É por amor.

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 6

    Um novo rumo.

    Álcool, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Olá meus queridos leitores!!!

    Coincidência ou não, parecia que a vida, de certa forma, estava arrastando-lhe para lá. A jovem não estava em posição de poder escolher, afinal, aquela era a luz que havia surgido no fim daquele escuro túnel que a guiaria dali em diante e ela deveria se agarrar àquela oportunidade.

    (...)

    A garota de cabelos róseos, sentada no sofá próximo a uma prateleira de livros, conversava atentamente ao celular preso à lateral do seu rosto pelo ombro franzino, enquanto as delicadas mãos ocupadas, precisamente, anotavam algumas coisas na pequena agenda azul-celeste.

    — Hum, sim... Eu entendo, mas Ino-san... Hum... Tudo bem então... Mas né, onde...? — os murmúrios que pronunciava ao aparelho, para aqueles que não participavam da conversa, pareciam não ter nexo.

    — Nossa... Ela está demorando! Já faz quase dez minutos que essa tal de Ino está falando e a Sakura-chan só “tentando” falar... — pensou a amiga enfadada. — Deve ser o tipo de mulher que fala pelos cotovelos... — murmurou apanhando um livro sobre o balcão e começando a folheá-lo.

    — Hum... Está bem, Ino-san... Muito obrigada! — a menina terminou a ligação.

    — Nossa! Até que enfim... E então, como foi? — a outra fechou rapidamente o livro e o jogou para o canto, cruzando os dedos das mãos, ansiosa.

    — Né, Minami-san... — a rosada desligou o celular e o colocou de volta na algibeira de sua bolsa. — Ela disse para que eu a encontrasse na estação de Nakano! — a garota levantou-se e seguiu até a amiga, com a agenda em mãos e colocou-a sobre o balcão.

    O cão sentindo a ausência da dona, a acompanhou, deitando-se perto de seus pés, ao lado esquerdo dela.

    — Que maravilha! Então o emprego na escola de música deu certo? — inquiriu contente.

    — Bem... Parece que estão mesmo precisando de uma professora de piano! — esboçou um leve sorriso entristecido.

    — Né, Sakura-chan... O que você está esperando? — ela pegou a agenda e começou a ler. — Aqui diz que é para você estar em Nakano às dez horas da manhã... E já são quase sete! — lembrou preocupada. — Aliás, você não parece feliz... — observou desapontada.

    — Não é que eu não esteja feliz... É que... É que... — buscou por palavras para explicar.

    — É que...? — ela sugeriu para que completasse a frase.

    — Eu nunca saí daqui! Não sei como farei para chegar a Nakano! — confessou corada de vergonha.

    — Sério mesmo Sakura? — a outra a olhou, incrédula.

    — Sim! Nunquinha mesmo... — confirmou com o rosto ainda mais enrubescido.

    — Mas né, Sakura-chan... Você não veio de Hokkaido? — indagou confusa.

    — Sim, mas é que... Minami-san, eu nasci mais ao norte de Hokkaido, em Asahikawa e quando eu ainda era bebê, minha família mudou-se para a capital, Sapporo! — calou-se por um momento, suspirando pesadamente. — Após a morte dos meus pais, aos meus treze anos, a minha tutela caiu nas mãos de uma mulher que eu nem conhecia e ela me trouxe pra Hinode e cá estou até hoje! Sério mesmo, desde então eu nunca coloquei um pé fora daqui! — terminou a explicação.

    — Uau... História digna de uma heroína de mangá! — caçoou contendo a risada. — Mas né, se você viveu por treze anos em uma cidade grande, deve ter pelo menos uma noção de como viajar... — supôs simpaticamente.

    — Eu praticamente cresci na segurança dos muros imensos de minha antiga casa... Meu pai entrava em pânico só de pensar na possibilidade de sequestro e todos os males que o mundo exterior poderia me causar! Não me deixavam sair de casa, eu não tinha amigos e estudava em domicílio... — respirou fundo. — Até os meus dez anos eu vivi aprisionada em meu lar, até que mamãe resolveu me colocar em um colégio para meninas! — foi interrompida.

