Malice in Wonderland

  • Finalizada
  • Teruque
  • Capitulos 3
  • Gêneros Darkfic

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

    16
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Time Up

    Drogas, Suicídio, Violência

    Eu sou mesmo um irmão horrível. Nem quando resolvo fazer algo pra ajudar, consigo fazer com que dê certo...

    Na verdade não sei nem quanto tempo fiquei desacordado. Muito menos se quero saber.

    Se estou em um quarto, devidamente tratado. Então não se passou tão pouco tempo assim. E também não foi nenhum deles que fizeram isso.

    - Finalmente acordou. ? escutei uma voz ao meu lado, virando-me com certa dificuldade. Meu corpo não parecia responder. ? Se eu fosse você não me esforçaria tanto. Está nessa cama há uma semana por conta dos medicamentos.

    Uma semana... Muita coisa pode acontecer nesse curto tempo...

    Não sei se quero saber da realidade...

    - Foi você Yutaka...? Você que cuidou de mim esse tempo?

    - E quem mais seria? Se ficasse nas mãos de qualquer outro você não teria acordado ainda. Aliás, pensei que Akira iria te matar. No final parece que ele ficou com pena.

    - Pena? ? ri internamente. ? Se ele tivesse me matado teria perdido quem mais gosta de provocar.

    - Isso é fato. ? concordou rindo.

    - O que aconteceu... Com Ruki...? ? mesmo não querendo perguntar, eu precisava saber.

    - Ele sobreviveu ao castigo de choque. ? me senti um pouco mais tranqüilo ao ouvir isso. ? Porém... ? pausou e isso apenas me preocupou ainda mais.

    - ?Porém? o que?

    - Após o castigo, Ruki acabou se tornando ainda mais agressivo e violento. Não aceitava que ninguém se aproximasse dele. E claro, ele não está morrendo de amores pela diretora.

    - O que ela fez? ? tentei novamente me levantar, sem sucesso.

    - Eu disse para não se esforçar demais. ? me alertou novamente me ajudando ao menos sentar-me na cama. Sinto que demorará um pouco mais que imaginei para recobrar os movimentos.

    - Me diga o que aconteceu com meu irmão. ? pedi novamente. O Vi suspirar pensativo, como se não quisesse falar. ? Yutaka, por favor, fale. ? eu queria ao menos manter a calma.

    - Claro que a diretora não deixaria impune o novo comportamento do garoto. Então apelou para lobotomia, como a única saída de aquietá-lo.

    - O que?! Ela enlouqueceu de vez?! Isso... Isso é uma cirurgia de risco!

    - Eu sei okay! Mas o que queria que eu fizesse? Eu era apenas o psicólogo de seu irmão. Na verdade nem era pra eu estar cuidando de você.

    - Não estou te culpando... Mas... ? lobotomia é uma cirurgia de extremo risco. As chances de o paciente vir a falecer são maiores que acabar em sucesso. Agora imagine uma criança passando por isso.

    - Você está certo em se preocupar. Afinal Takanori era o seu irmão. ? ?era?, ouvi-lo falar no passado apenas me desesperava, porém eu tentava não demonstrar.

    - Yutaka... Não me diga...

    - Talvez seja melhor você mesmo vê-lo. ? então ele ainda está vivo... ? E depois sair logo daqui. Eu sumirei logo também, apenas vim lhe informar dos acontecimentos.

    - Se vai? Mas eu pensei...

    - Eu só continuei nesse lugar por causa do seu irmão. Assim como você, eu gostava das historia que ele contava. Ajudava a esquecer do inferno que é esse lugar.

    - Então por que está indo embora? Meu irmão ainda está vivo, não é?

    - É porque não se tem historia sem palavras. ? respondeu. ? Eu encontrei seu diário também. Vi que anotou cada palavra tida por Takanori e fez umas comparações bem interessantes. Daria um bom livro futuramente.

    - Não quero lucrar com as alucinações de meu irmão!

    - Calma. Foi só uma idéia. ? deu de ombros. ? Afinal a ?Rainha Branca? não virá buscá-lo, pelo menos não de onde está.

    - O que quer dizer? ? indaguei e Yutaka apenas me entregou um jornal de algumas semanas atrás. ? O que é isso? Como conseguiu?

    - Eu posso sair e entrar a hora que quiser, lembra? Não sou paciente. ? suspirou ? Apenas leia a noticia em destaque.

    Assim como sugeriu, apenas passei o olho rapidamente pelo titulo: ?Mais uma morte sem explicação. Um novo suicídio??

