É por amor.

Tempo estimado de leitura: 6 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 4

    Recordações.

    Álcool, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    A música tema é aquela OST do Anime Naruto: Childhood Memories (Deixarei o link nas notas e adoraria que vocês escutassem-na enquanto leem o capítulo).

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=N_AviCzPvI0

    Notas

    Ojou-sama: É como costumam se referir à meninas ricas no Japão.

    Obentou: Marmita Japonesa.

    Yoroshiku onegai shimasu: É algo como "Prazer em conhecê-los"

    Sugoi: "Incrível, legal"

    Kirei: "Que lindo, bonito"

    Bom! Obrigada pela atenção!

    Boa leitura!

    Entristecida, ela seguiu andando com dificuldades, por causa do peso da mala, sem rumo, sendo acompanhada pelo único e fiel amigo que tinha. Ao relento o frio dominava e a respiração ofegante, desfazia-se em fumaças que saiam da boca. Se antes lhe doía não ter ninguém lhe esperando em casa ao menos para jantar quando voltasse, agora sequer ela tinha um lugar para onde voltar.

    (...)

    A minguada luz do poste, que piscava como se a qualquer instante pudesse se dissipar, pouco iluminava a escuridão daquela álgida noite de primavera. Calmamente a brisa soprava fria, esvoaçando os cabelos róseos da jovem sentada no velho banco da pequena praça.

    Ao seu lado, deitado com a cabeça sobre o seu colo, entretanto, mantendo-se em alerta, Hoshi recebia as carícias de sua dona que o fazia mecanicamente.

    Opacos, os olhos verdes fitavam o nada à sua frente. As ruas e praças vazias, as casas silenciosas, provavelmente a cidade já dormia. Ergueu o braço esquerdo, que antes repousava sobre a mala posta no chão do outro lado, girando o delicado relógio dourado no pulso frágil:

    ? Vinte e três horas... ? pronunciou em pensamento, suspirando pesadamente.

    Embora fosse perigoso estar naquele lugar escuro, apenas com o cão em sua companhia, não sentia medo algum, sequer sentia alguma coisa que não fosse a frustração que permanecia intacta dentro de si. Atordoada com aquela situação ela ainda tentava processar todos aqueles acontecimentos, porém, por mais que analisasse e buscasse por uma saída, ela acabava se perdendo cada vez mais dentro do imenso labirinto que havia se formado em sua mente.

    Após alguns minutos, exausta, ela deixou de pensar naquilo, afinal, do que lhe adiantaria refletir tanto sobre o seu mar de problemas se nada poderia fazer àquela hora da noite? Só então ela percebeu que estava se machucando ainda mais daquela forma!

    Durante toda a sua vida ela já havia passado por inúmeras dificuldades distintas, mas antes, quando ele ainda vivia por perto, ela costumava resguardar-se de suas atribulações na companhia do amável amigo. Porém, após o adeus, restaram-lhe apenas as lembranças para lhe amparar. Assim sendo, sempre que se encontrava perdida nas complicações de seu sofrido caminho, ela atrevia-se a buscar por refúgio naquelas recordações, mergulhando naquelas memórias de como aquela amizade havia começado...

    Cinco anos atrás:

    No imenso salão escuro, sentada na bela cadeira ? entalhada em madeira refinada, com detalhes e orlas douradas ?, sob a luz tênue que atravessava as vidraças da enorme janela, estava a menina de óculos. Trajada de um vestido preto e simples, ela lia em silêncio o livro que tinha em mãos.

    Os cabelos róseos, perfeitamente aparados na altura dos ombros, a franja volumosa, esmeradamente alinhada sobre a testa alva da garota, davam-na um pesado semblante sério, sereno, ou até mesmo inexpressivo.

    Poucas horas depois, uma mulher alta e elegante, também vestida de preto, em roupas triviais, com os longos cabelos castanhos aprisionados em um coque firme, adentrou o local a passos pesados, aproximando-se da jovem entretida com a leitura:

    ? Ojou-sama... O carro já está a sua espera, vamos! ? ela avisou com a voz rígida, gesticulando com as mãos para que a mais nova lhe acompanhasse.