    — Espere aí... Isso não é mais um mangá... Sua história está mais para um conto de fadas! A princesa aprisionada em seu castelo! Kyah... Que lindo! — proferiu com os olhos brilhantes, imaginando a cena.

    — Minami-san! Leve-me a sério e ouça o que eu estou dizendo! — ralhou irritada, entretanto a voz suave soara um tanto engraçada.

    — Sakura-chan... Até brigando você é fofinha! — comentou sorridente.

    — Ah... Enfim, eu não tenho a mínima ideia de como farei para ir a Nakano! — expôs mordendo o lábio inferior, sentindo-se derrotada.

    — Olha só... Como hoje você não vai vir trabalhar no período diurno, eu terei de ficar para cobrir o seu lugar até o meio-dia, para que dê tempo da Hiromi-san providenciar um novo funcionário para ficar no seu lugar. Portanto, não poderei acompanhar-lhe na viagem! — contou deprimida.

    — Entendo... — a menina murmurou olhando para o chão.

    — Mas preste bem a atenção no que eu vou lhe dizer... Aliás, vá anotando tudo o que eu disser! — pediu entregando a agenda com uma caneta nas mãos da outra.

    — Sim, senhora! — obedeceu instantaneamente.

    — Poxa, Sakura... Sou apenas cinco anos mais velha que você! Não me chame de senhora! — exigiu transtornada com a situação.

    — C-Certo, Minami-san! — acatou posicionando a caneta sobre o papel.

    — Bom, é o seguinte... Aqui em Hinode não tem estação de trem, portanto, você terá de ir à Akiruno e ... — começou a explicar.

    Embora, estivesse com medo, a jovem não tinha escolha, a não ser ceder àquela oportunidade que havia surgido à sua frente e agora, mais do que nunca, deveria agarrar-se a ela.

    (...)

    Na cozinha, a mulher seguiu até a geladeira, abrindo-a. Apanhou a pequena garrafa de leite de morango, caminhou até a mesa e despejou todo o conteúdo dentro do copo de vidro transparente. Aproximou-se do armário e pegou um pacote de bolachas de chocolate, colocando todo o interior dentro de um pequeno pote de porcelana.

    Arrumou tudo sobre a bandeja de inox lustrado e foi até o quarto do rapaz. Chegando lá, levou a mão à maçaneta e abriu cuidadosamente a porta, criando apenas uma fresta:

    — Sasuke, hoje o senhor só comeu àquela média torta de chocolate à tarde... Já são quase vinte e uma horas... Precisa alimentar-se! — notificou pela pequena passagem que abrira.

    O jovem que ainda, deitado sobre as almofadas ao chão, jogava videogame, não deu-lhe atenção. Talvez não tivesse escutado o que a mulher disse, ou então, realmente não quisesse respondê-la.

    Independente de qual fosse o caso, ela não iria atrever-se a insistir naquele assunto. A mais velha então agachou-se frente a porta e colocou a bandeja no chão ao lado de dentro do quarto:

    — Eu deixarei a bandeja aqui perto da porta! Quando o senhor sentir vontade, por favor, coma! — avisou preocupada. — Enfim, já deu o meu horário, portanto, estou indo pra casa! Até mais! — despediu-se fechando a porta. — Ele vai ficar muito nervoso quando avistar aquilo sobre a bandeja... Eu realmente não sei por que isso o irrita tanto, mas no fim, sempre que está deprimido, parece que leite de morango acompanhado de bolachas de chocolate o deixa mais calmo! — pensou aliviada, apanhando suas coisas sobre o sofá e finalmente deixando o apartamento.

    Dentro do quarto, o garoto havia acabado de finalizar o último “round” de um jogo que gostava muito. Já estava entediado com aquilo, afinal, tinha jogado videogame a tarde toda.

    Suspirou pesadamente, levantou-se e desligou a TV. No silêncio do quarto solitário, o estômago roncou alto e ele passou a caminhar por entre as almofadas espalhadas ao chão, na direção da porta.

