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Fanfic também postada no Spirit
E a primeira que posto por aqui :3
(ainda estou me acostumando com o site...)
Acredito que a imaginação é a melhor defesa que possuímos nessa vida.
Sempre que nos sentimos sufocado com a realidade podemos buscar refugio em nossas próprias mentes.
Talvez seja isso que tenha mantido meu irmão vivo até hoje. Sua doce e inocente imaginação.
Tenho o visto raramente, aliás...
Desde que foi descoberto que o pequeno sofria de esquizofrenia¹ nossa mãe se sentiu pressionada a interná-lo em um sanatório que havia prometido cuidar dele. Porém ela nunca teve coragem de vir visitá-lo. A culpa por tê-lo ?abandonado? em um lugar tão horrível como esse ainda a corroía por dentro.
Imaginem como é para uma criança de apenas onze anos ficar sobre efeitos de fortes drogas apenas para não dar trabalho.
Eu queria poder tirá-lo desse lugar, mas não tenho poder para isso.
Na verdade eu nem deveria poder vê-lo. Visitas são proibidas. Apenas tenho essa permissão especial porque sou formado em enfermagem e escolhi trabalhar aqui apenas para poder ficar perto de meu irmão.
Infelizmente até eu corro o risco de enlouquecer se continuar muito mais tempo nesse inferno.
- Ruki...? ? ao abrir a porta do quarto lentamente, o chamei pelo apelido que o próprio havia escolhido. Era raro o encontrar acordado, mais raro ainda o encontrar são, fora dos efeitos de algumas daquelas drogas de origem duvidosa.
- Onii-chan... ? sorriu minimamente a me ver e então terminei de adentrar no quarto. Puxando uma cadeira e sentando-me próximo ao leito que o pequeno se encontrava.
Mesmo diante a todos os seus problemas. Ruki e eu éramos extremamente próximos. Ele confiava em mim.
- Como se sente hoje Ru-chan? ? perguntei e ele sorriu sentando-se sobre a cama e com o olhar bem distante dali.
Sonhando acordado mais uma vez...
Mais historias para eu registrar em meu diário...
- Cansado... E curioso...
- Curioso? ? voltei a indagar e ele assentiu.
- O que há do outro lado dessa toca...? É tão escuro... Não consigo enxergar... E porque o coelho está sempre atrasado...? Não importa o quanto corra... Parece nunca chegar... ? cada palavra que ele dizia eu anotava em meu caderno. Buscando uma forma coerente de interpretá-las, porém muitas vezes eu preferia poder manter as mesmas alucinações.
Mesmo trabalhando ali por ele, eu evitava vê-lo, pois me sentia mal e completamente culpado. Ele imaginava um mundo de sonhos naquele inferno.
- Desculpe por vê-lo raramente...
- Tudo bem... O Chapeleiro e a Lebre me fizeram companhia... Até me convidaram para um chá.
- Fez amigos então? Isso é bom. ? sorri tentando não transparecer minha culpa.
- Sim... O Chapeleiro sempre me conta historias sobre outros mundos... Mas ele é meio louco às vezes... E a Lebre... Ela me dá medo... Mesmo nunca tendo me ferido... Também tem os irmãos Tweedledum e Tweedledee... Mas não gosto deles... Sempre falam de uma maneira estranha... Até o Gato me mandou evitá-los...
- Gato?
- Sim... O Gato de Cheshire... Sabe o porquê desse nome? Ele sempre está sorrindo. Eu não sabia que gatos podiam sorrir... Mas... Eu não o entendo... Ele sempre sorrir e eu acabo confiando nele... Depois some... E eu me sinto mal e dolorido...
- Eu não quero que você fique perto desse gato.
- Por que...? Ele também é meu amigo... ? não Ruki... Você não percebe a gravidade do problema.
- Quem eu não gosto é a Rainha Vermelha... Ela gosta de fazer maldade com todos que a contrariam... E inventa problemas apenas por diversão... Tenho pena dos Naipes que estão sobre suas ordens... E o Rei... É um idiota... E morre de medo da Rainha...
- Ruki... Eu...
- Onii-chan não acredita em mim, não é...? Vai dizer que estou louco também?
- O que? Não... Quem lhe disse isso?
- A Lagarta Azul... Ele Sempre diz que eu imagino essas coisas e que não é nada assim... E que não tenho mais para onde voltar...
- Ruki...
- Mas eu ainda vou sair daqui... Só preciso esperar a Rainha Branca voltar... Sei que ela me levará para casa... Não é onii-chan?
- Si... Sim... ? não gosto de mentir para ele, mas lhe contar a verdade parece ser uma maldade ainda maior...
- Talvez eu leve comigo uma daquelas poções de crescimento... Assim ninguém mais me chamaria de baixinho...
- Ruki... Eu preciso ir...
- Mas já?
- Sim querido... Você precisa descansar e eu... Bem... Eu preciso conversar com a Rainha Vermelha... Convencê-la a não machucá-lo.
- Onii-chan a enfrentaria por mim? ? apenas assenti. ? Obrigado onii-chan... Mas cuidado...