    A menina nada proferiu, apenas assentiu meneando a cabeça e com sua expressão vazia, fechou delicadamente o livro, o abraçando. Levantou-se e se pôs ao lado da mulher e então as duas passaram a caminhar em direção à saída.

    Antes naquela sala, estavam os dois caixões lacrados, por conta do péssimo estado em que se encontravam os restos mortais daquelas duas pessoas tão queridas. Os pais ocupados com os negócios fora do país, viviam viajando, oscilando entre o ocidente e o oriente. E infelizmente, em uma dessas viagens, havia ocorrido a fatalidade. Um repentino acidente aéreo e então o jato chocou-se contra o oceano.

    O funeral havia ficado no tão recente passado, assim como o enterro também já tinha terminado. Dentro do carro luxuoso, a menina observava através da janela o mundo exterior em movimento. Nas mãos da mulher desconhecida, sentada ao lado, estava a tutela da órfã, pois, a única família que tinha era constituída apenas pelo pai e pela mãe, que agora, não mais pertenciam ao mundo dos vivos.

    Seguindo pela estrada, o destino do veículo era uma pequena cidade aos arredores da grande capital Japonesa. Sua vida, suas lembranças, tudo relacionado ao seu passado em Hokkaido teria de deixar para trás, afinal, assim havia decidido a estranha tutora que agora detinha a sua custódia.

    Naquele triste mês de maio, a menina havia perdido tudo o que mais amava. Dali em diante teria de se sujeitar a morar com uma completa desconhecida em uma cidade estranha, a qual nunca conhecera.

    Ao chegar à cidade pequena, a paisagem urbana mesclada à campestre de certa forma lhe agradava. A enorme casa que lhe aguardava era totalmente ao estilo tradicional nipônico, simples e refinado.

    Deslumbrada com a semelhança daquela à sua antiga morada, a menina abriu a porta do carro por conta própria, descendo rapidamente e a passos ligeiros seguiu até o alpendre, parando no portal fechado.

    A mulher esperou o motorista abrir-lhe a porta e apenas então saiu do automóvel, caminhando em direção à garota:

    ? Ojou-sama... De hoje em diante este será o nosso lar! ? ela abriu a porta e gesticulou para que a pequena adentrasse.

    ? Uau! ? a menina suspirou encantada, retirou os sapatos e adentrou a nova residência.

    Os passos tímidos, sobre o assoalho lustrado, exploravam atentamente as extensões da moradia. Em algumas áreas mais ocas, a madeira rangia até mesmo com o leve pisar dos pés descalços da garota. Os painéis corrediços trabalhados em madeira subdividiam os grandes cômodos bem arejados e tradicionais.

    Apesar de toda a tristeza que sentia, ela acreditava que o melhor seria ocultar tudo em seu coração e buscar se adaptar àquela situação o mais rápido possível, afinal, chorar o faria mais tarde, quando estivesse sozinha em seu quarto, para que apenas ela mesma pudesse ouvir.

    O começo daquela semana lhe trouxera novidades. As aulas haviam iniciado ainda no mês de abril e ela necessitava estudar. Sua tutora já tinha se adiantado e lhe matriculado em uma das escolas locais, sem ao menos saber se era boa ou ruim, pois, como já estavam em maio, não teria como a garota fazer um teste de admissão, sendo assim, aquela era a única instituição de ensino que havia aceitado a matrícula naquelas condições.

    O primeiro dia de aula na nova escola, o uniforme não era tão formal e rígido como era o do antigo colégio que estudava. O carro luxuoso parou em frente à escola comum, a aluna nova desceu do automóvel e foi deixada sozinha em frente à escola.

    Os alunos curiosos, das janelas de suas salas, observavam a menina ao lado de fora que rapidamente passou a caminhar rumo à entrada do prédio escolar.