    Chegando perto da bandeja, ele abriu um pouco da porta para que adentrasse claridade e ele não precisasse acender as luzes do cômodo. Sentou-se ao chão e se pôs a observar aquilo:

    — Droga... Aquela besta sabe muito bem que eu detesto leite, ainda mais de morango! E olhe só essas bolachas... Argh! — repulsou com nojo. — Não é como se eu fosse comer porque quero, é só que... Estou com fome, portanto... — corado, ele apanhou um dos biscoitos e levou até próximo do copo com o líquido cor-de-rosa. — NÃO! — ele usou a outra mão para impedi-lo do ato. — Você não irá molhar as bolachas nessa porcaria, seu idiota! Isso não se faz! — ele auto repreendeu-se.

    No embalo da raiva, ele enfiou uma das bolachas na boca e começou a mastigá-la. Mesmo que o gosto não fosse o mesmo, ainda assim, aquilo era tão nostálgico. Sem tocar no leite, ele engoliu a seco. Dessa forma, não seria como um dia foi.

    — A textura, a cor, o cheiro e o sabor... Essa mera bolacha não se equipara àquelas caseiras que ela fazia! — lembrou-se apático. — Maldição... Do que estou falando? Essas aqui são muito melhores, MUITO mesmo! — ralhou consigo mesmo começando a comer os outros biscoitos doces.

    Quando já não havia mais nada dentro do pequeno pote de porcelana, o rapaz apanhou a bandeja, com o copo de leite de morango ainda intacto e a levou até a cozinha, despejando no ralo da pia o líquido cor-de-rosa:

    — Eu não gosto de leite! — murmurou jogando o copo de vidro sobre o mármore negro, fazendo-o estilhaçar.

    Colocou a bandeja sobre a mesa e a passos desajeitados voltou para o seu quarto.

    Dentro do cômodo ainda estava tudo escuro, o garoto fechou a porta e caminhou até a cama espaçosa que tinha, jogando-se desleixadamente sobre a mesma, para dormir.

    Era estranho, muito estranho... Os olhos negros, semicerrados, fitavam o nada na direção do abajur sobre o criado mudo, pensativos.

    Se aquele fosse um dia normal, ele teria ido trabalhar na empresa de seu pai; reunido-se com importantes executivos de diversos países; almoçado em algum restaurante requintado cinco estrelas e naquele exato momento em que se encontrava, alguma bela mulher estaria nua, deitada ao seu lado...

    Mas não! Definitivamente aquele dia não havia sido como o de costume, tampouco era o que ele esperava para uma segunda-feira.

    Porém, o dia já tinha terminado e não seria mais necessário pensar naquilo. Por hora, deveria apenas dormir e assim rapidamente o fez.

    (...)

    Pessoas e mais pessoas andando de um lado para o outro, embarcando e desembarcando dos metrôs que chegavam e saiam o tempo todo, parecendo que aquilo não teria fim. O forte cheiro de perfumes de diversos tipos misturava-se às fumaças de cigarro que, pelo caminho, ora ou outra a menina encontrava.

    Os olhos verdes, tímidos, percorriam atentos ao redor, olhando de baixo para o mundo situado acima. Alguns fios dos cabelos róseos compridos, aprisionados em uma trança única, escapavam pelas laterais unindo-se à franja volumosa, que agora longa, estava posta por detrás das orelhas delicadas.

    Baixinha, sentia-se ainda menor em meio a aqueles gigantes de expressões faciais sérias, indiferentes. A única coisa que lhe acalmava era o seu fiel amigo que, sempre ao seu lado, fazia-lhe companhia.

    — Né, Hoshi... Eu não fazia ideia de que aqui era tão grande! — ela argumentou se aproximando de um banco e sentando-se. — Bom! Nós pegamos o ônibus em Hinode e cá estamos na estação Musashiitsukaichi em Akiruno... — ela leu em uma das folhas de sua agenda. — A partir de agora, pararemos em mais algumas estações até chegarmos a Nakano! — ela terminou cansada. — Enfim, não podemos perder tempo... Vamos lá pegar as nossas fichas! — ela se levantou e pôs-se a andar ao lado do cachorro.

