Já havia se passado cinco dias desde de nossa fuga inusitada.
Victória parecia mais aliviada. Mas seus olhos -azuis como o céu sem nuvens- pareciam distantes, tão sombrio.
Seria esse o fardo que uma assassina deveria carregar consigo pelo resto da vida?
Preferia pensar que não.
Seria horrível pensar que eu seria incapaz de ver um sorriso naquele rosto que sempre me lembrava uma boneca de porcelana.
Eu havia me tornado um cumprisse. De demônio assassino, para ajudante de uma humana assassina.
Estávamos em uma igreja abandonada - irônico eu sei- poderíamos estar mais longe naquele momento, mas Victória se recusou a ser carregada a noite, me obrigando a fazer pausas desnecessárias.
Já era manhã do sexto dia. Apesar de eu querer partir, minha companheira exausta.
-Brandon, preciso de ajuda-gritou Victória.
Não recusei. Fui em sua direção. Os gritos vinham de dentro de um pequeno cômodo. Ao chegar encontrei Victória tentando desvirar algo que parecia uma panela enorme.
Após tirar o enorme recipiente de aço fundido do cômodo o levei para o meio da pequena igreja.
Não entendi, mas não questionei.
Aos poucos o enchemos com água de um poço.
-Sai daqui- disse Victória com as bochechas coradas.
Pensei em questionar. Mas me retirei aguardando na porta.
O tempo passava. E ela não saía.
Ah! Havia uma segunda entrada, alguém poderia ter entrado e a assassinado. No mesmo momento invadi o local.
Ao entrar encontrei as vestes de Victória jogada ao chão.
-Victória?-gritei indo em direção ao recipiente.
-Fique longe, pervertido! - gritou ela que em seguida arremessou um balde de madeira conta mim.
Em poucos segundos reduzi o balde a nada em apenas um soco.
O que teria acontecido agora?
-Victória? - perguntei novamente.
Não houve resposta, ela permaneceu no mesmo lugar, olhando as vezes corada.
Decidi sair, estava me sentindo um incomodo. Comecei a olhar as nuvens que se formavam longe. Por quanto tempo mais nós fugiríamos? Não poderia ficar para sempre carregando ela como minha boneca de um lado para o outro. Nosso dinheiro estava acabando, logo precisaríamos de mais, mas a cada cidade que passávamos os cartazes a denunciava.
Deveria deixá-la sozinha? E se eles a encontra-se? Deveria transformá-la em minha assistente e continuar meus trabalhos mercenários?
O que eu deveria fazer com essa humana?
Por mais que eu me esforçasse, as respostas se negavam a vir.
Como havíamos gastado muita lenha os últimos dias eu precisa renovar nosso estoque, aproveitei para entrar na floresta que cercava aquele local abandonado. Segui caminhando mais a diante chegando próximo a um cachoeira, fiquei admirado com sua beleza, então decidi cortar a lenha por ali mesmo e depois levar já que não estava tão longe do local.
Precisaríamos partir essa noite, homens imundos estavam por todos os lados querendo ceifar os brilhos dos seus lindos olhos , pensei comigo enquanto ainda cortava lenha.
O som dos pássaros e a água tornava aquele local agradável, agucei meus ouvidos para notar cada detalhe ao meu redor. Estava tudo tão perfeito. Peguei as lenhas e caminhei de volta ao local. Queria buscar Victória para ver tudo que vi. Mas antes de chegar ouvi um grito de dor rompendo todo o clima agradável e assustando os pássaros.
Seria Victória?
-Não - gritei em resposta aquele grito medonho.
Abandonei todas as lenhas, peguei minha adaga e corri a velha igreja.
Me deparei com o indesejável, uns vinte humanos cercavam o local enquanto no meio havia um senhor de cabelos grisalhos - o irmão do coronel- que rompia aquela pele branca de Victória com uma adaga em sua barriga.