    O titulo não era tão surpreendente depois dos anos que passei nesse lugar. Mas foi a foto da tal vítima que me chamou a atenção.

    - Yutaka... Diga-me que isso é só uma brincadeira de mau gosto.

    - Bem que eu gostaria... Pelas informações que consegui recolher e que o jornal ocultou. Tudo leva a acreditar que a situação apenas piorou depois que você e Takanori vieram para cá. Ela não agüentou a pressão de ter dois filhos ?doentes? e nem os insultos e ameaças.

    - Então... ? é por isso que ela nunca veio. E eu também não tive nem a capacidade de ir vê-la, reconfortá-la. Dediquei meu tempo só a Takanori e nem ele pude ajudar. Perdi minha família e sou o único culpado. Eu simplesmente não fiz nada.

    - Eu sinto muito Kouyou...

    - Sentir muito não vai corrigir nada... Mesmo assim obrigado... Você ainda tentou me fazer ?acordar?...

    - Ainda quer ver seu irmão? Apenas esteja ciente que o estado dele...

    - Sim... Já até imagino. ? o interrompi ? Mas... Uma última vez...

    Por mais que todas as historias loucas de Ruki fossem nada além de fantasia. O final não é um conto de fadas. A realidade é amarga.

    - Te ajudarei a levantar. ? se ofereceu como apoio para mim. Minhas pernas reclamaram nos primeiros instantes que tentei me colocar de pé. Demorando a se acostumarem com meu peso. ? Consegue andar?

    - Acho que sim...

    Os primeiros passos foram como de uma criança que estava aprendendo a andar, cambaleando.

    E fiquei assim só com uma semana sem me mover...

    Imagino como seria se esse tempo fosse mais longo.

    Yutaka ainda me guiou pelos corredores enquanto todos os outros pareciam me ignorar.

    Tecnicamente eu era um ?traidor?, então era óbvio ser evitado. Ninguém queria ficar na mira da diretora.

    - Senhor Kouyou. Está vivo. ? uma voz tanto alegre vinha do quarto pelo qual passávamos. ? Como vai Ruki? Sinto falta de sua companhia e nossas conversas...

    - Yuu...? ? o famoso Chapeleiro que tanto animava Ruki. Ele não parece louco. Se não fosse sua personalidade conturbada não teria o porquê estar aqui. ? Não acho que ele vá voltar... ? senti lágrimas querendo escorrer por meu rosto.

    - Oh... Isso é uma pena... ? ele pareceu triste, porém sorria para mim. Seria numa tentativa de me consolar.

    - O coelho logo deixará de correr... ? ao canto vi a Lebre. A garota que dividia o quarto com Yuu. Sempre deprimida em seu canto.

    - Kouyou... Vamos. ? Yutaka me puxava para chamar minha atenção.

    Não me despedi devidamente daqueles dois e nem sabia como realmente agir.

    Deixei apenas que Yutaka continuasse me guiando até o quarto de Ruki, parando na porta. Permitindo que só eu entrasse.

    - Hey... Ruki... ? chamei meio hesitante. Não recebendo nenhuma espécie de resposta nem reação. Ele só ficava ali. Inerte. Encostado a parede, olhando pela janela. Completamente para o nada. ? Ruki... Sinto muito Ruki... Eu... ? as lágrimas que segurei até aquele momento começaram a escorrer descontroladamente. ? Sinto muito... Eu não queria... Não queria que chegasse nesse estado...

    Era como estivesse em ?coma?. O corpo estava ali, vivo. Porém vazio.

    Sem sorriso, sem brilho, sem voz.

    - Kouyou...

    - Por que Yutaka? Por que fizeram isso com ele? Uma criança...

    - Eles não vêem diferença aqui.

    - Eu não posso dizer isso por menos. Eu...

    - Kouyou já chega. Acabou.

    - Não... Eu perdi tudo...

    - Você ainda está vivo Kouyou.

    - Vivo? Não me sinto em uma situação muito diferente de meu irmão. Esse lugar me matou.

    - E o que vai fazer?

    - Eu... Eu não sei...

    - Você precisa de um lugar pra ficar. Por um tempo. Posso te ajudar.

    - Obrigado... Mas não posso deixá-lo... Mesmo nesse estado.

    - Kouyou... ? me segurou pelo ombro para que eu o encarasse tempo suficiente para acertar meu rosto. ? Desculpe por isso, mas você precisava acordar. ? estava surpreso demais para ter qualquer reação além de levar minha mão até o local dolorido. ? Você viveu demais por ele, fez o que pôde. Mas momentos nenhum o vi realmente vivendo. Kouyou, você ainda pode sair daqui e é formado em enfermagem. Consegue ter uma vida melhor. Aqui acabou. ? o problema de Yutaka é que ele era totalmente realista. Jogava toda a verdade na cara, indiferente do quanto doeria. ? Podemos fazer bem mais fora daqui. E você tem provas no próprio diário.