    — Hey, mocinha! — o homem uniformizado chamou-a, apanhando-a pelo capuz da blusa de frio bege. — Não são permitidos animais dentro dos vagões! — ele advertiu apontando para o cão.

    — O que? M-Mas senhor, eu não posso deixá-lo aqui! Ele só tem a mim e eu só tenho a ele... — os olhos marejaram e ela engoliu a seco, ameaçando chorar, sendo acompanhada pelo amigo canino que também estampou seus olhinhos pidões para o mais velho.

    — C-Calma, não p-precisa chorar! — o homem tentou acalmá-la. — Como agora é horário de pico, o metrô fica cheio... Portanto, espere até o próximo, que irá mais vazio! E é melhor que o seu amiguinho aí se comporte! — exigiu sem graça e voltou para detrás do balcão.

    — Nháaa, Hoshi... A missão “comover o moço da estação” foi cumprida com êxito! É isso aí amigão... Bate aqui! — ela comemorou secando as lágrimas e batendo uma das pequenas mãos na pata do cachorro que latiu em resposta. — Bom, agora é só aguardar... Espero que não demore muito! — murmurou preocupada, sentando-se em um banco próximo dali.

    Quase meia hora depois o metrô das oito horas chegou e após isso, passaram-se quase duas horas até o destino final da menina que era a estação de Nakano.

    — Oh céus... Já são quase dez horas da manhã! — ela comentou aflita, olhando para o pequeno relógio dourado em seu pulso. — Vamos, Hoshi! — chamou o cão e ao lado dele, desceu do metrô.

    Agilmente a menina retirou a agenda de dentro da bolsa e folheou até a página com as instruções marcadas.

    — Encontre-me em Nakano, estarei te esperando na estação... — leu a mensagem escrita no papel, mentalmente. — Ainda faltam dez minutos para as dez horas! Então ela ainda não deve ter chegado, mas espera... Como ela vai me achar? — indagou-se assustada olhando ao redor. — Esse lugar é imenso... Tem tantas pessoas! Estou me sentindo tão... — murmurou a garota desnorteada, sendo arrastada pela multidão com sua mala preta em mãos. — Eu estou perdida? — inquiriu-se procurando pela saída no meio daquele “bolo” de pessoas que caminhavam em direções distintas.

    Nisso, o cão que também era levado pelas ondas daquele mar de humanos, começou a se distanciar de sua dona e latiu, chamando a atenção dela:

    — Hoshi! — ela proferiu se atirando em cima do amigo e o agarrando. — Fique perto de mim! Eu não posso te perder! — ela pediu agoniada.

    — Olha só se não é a Ojou-sama! — admirou-se em tom de brincadeira, a mulher de longos cabelos loiros que surgiu como um anjo em meio à multidão, para salvar a garota perdida e seu valente cachorro.

    — Ino-san?! — ela pronunciou com os olhos cheios de lágrimas.

    — Vish... Você continua tão baixinha, Sakura... — contou a outra, incrédula.

    — P-Pois é... — ela riu um pouco sem graça. — Acho que ganhei o dia, com essa observação! — pensou emburrada, olhando para o lado.

    — Mas, né... Venha comigo! — apanhou a mão da garota e começou a puxá-la para fora daquele tumulto.

    — Hoshi! — ela enfiou o braço dentro da alça da mala e com a mão livre agarrou a coleira do cão, o levando junto com ela, para que ele não se perdesse.

    Depois de alguns minutos, finalmente conseguiram sair da estação. Então a bela mulher, alta, de longos fios de cabelos loiros, virou-se para a rosada:

    — Bom! A escola de música fica aqui perto... Dá para irmos a pé! — avisou esboçando um enorme sorriso.

    — Né, Ino-san... Arigatou... — agradeceu timidamente, com um leve rubor no rosto.

    — Ora, Sakura... Já te disse que pode me chamar apenas de Ino! — lembrou entediada. — Mas enfim, vamos! — começou a caminhar.

    — Certo! Vamos Hoshi! — ela pôs-se a andar ao lado da outra, sendo acompanhada pelo amigo canino.

    Quase quinze minutos depois, elas chegaram ao prédio enorme que era onde funcionava a tal escola de música.