    A segunda aula, que era matemática, foi interrompida e o professor chamou a jovem menina que aguardava ao lado da porta:

    ? Alunos... Temos uma aluna nova! ? ele gesticulou para que ela se posse ao lado dele. ? Apresente-se para a turma! ? ele sussurrou para ela.

    Antes que pudesse proferir alguma palavra, a menina já podia escutar os cochichos vindos dos alunos. Coisas como...

    ?Olhem só... Uma Ojou-sama estudando na nossa escola!?

    ?Será que a família está falindo??

    ?Então é uma falida Ojou-sama??

    ?Vocês viram aquele carro? Devem viver apenas de aparências...?

    ?Não... Fiquei sabendo que os pais morreram!?

    ?Nossa... Então ela é uma órfã??

    ?Pobre menina rica...?

    ?Coitadinha... Olhem só o tamanho dos óculos!?

    ?Como ela é baixinha!?

    ?Aposto que é mimada, chatinha e birrenta...?

    ?Não gostei dela!?

    Inexpressiva, a menina trancou todas aquelas palavras dentro de seu coração, ignorando o mundo exterior que a repudiava:

    ? Meu nome é Haruno Sakura! Yoroshiku onegai shimasu! ? ela curvou-se respeitosamente em cumprimento aos alunos.

    ? Bom! Você pode se sentar ali! ? o professor apontou para a carteira posta ao fundo da sala ao lado da janela.

    Calada, a garota de cabelos róseos seguiu até o lugar indicado, ignorando os olhares dos alunos que pareciam analisá-la dos pés à cabeça, entretanto a aula prosseguiu normalmente.

    Na carteira ao lado, o menino de cabelos negros parecia cochilar, porém, logo bateu o sinal fazendo-o despertar. Levantou sua cabeça, os olhos inchados olhavam ao redor, buscando se informar do que estava acontecendo:

    ? SASUKE! ? gritou um aluno loiro um tanto energético, parado na porta. ? Já é a aula de educação física, vamos! ? avisou, saindo da sala.

    ? Hum... ? o garoto olhou para o seu lado esquerdo e avistou a menina encolhida na cadeira, enquanto todos os outros alunos saíam da classe. ? Deve ser essa a aluna transferida... ? pensou, pondo-se de pé e seguindo até a porta. Antes de deixar de vez aquela sala, deu uma última olhada na menina que parecia fitar o nada. ? Os óculos são enormes... ? ele murmurou mentalmente e finalmente saiu. Alguns minutos se passaram, a menina retirou um livro de sua bolsa e começou a ler.

    Os dias, as semanas e no fim quase dois meses já haviam transcorrido em um piscar de olhos. Completamente isolada, a menina magricela, que usava enormes óculos arredondados, não havia falado com ninguém, sem amigos, lanchava sozinha na classe e sempre estava entretida lendo os seus livros.

    Um belo dia, na aula de educação física, novamente esquecida na sala, como de costume, a menina mantinha-se concentrada enquanto lia um enorme livro.

    De repente ouviu o barulho da porta abrindo, entretanto, ignorou como sempre o fazia, prosseguindo com a leitura:

    ? Sakura?! ? pronunciou a voz masculina.

    Os olhos verdes ergueram-se e se depararam com os olhos negros do rapaz que a encarava, sentado à carteira desocupada da frente.

    ? Você tem um belo nome! ? ele comentou sorrindo simpaticamente.

    ? Arigatou... ? ela agradeceu inexpressivamente acanhada.

    ? Bom! Eu me chamo Sasuke! ? ele se apresentou calmamente e se levantou. ? Venha! Vamos para a aula de educação física! ? estendeu a mão para ela.

    ? Eh? Mas... ? antes que pudesse contestar ela sentiu as grandes e quentes mãos apanharem as suas pequenas e frias, puxando-a para frente, projetando-a de pé.

    O pouco tamanho a fez olhar para cima, fitando o rosto do rapaz que estático, olhava-a sem piscar, como se estivesse em transe. Quando despertou daquele momento de inércia, ele meneou a cabeça negativamente voltando a olhar para ela:

    ? Apenas venha! ? pediu começando a caminhar e levando ela consigo.

