- Até mais pai! ? disse Nara pegando sua bolsa que estava no sofá
- Até mais filha! Não vai dar tchau para teu irmão? ? disse meu pai enquanto tomávamos café.
- Hum! Tchau. ? nem olhou na minha cara e saiu
- O que houve entre vocês?
- Nada. Se aconteceu algo eu não sei. ? eu menti, era melhor assim
Meu dia começou desta forma, minha irmã já me tratando feito um carrasco, meu pai me questionando e Murilo... não sei dele. Mas só de me lembrar de ontem me faz ficar muito...
? Lembranças da ultima noite
- Você está louco garoto? ? Nara gritou comigo enquanto estava no chão
Quando dei conta de mim eu tinha empurrando minha irmã no chão e estava ofegante, muito nervoso. Por que diabos eu defendi ele? O que eu fiz? E agora, precisava sair daquela enrascada. Não sabia o que dizer. Então me veio uma luz, uma ideia que poderia me tirar daquela fria no momento.
- Como assim eu estou louco? A louca aqui é você! ? fui falando mais alto ? Como você tem coragem de ficar se agarrando com macho dentro da nossa casa? Você não tem respeito por nossa família? Não tem respeito pelo nosso pai. ? à medida que falava chega mais perto dela, queria demonstrar indignação.
Nara ficou muda, parecia que não sabia o que dizer, ficava olhando pra mim como se estivesse admirada. E realmente estava, acho que jamais imaginaria que eu gritaria daquela forma com ela. Logo ela que sempre era tão adorável comigo, era sempre tão compreensiva. Murilo se manifestou.
- Eu vou embora. ? deu um beijo no rosto de minha irmã que permanecia me olhando muda e saiu do quarto
- Err... Nara... eu... ? aquele jeito dela me olhar me fez gaguejar, fiquei intimidado com aquele olhar, que olhar era esse?
- Sai daqui! ? disse de forma seca, levantando-se
- Olha Nara... ? fui em sua direção tentando ajudá-la
- Sai daqui! Some da minha frente! Desaparece! ? começou me empurrar para fora do quarto, gritando, me batendo
Antes que eu pensasse entrar no quarto outra vez ela fechou a porta de uma vez. Do lado de fora eu conseguia ouvir-la dar socos na parede, jogar coisas no chão, e chorar, chorava muito. Eu nunca vi ou se quer ouvi minha irmã chorar, isso era algo novo para mim. O que ela sentia por ele homem era tão forte assim, ou foi por que me alterei com ela?
- Não precisava falar daquela forma com ela. ? Murilo não tinha ido embora e estava falando comigo
- Hã? O que? ? fiquei surpreso dele ainda estar ali ? Eu realmente peguei pesado.
- Fez isso tudo pra me defender? Me quer tanto assim que não permite mais ninguém me tocar? ? disse olhando nos meus olhos em tom desafiador
- O que você está dizendo? Eu simplesmente queria que ela tivesse respeito por nossa casa. E...
Antes que eu pudesse terminar de falar ele me encostou à parede e ficou frente a frente comigo, colocando as mãos na parede me encurralando. Eu o bati com força e corri para meu quarto, tentei fechar a porta, só que ele era mais forte que eu e a empurrou. Fui parar no chão, antes que pudesse me levantar, Murilo entrou no quarto, fechou a porta, e veio ao encontro no chão. E... me beijou.
Aquilo era deslumbrante, eu estava anestesiado com o sabor daqueles lábios, meu corpo estava pegando fogo com aquela sensação. Como pode um beijo ter tanto poder sobre mim? Mas não é o beijo, é ele, Murilo. Era ele que tinha poder sobre mim.
Me dei conta do que estava fazendo e agredi aquele que me tomara um beijo. Acertei-lhe um soco na barriga, na qual fez nosso beijo parar. Murilo ficou um pouco com as mãos na barriga, parecia sentir dor. Levantei-me e abri a porta.
- Vai embora. ?única coisa que eu consegui dizer
Confesso que teria ficado feliz se ele tivesse me dito que estava arrependido pelo o que fez, ou tivesse fingido estar arrependido, ou pelo menos ter dito alguma coisa, qualquer coisa. Mas simplesmente ele saiu do quarto sem dizer nada, e o que mais me deixava assustado eram que estava estampado na cara dele que não tinha feito aquilo por impulso, e se pudesse faria de novo.
? Fim das lembranças da ultima noite
Mesmo eu não querendo ver Murilo hoje, as lembranças de ontem me deixam feliz. Eu disse ao meu pai que não ia a escola hoje, pois estava sentindo um mal estar. Ele concordou que eu ficasse em casa, porém eu menti, eu estava me sentindo muito bem, melhor do que nunca. Aquele beijo mexeu comigo, e de certa forma fez meus pensamentos se ordenarem. Eu realmente estava gostando de Murilo. E não me importo mais que somos homens, não tenho como negar, eu gosto dele. Mas o que ele sente por mim?
Passei o dia todo pensando naquele homem, que sequer pisou os pés naquela casa o dia todo. Coisa muito rara ele não aparecer em momento algum, já era noite e meu pai perguntava de Murilo e de Nara também, outra que não deu as caras desde que saiu pra trabalhar.
Onze minutos depois ouvimos o barulho do portão, olhei da janela e era minha irmã. Pensei que a garota estaria brava e me trataria na patada, mas pelo contrário, amigavelmente falou comigo e com nosso pai, jantou conosco, era como se nada tivesse acontecido. Depois fomos juntos para nossos quartos. Lá fiquei pensando o que havia com ela. Minutos depois a mesma bateu em minha porta e entrou.
- Podemos conversar um pouco! ? disse a mim sorrindo
- Ah claro! ? eu disse feliz
Eu estava sentado na cama e ela deitou-se colocando a cabeça em meu colo. Fiquei acariciando seus cabelos. Nara era assim, sempre gostou de receber certa atenção, eu como bom irmão sempre dei o carinho que podia. Era um costume nosso algumas noites ela vir em meu quarto e deitar a cabeça em meu colo, e conversamos o resto da noite. Éramos muito amigos e isso agradava ambas as partes.
- Nando! Quero me desculpar por ontem. Você estava certo eu não devia ter feito aquilo. ? disse de forma serena e arrependida
- Está tudo bem. Eu também quero pedir desculpas, fui muito duro com você.
- Mas de certa forma foi bom, eu precisava ser repreendida. Não foi certo o que eu fiz. Só por que eu amo aquele homem não posso fazer tudo o que desejo.
Quando escutei a palavra amo sair da boca dela estremeci.
- Fernando o que foi você ficou gelado de repente.
- Nada, só não estou me sentindo muito bem. ? essas palavras saíram quase que cuspidas
- Papai disse que você não estava bem. Vou deixar você descansar. ? levantou-se e foi em direção a porta - Antes que eu me esqueça amanhã virá um colega de trabalho aqui em casa comigo à tarde, e relaxa eu não vou fazer nenhuma besteira com ele aqui não está bem, não irei te decepcionar. ? saiu do meu quarto depois de me desejar boa noite
Eu estava estático, ela disse que o ama, o que eu vou fazer? O que eu posso fazer? Então aquele olhar era de uma pessoa que esta amando? E o que aconteceu com Murilo? E como será essa figura que virá aqui amanhã? Essas foram as ultimas coisas que pensei antes de adormecer.