    Os olhos verdes curiosos exploravam o lugar em seus mínimos detalhes. A fachada agradável constituída em azulejos carmim e intervalos brancos, realmente enchiam os olhos. O letreiro dourado metálico posto na parede sobre a entrada aumentava ainda mais a sensação de requinte do local.

    — Hoshi... Fique aqui! — ordenou para que o cachorro a aguardasse na porta e assim ele o fez.

    Em silêncio, retirou a sapatilha sobre o tapete e os passos tímidos, buscaram andar sobre o assoalho lustrado de forma que não fizesse um ruído sequer.

    — Para que tanto hesito? — a maior inquiriu andando normalmente sobre o chão, permitindo que o som dos seus passos ecoasse pelo lugar. — Está com medo? — sugeriu confusa.

    — S-Só um pouquinho! — confessou corada.

    — Relaxe... Tudo dará certo! — colocou a mão sobre o ombro direito da garota.

    — Você tem razão! — acalmou-se e respirou fundo.

    Chegando à sala da diretoria, a loira levou a mão à maçaneta dourada e abriu a porta. Por dentro era como um escritório comum, porém, as prateleiras postas aos cantos do cômodo, ostentavam diversos troféus, um mais lindo que o outro.

    A velha senhora, sentada à mesa lia alguns dos vários papéis que havia empilhado sobre a mesma.

    — Ohayou, Chiyo obaa-san! — saudou a garota estampando um enorme sorriso.

    — Oh, Ino-chan! — a mulher deixou de ler e voltou o olhar para a mais nova.

    — Olha só quem eu trouxe! — pegou nos ombros franzinos da menina e a colocou a sua frente. — Esta é a Sakura! — apresentou contente.

    — P-Prazer em conhecê-la! — inclinou-se levemente para frente, em forma de reverência.

    — Ora, ora, se não é a menina do piano de quem a Ino-chan tanto falava para nós... Aliás, ela falou muito bem de você! — contou calmamente.

    — A-Arigatou... — Sakura sorriu para Ino.

    — Bom! Vou deixá-las a sós! — a loira avisou, se retirando da sala.

    — Né, Sakura-chan! Sente-se aí... — a senhora apontou para uma cadeira posta de frente para a mesa.

    — Sim! — a menina obedeceu e fez o que a mais velha lhe indicara.

    — Bom! É o seguinte... — a mulher começou a explicar algumas coisas para a rosada.

    Quase vinte minutos depois, a jovem impaciente caminhava de um lado para o outro no enorme corredor da escola. Os longos fios dourados de cabelos aprisionados em um rabo-de-cavalo dançavam graciosamente com os movimentos dela. Foi então que a porta da diretoria finalmente se abriu e de dentro, a menina de cabelos róseos saiu com um tímido sorriso estampado nos lábios rosados:

    — Né, né, Sakura... Como foi? — perguntou morrendo de curiosidade.

    — Eu assinei o contrato! — respondeu alegre.

    — KYAH! — gritou agarrando a outra e a abraçando bem apertado. — Isso merece uma comemoração! — anunciou apertando-a ainda mais.

    — Ino-san... Assim eu irei morrer antes mesmo de começar a trabalhar! — murmurou com dificuldade, sendo asfixiada pela loira.

    — Yoshi! — soltou a garota que já estava vermelha e ofegante. — Já sei onde iremos comemorar! Tem uma cafeteria maravilhosa aqui pertinho! Ah... Aquela torta de morango... — comentou com os olhos brilhantes, imaginando o doce.

    — Ino-san, digo, Ino... Eu não posso... — foi interrompida.

    — Nháaa! Vamos agora mesmo! — apanhou a mão de Sakura com uma de suas mãos e com a outra pegou a enorme mala preta. — Vamos lá! — saiu correndo em alta velocidade da escola de música.

    — HOSHI! Socorro... — com os olhos cheios de lágrimas, desesperada, gritou para o cão que começou a correr atrás delas.

    Cinco minutos depois...