    Durante aquela aula de educação física, os meninos jogavam bola no enorme campo de futebol da escola. Já as meninas, algumas ocupavam a quadra fechada e jogavam vôlei, enquanto outras, sentadas em grupos distribuídos pelas partes baixas da arquibancada, cochichavam entre si.

    Sentindo-se deslocada naquele meio feminino, a garota de cabelos róseos, sentada no chão em um cantinho da quadra, abraçada às pernas, apenas observava tudo o que se passava ali. Ninguém a havia convidado para nada e tímida, ela não tinha coragem o suficiente para ir por conta própria. Daquela forma, observadora, ela admirava as garotas altas que jogavam como se fossem profissionais e também escutava alguns dos cochichos das outras em seus grupinhos...

    ?Nossa como a Megumi está gorda!?

    ?Olhem lá, a Hinata nem sabe jogar e fica insistindo!?

    ?Pois é... E os meninos gostam dela só por causa daqueles seios enormes!?

    ?Hey... Vocês não vão acreditar no que eu vi!?

    ?Conta, conta... O que você viu??

    ?A ojou-sama de mãos dadas com o Sasuke-kun!?

    ?Hãaaaaan? Como assim?!?

    ?Isso mesmo o que você ouviu... De MÃOS dadas!?

    ?Não acredito, aquela nojentinha...?

    ?Agora eu a odeio mais ainda!?

    ?Haha... Mas até parece que o Sasuke-kun iria gostar dela!?

    ?Concordo com você, aposto que ele apenas fez isso por pena!?

    ?Ah... O Sasuke-kun é tão bondoso!?

    ?Coitada da riquinha, tão baixinha e magricela...?

    ?Tenho certeza de que o Sasuke-kun jamais olhará para ela...?

    ?É... Ela não faz o tipo dele!?

    ?Haha... Ela não faz o tipo de ninguém!?

    Talvez elas estivessem certas, afinal, a garota tinha consciência de que ainda estava em desenvolvimento e não era um ícone de beleza madura, tampouco tinha os atributos físicos padrões de mulheres consideradas belas.

    De volta à sala, após aquela aula era o intervalo. A menina retirou a marmita da bolsa e colocou sobre a mesa. A maior parte dos alunos já haviam se retirado da classe e ido para a cantina.

    O rapaz em sua roda de amigos despediu-se dos mesmos que foram lanchar. Aproximou-se da carteira ao lado da janela, sentando-se novamente na carteira da frente:

    ? Ehhh... Sugoi! ? ele comentou admirando o obentou da jovem. ? Então né... Como sou um mero mortal, eu vou lá à cantina comer! Quer vir comigo? O pessoal costuma ficar lá... ? foi interrompido em meio ao convite.

    ? Não, obrigada! ? ela recusou apática, desfazendo a amarra do lenço que envolvia a marmita.

    ? Hum... Tudo bem! Ja ne... ? ele se despediu, um pouco sem graça, se levantou da carteira e saiu da sala.

    Aquele dia havia sido o primeiro e tão de repente se tornou o único em que a garota falara com alguém na escola. Os dias voltaram ao normal, isolada, calada, ela voltou a ser solitária.

    O rapaz não lhe dirigia mais a palavra, sequer olhava para ela e quando inevitavelmente o fazia, o olhar desvencilhava-se magoado, ignorando a existência dela.

    Era junho, em um dia quente de verão, no enorme jardim de sua casa, o garoto com sua câmera fotográfica em mãos, que observava o horizonte campestre daquela região pouco habitada, descobriu que alguém morava na casa ao lado. Curioso com os ruídos que podia escutar, começou a aproximar-se do jardim alheio. A cada passo, podia ouvir mais e mais alto, aquela doce risada.

    Uma pilha de livros abandonados sobre o assoalho do alpendre. A menina ? vestida com seu fofo macacão jeans, uma blusa de mangas curtas verde-água e uma tiara de mesma cor na cabeça ?, com um pote de vidro em mãos, alegremente se acabava em gargalhadas divertidas, enquanto tentava aprisionar algumas das borboletas amarelas que sobrevoavam as flores do jardim.