- Eu tomarei... Agora descanse... ? depositei um singelo beijo em sua testa e ele voltou a se deitar na cama.
Apenas me retirei do quarto pensativo. Encaixando cada um dos personagens que ele me contara com as próprias pessoas que frequentavam aquele local.
A história era sempre a mesma e os personagens eu já conhecia bem...
A toca escura é, na verdade, uma janela de seu quarto, a única coisa que lhe daria visão se não fosse pelo muro alto que lhe ?escurecesse?, sem poder sair daquele quarto e nem olhar como é o mundo a sua volta.
O coelho branco representava o tempo. Aquele tempo que ele desejava que passasse logo, para que um dia pudesse sair daquele lugar. O tempo que ele via passar tão rápido, porém tão lento? O coelho que sempre corre, mas nunca chega...
O Chapeleiro Maluco, era outro interno, Shiroyama Yuu, e Ruki o tinha como seu melhor amigo. Alguém que deixava sua vida naquele lugar menos amargurada quando eu não o visitava. Era com quem criava várias teorias de como seria a vida lá fora.
Porém o rapaz, em realidade, sofria de Síndrome Bipolar, por isso a personalidade dele se mostrava ora alegre, ora depressivo, ora calmo, ora irritado. Por isso Ruki dizia que ele era meio louco...
A Lebre era uma menina que dividia o quarto com Yuu. Ela sofria de depressão profunda, e todas as vezes que Ruki teve contato com ela, encontrou-a num estado de terror e paranoia.
Tweedledum e Tweedledee eram na verdade gêmeos siameses órfãos, que também estavam largados naquele lugar. Embora não possuíssem nenhum problema mental que justificasse sua internação, a aparência que tinham era assustadora, por isso foram reclusos. Ninguém os queria por perto...
O gato de Cheshire é apenas Suzuki Akira, um dos enfermeiros, em quem Ruki sempre confiou, mas acabou por enganá-lo e violentá-lo. E o suposto sorriso do gato era na verdade o sorriso obscuro que seu agressor abria, cada vez que lhe abusava, e o deixava jogado em um canto de sua acomodação, derrotado, triste e ofuscado.
Quantas vezes já entrei em confronto com esse idiota por causa de tudo que fazia meu irmão sofrer. Porém esse demônio está sobre o ?manto? da ?Rainha?. Nada que eu diga ou faça irá mudar alguma coisa. No pior dos casos posso ser dado como mais um louco, fruto de uma linhagem ruim. E, assim como meu irmão, ser acusado por algum tipo de problema mental... Por essa razão continuo sofrendo calado e desejando poder arrancar o sorriso daquele cara algum dia.
Aliás, a Rainha Vermelha é a diretora do sanatório. Uma mulher má e desprezível, que não sentia sequer um pingo de compaixão para com os enfermos que estavam sob seus cuidados. Era a favor da terapia de choque e da lobotomia², e por diversas vezes ordenava que os funcionários espancassem, sedassem e prendessem em jaulas os enfermos que apresentavam comportamento que não lhe agradavam.
Uma mulher doentia e mal amada. Dentre todos, ela era a que mais precisava ser internada.
O Rei era o médico psiquiatra do local. Alguém com complexo de inferioridade e completamente incapaz de se opor às ordens da diretora.
Os Naipes não passavam de outros enfermeiros do hospital, apenas seguindo ordens o dia inteiro.
A Lagarta Azul era Uke Yutaka, seu terapeuta, aquele que lhe dava as respostas, que lhe explicava o que acontecia e com quem ela conversava. Tentava fazer Ruki acordar para a terrível realidade.
A Rainha Branca era nossa mãe, uma mulher nobre e terna, que sofreu na pele o preconceito de ter um filho doente, tendo que abandoná-lo nesse sanatório. Eu não a culpo momento nenhum pelo que fez.
Ela estava sobre pressão de varias pessoas e julgamentos de estranhos apenas por causa do comportamento de Ruki. Já fraca acabou cedendo aos insultos e abandonado Ruki.
Hoje se culpa e sofre de depressão...
As vagas lembranças que Ruki ainda possui, era de momentos com nossa mãe, e o motivo dele pensar que o mundo fora dos muros daquele lugar era melhor, era por saber que a mãe estava lá, em algum lugar, para lhe cuidar.
Mal sabe ele que o inferno o seguirá por onde for...
A tal poção do crescimento era as drogas que lhe davam. Por serem extremamente fortes, por várias vezes Ruki tinha sensações diferentes e alucinações, bem como se tivesse encolhido ou aumentado de tamanho.
Tudo isso foi criado por ele como se fosse um mundo paralelo. Uma realidade menos dolorosa daquela em que vivia. Ruki já não podia suportar aquele local e tudo o que acontecia com ele ali dentro, então resolveu usar de sua imaginação infantil para amenizar a dor e o sofrimento.
Mas essa dor não cessará tão fácil assim...
Vê-lo lutar tão inocentemente para conseguir continuar vivendo me fere também.
E me sinto incapaz de fazer qualquer coisa por ele.
Eu, Takashima Kouyou, apenas mais um cúmplice nesse lugar doentio...