    A garota baixinha transtornada, sentada encolhida na cadeira posta à mesa, observava a outra deliciar-se com a bendita torta:

    — Que medo... Eu pensei que fosse morrer! — pensou traumatizada com a loira que, antes elegante, agora parecia uma completa maluca aos seus olhos.

    — Né, Sakura... Essa torta é uma delícia! Pode comê-la sem medo! — a jovem avisou, notando que a rosada sequer tinha tocado na colher.

    — S-Sim, eu irei comer... Obrigada! — esclareceu apanhando a colher e levando um pedaço à boca. — Nossa, é realmente uma delícia! — concordou com a loira.

    — Sim, sim... Mas agora me conte! Quero saber sobre o que vocês conversaram em seus mínimos detalhes! — pediu a garota se posicionando bem sobre a cadeira.

    — Ah... Sim! — Sakura depositou a colher sobre o prato. — Ela me contou que professores de piano estão em falta na escola, principalmente no período da tarde que, aliás, é justamente o horário que ela estipulou no meu contrato! — finalizou esboçando um leve sorriso.

    — Só isso que vocês falaram? — indagou desapontada.

    — Bom... Na realidade, conversamos também sobre a minha finada mãe! Pois ela era uma pianista e a Chiyo-sama já tinha ouvido falar dela... Acho que foi só isso! — expôs contente.

    — Hum... Mas me conta uma coisa! Porque você já veio de malas prontas e com um cachorro? — perguntou curiosa e confusa.

    — N-Nossa, obrigada por ter dito isso... Pois já estava me esquecendo! — levantou-se rapidamente da cadeira, pegou a carteira dentro da bolsa e colocou sua parte em dinheiro sobre a mesa. — Não posso perder tempo... Tenho que ir a uma imobiliária urgentemente! — comentou apanhando a enorme mala preta. — Vamos Hoshi! — chamou começando a andar.

    — Espera... — a loira segurou o braço da rosada. — Você já veio de mudança pra cá? — inquiriu incrédula.

    — Não exatamente... Sinceramente, não sei por onde começar a explicar! — engoliu a seco.

    — Pois comece do começo, ora... Sente-se aí e me conte! — exigiu irritada.

    — Tudo bem! — suspirou entristecida. — Mas essa será uma longa história! — alertou acanhada. — Bom... Tudo começou no domingo quando a “amável” síndica do prédio onde eu morava... — ironizou começando a apresentar detalhadamente sua vida difícil.

    Vinte minutos depois...

    — E é isso... Cá estou eu agora nessa cidade que desconheço! — argumentou enfadada e se levantou. — Né, Ino-san... Agradeço de coração por tudo o que fez por mim! Agora tenho de ir procurar por um lar! Então se me der licença... — começou a caminhar outra vez e foi interrompida novamente pela maior que também se pôs de pé.

    — Sakura, se não se importar... Eu já sei onde você pode ficar! — informou com um sorriso suspeito nos lábios.

    — O que? V-Você sabe de alguma casa que eu possa alugar? — perguntou aliviada.

    — Sim, sim! Você vai morar comigo! — contou alegremente.

    — C-Com você? — inquiriu surpresa.

    — Sim, eu e mais uma colega moramos em uma casa alugada em Asaka, Saitama! E como lá é grande, seria perfeito para você morar... — explicou contente. — Fora que, né... Rachar o aluguel em três... Irá aliviar bastante os nossos bolsos... — murmurou comemorando mentalmente.

    — Hum... Só que, Ino-san, eu tenho o Hoshi... Não vai ser um problema? — indagou temerosa, apontando para o cão.

    — Que nada, a colega lá de casa cria todos os gatos de rua do nosso bairro e mais um pouco dos bairros vizinhos! Mais um gato ou menos um gato não fará diferença! — mostrou um jóia sapeca para a menina.

    — Entendo... Só que Hoshi não é um gato! Ele é um cachorro! — advertiu incrédula.

    — Ah... Cão, gato, rato, pato... É tudo a mesma coisa, então dá na mesma! — expôs divertida dando tapinhas no ombro da menor.

    — N-Não Ino-san, eles não são a mesma coisa... — murmurou olhando para o lado.