    - Me ajude Yutaka...

    - Eu estou aqui para isso. ? sorriu como tentasse me dar forças.

    - Então parece que isso é um adeus, Ruki...

    Antes de sair daquele inferno e deixar tudo para trás, eu precisava fazer uma ultima coisa.

    Enquanto Yutaka persuadia a diretora em me liberar sem nenhuma nova ameaça, eu busquei por Suzuki para devolver o ?favor? da última vez.

    Ele ainda estava com aquela faixa esquisita sobre o nariz, não que eu me importasse. Mas serviu como alvo para meu primeiro ataque.

    - Tenha isso como um ?presente de despedida?.

    - Você ir embora? ? riu nem parecendo ter sido surpreendido. ? Acha mesmo que poderá sair? E mais, vai deixar seu irmãozinho para trás?

    - Sim Suzuki. Takashima virá comigo. ? Yutaka se juntou a conversa com uma calma que só ele possuía. ? E aproveite seus últimos dias, pois esse lugar está com os dias contados.

    - Acham mesmo que alguém acreditará em vocês?

    - Com as provas certas sim. ? o bom que Yutaka não se deixa abalar. ? Está pronto para ir Kouyou?

    - Só tem mais uma coisa que desejo fazer. ? ditei aproveitando que Suzuki ainda estava ao chão por causa da surpresa anterior. E lhe atingi um chute no estomago. ? Isso não chega nem perto de tudo que fez ao meu irmão, mas já alivia um pouco minha alma. O resto virá quando eu finalmente te ver preso.

    - Vamos Kouyou. ? Yutaka chamou mais uma vez. E agora o segui deixando um inferno para trás junto com uma parte um dia muito importante para mim.

    Recomeçar foi difícil.

    Conseguir finalmente fechar aquele lugar deu mais trabalho que o esperado, mas não impossível. Assim que todas as provas foram confirmadas com verídicas, aquele inferno teve fim.

    Os pacientes ainda vivos foram transferidos para onde pudessem ter a devida atenção.

    Suzuki agora sofreria o mesmo ou até pior na mão dos novos ?colegas? de cela. Nada mais justo por conta de seus atos.

    Aquela diretora doentia foi isolada. Longe de tudo. Uma pequena solitária sem janelas reservada apenas para aquela pobre alma perdida. Alguns dizem que ela apenas acabou de enlouquecer. Mas sinceramente não me interessa o que lhe aconteceu. Todo o sofrimento ainda é pouco para ela.

    Quanto ao meu irmão... Apenas acabou de morrer muito antes de conseguirmos por abaixo aquele lugar.

    Por conta de seu estado, teve o corpo devastadoramente abusado, tanto que acabou por ter hemorragia interna devido à violência empregada em um ato de estupro.

    Não preciso nem dizer o nome do responsável e nem quando exatamente isso ocorreu.

    Mas como fiquei sabendo disso mesmo estando longe daquele lugar?

    Shiroyama Yuu me contou tudo desde minha ?demissão?

    Aliás, eu continuei minha profissão como enfermeiro cuidando de pessoas digamos... ?Especiais? e Yuu acabou se tornando um de meus pacientes favoritos. Mesmo com suas crises de personalidades ainda era uma boa pessoa. Finalmente pude entender por Ruki gostava tanto dele.

    Sai da casa de Yutaka depois de me ajeitar, porém ele sempre vinha me visitar para ter certeza se eu ainda estava reagindo bem.

    Muitas pessoas ainda me evitam por eu ficar perto daqueles com ?problemas?. Mas já não me importo.

    Perto da realidade que aqueles que se consideram normal vivem. Ser louco parecia a única maneira de ser feliz.

    Aliás...

    Aquelas histórias marcadas em meu diário repercutiram em contos infantis.

    Todos precisam de fantasias para conseguir viver nesse mundo.

    Por mais que neguem todos precisam sonhar para ao menos sobreviver...

    "Eu não posso viver em um conto de fadas de mentira..."

    "Eu me sinto tão livre agora

    Não irei desistir, pois estou orgulhoso de minhas cicatrizes

    E eu posso ver que estive desperdiçando muito tempo."


    Somente usuários cadastrados podem comentar! Clique aqui para cadastrar-se agora mesmo!