelo, rostos, roupas. Yagumi e Kyashi estão bem distantes de mim, como eu queria que fosse. Depois, penso bem e apago os detalhes delas, e deixo só em mim. Percebo que por dentro, provavelmente sou uma pessoa diferente do que sou por fora, então pinto o cabelo e o uniforme de preto, e os olhos de vermelho, o que fica em diferente, já que sou loira e tenho olhos azuis. Mas percebo o que acontecerá se eu libertar a verdadeira Rin Kagamine: vejo a Rin de meu desenho se desfazer diante de meus olhos. Os braços, as pernas e a cabeça estão separadas do tronco e as outras pessoas já não estão dando as mãos para ela.
Sinto minha pressão baixar. Respiro fundo e começo a tremer. Tenho sorte de sentar bem ao lado da janela, e ponho a cabeça e os braços para fora da janela em busca de ar puro, e fico pendurada lá tentando respirar. Começo a me sentir melhor depois de alguns segundos arfando com a cabeça quase enfiada numa moita do lado de fora da sala. Percebo que o professor havia parado de falar e me olhava, acompanhado de toda a turma.
? Kagamine-san? ? chama o professor. ? Está se sentindo bem? Quer que alguém a acompanhe até a enfermaria?
Eu quero, e vou dizer isso a ele:
? Sim, professor. Eu estou me sentindo... ? mas, sem querer, olho para os rostos de Kyashi e Yagumi. Elas estão com uma expressão de como se tivessem percebido que a princesa era o sapo, como se dissessem com os olhos ?Você NÃO está passando mal. Rin Kagamine NÃO passa mal, já que ninguém gosta de uma menina que se faz de coitadinha e adoece?. Então termino a frase com uma mentira, algo diferente do que eu ia dizer: - ... muito bem! Não preciso ir à enfermaria. Posso continuar na aula.
Ele me encara com um olhar cheio de incerteza. Sabe que estou mentindo, mas diz apenas:
? Tem certeza? Você está um pouco pálida.
?Não se preocupe, sensei! ? e dou um daqueles sorrisos que convencem qualquer um, que eu aprendi a fazer nos últimos anos.
Assim, as aulas passam, e é hora de ir para casa. Estou andando no corredor em direção à saída, quando ouço risadas agudas e alguém chorando. Vou até o lugar de onde vem o barulho e não fico surpresa ao ver Kyashi e Yagumi dando risadinhas. Mas vejo algo que não esperava: o pé direito de Kyashi está pisando nas costas de uma garota morena, de trança e com o uniforme sujo de marca de sapatos, provavelmente os de Kyashi. A garota no chão é a aluna nova Alice. Ela está chorando, e quando Kyashi e Yagumi me veem, seguram meu braço e me trazem para perto delas. Elas começam a rir e sussurram em meu ouvido algo terrível sobre Alice, e Kyashi diz:
? Hummmm, vamos ver, quanto essa aqui vale! ? ela pega seu estojo, o abre e tira de lá durex, um lápis e arranca uma folha de um caderno. Ela desenha nele um 0 bem grande, e o cola no rosto de Alice. ? A resposta é ZERO! Ou até menos!
? Ora, Kya-chan, você não deveria nem ter gastado papel e durex com isso! Ela não vale a pena nem pra isso! ? Diz Yagumi. E então as duas dão risadinhas, e eu saio correndo, com lágrimas de pânico se formando em meus olhos. Kyashi e Yagumi são monstros, são horríveis!
Isso inúil, quero parar com isso! Viver duas vidas ao mesmo tempo... prefiro não viver nenhuma! Mas... ainda não tenho coragem... de morrer.