    — Quem liga? Vamos! Quero te mostrar logo a nossa casa! — apanhou a mão delicada da garota que segurava a mala, deixou sua parte em dinheiro sobre a mesa da cafeteria, com a outra mão pegou na coleira do cão e começou a correr a todo velocidade na direção da estação do metrô.

    Depois de quase uma hora de viagem, elas chegaram ao destino final, Asaka.

    A pé, o caminho até a casa que iria se tornar o seu novo lar mostrava-se um tanto prazeroso. O ar fresco era agradável e na medida em que as horas passavam, as ruas esvaziavam-se mais e mais, dando espaço apenas para os ruídos dos pássaros que habitavam os grandes arvoredos espalhado pelas casas e nas pequenas praças, por onde andavam.

    — Pronto... Chegamos! — a loira avisou abrindo o portão.

    A casa era bem ao estilo ocidental, assim como era a maioria das residências da vizinhança. O exterior em cor azul-escuro era bem chamativo e bonito, dando a impressão de “casa recém-pintada”.

    Adentrando timidamente o primeiro cômodo os olhos verdes curiosos observavam atentamente as características daquele ambiente novo. O escuro assoalho que estava um pouco embaçado era um bom contraste com as paredes em cores claras.

    — E aí? O que achou? — inquiriu chamando a atenção da garota que ali explorava.

    — É realmente grande... Uma bela casa! — elogiou esboçando um sorriso.

    De repente o silêncio da residência foi quebrado por uma voz familiar...

    — Neko... Kuroneko... Nekoneko! — gritava a menina desnorteada. — Onde estão vocês? — inquiriu caminhando de forma desajeitada pelo corredor. — Você viu algum deles por aí? — perguntou parando na soleira da porta e olhando para Ino.

    — Haha... Quanta criatividade ela tinha quando nomeou os bichinhos, né? — indagou com ironia, a loira olhando para o lado.

    — Sim, sim... São nomes realmente muito lindos! — confirmou com os olhos brilhantes, inocente.

    — S-Sério Sakura? Você não sentiu o meu sarcasmo? — inquiriu incrédula.

    — Hãn? — olhou-a confusa.

    — Esquece! Olha, essa daí é a colega que te falei... Hinata! — apresentou alegre.

    — Ora, eu me lembro de você... Era a menina que todos chamavam de Ojou-sama na escola! — exclamou suavemente, a jovem de longos cabelos negros, pensativa. — Não sei se você se lembra de mim, mas sou Hyuuga Hinata... Prazer! — curvou-se em reverência.

    — Sim, eu me lembro de você! Sou Haruno Sakura, o prazer é todo meu! — cumprimentou também.

    — Ah... Que nostálgico! — comentou a loira inebriada pelas lembranças.

    — Mas né, é uma pena que não fomos amigas da Sakura-chan na escola! — expôs a morena.

    — Sim! Ela era tão calada... Eu tinha um certo receio em me aproximar dela! — completou a outra. — Mas depois que ouvi sobre a trágica história de vida da nossa princesa baixinha, eu até entendo um pouco do que se passava nesse coraçãozinho despedaçado pelas malvadezas do destino! — abraçou a menor, acariciando-lhe os cabelos.

    — S-Sinto muito por isso... — desculpou-se olhando para o lado.

    — É... Porém, eu tenho certeza de que iremos nos dar muito bem! — a garota sorriu simpaticamente.

    — Isso mesmo, a Hinata tem toda razão! Faltam apenas três semanas para começarmos um novo ciclo de nossas vidas! Isso mesmo... A Universidade nos aguarda e assim sendo, dessa vez seremos melhores amigas! — finalizou pegando na mão da morena e a puxando para o abraço coletivo.

    Sakura nada proferiu, pois naquele momento encontrava-se encabulada. Aquela era a primeira vez em muito tempo que sentia-se acolhida, como se finalmente fizesse parte de uma família. Os olhos verdes marejados fecharam-se doloridos derramando algumas lágrimas, entretanto, daquela vez não eram lágrimas de dor, mágoas, tristeza, tampouco era algum sentimento negativo. Eram lágrimas de felicidade, como há muito tempo não sentia.


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