    Aqueles cabelos róseos, curtos na altura dos ombros, esvoaçados ao vento, eram-lhe familiar. Embora soubesse que havia casas na vizinhança, o garoto nunca tinha cogitado conhecer as pessoas que moravam perto de sua residência.

    Após alguns minutos estático, encantado com aquela cena, ele agilmente ajoelhou-se, ajustando a câmera preta, retirando o flash e erguendo-a, apontando sua lente na direção da menina, registrando em inúmeras fotos, aquele outro lado daquela garota fria.

    Finalmente a menina capturou uma das borboletas e rapidamente tampou o pote. Através do vidro, ela admirava os tons de amarelos das asas daquela espécie. Alguns minutos depois, ela abriu o pote, libertando aquele pequeno ser da prisão abafada.

    ? Kirei... ? ela elogiou a pequena borboleta que vagarosamente voou e pousou sobre uma flor ali perto. ? Hum? ? ela observou um rápido reflexo ao lado.

    Olhou pelo canto dos olhos e notou que o sol estava se refletindo em uma lente camuflada nas folhagens, por detrás do arbusto. A garota curiosa passou a se aproximar.

    O rapaz distraiu-se com um esquilo que caminhava tranquilamente ao seu lado e quando voltou os olhos para a câmera, surpreendeu-se. O rosto redondo, os lábios rosados, o nariz delicado e por fim os olhos verdes tão próximos da lente que, investigantes, lhe encaravam.

    Então, rapidamente ele se levantou do meio das folhagens, assustando a garota que caiu sentada no chão:

    ? Olá! ? ele saudou sorridente, disfarçando aquela situação constrangedora em que se encontrava.

    ? V-Você? O que estava fazendo escondido aí?! ? ela indagou pondo-se de pé em frente a ele.

    ? Bom, eu estava... Acabei de descobrir que somos vizinhos! ? ele mudou rapidamente de assunto.

    ? Hum... Eu nem sabia que tinha alguém morando na casa ao lado! ? ela comentou pensativa.

    ? Haha... Nem eu! ? ele concordou rindo sem graça.

    ? Né... Mas você ainda não respondeu o que eu perguntei, aliás, isso daí em suas mãos é uma câmera, hein? ? ela olhou-o desconfiada.

    ? Ah... S-Sabe, eu adoro tirar fotos, por isso tenho uma câmera! ? ele contou com dificuldade.

    ? É evidente que você tem uma câmera porque gosta de fotos, do contrário não faria sentido possuir uma... O que eu gostaria de saber é o porquê de você estar escondido aí, com essa câmera em mãos! ? ela ressaltou precisamente.

    ? Estava tirando fotos da paisagem! ? ele respondeu sério.

    ? Insolente! Então porque a câmera estava mirada em minha direção? ? ela perguntou exasperada.

    ? Ora, que culpa tenho eu se a vossa alteza estava no meio da paisagem? ? inquiriu com sarcasmo.

    ? Esse é o jardim da minha casa, porque eu não estaria nele? ? ela indagou inexpressiva.

    ? Ah... ? o garoto tentou achar uma justificativa. ? Quer saber? Dane-se! ? ele pensou desistente. ? Sim! Eu tirei fotos suas, aliás, elas ficaram ótimas! ? confessou diretamente.

    ? Com que direito? ? ela perguntou entediada.

    ? Perdoe-me à impertinência! Gostaria de ver as fotos? ? inquiriu educadamente.

    ? Garoto... Você é estranho! ? ela elevou as mãos na direção dele, pedindo pela câmera. ? Deixe-me ver!

    ? Ué, ponha-se ao meu lado para ver! ? ele pediu desconfiado que se lhe entregasse a máquina ela apagaria as fotos da memória.

    ? Tudo bem! ? ela seguiu para o lado dele.

    Após visualizar a sequência de imagens a menina suspirou irritadamente.

    ? Peço que apague isso daí! ? ela expôs autoritária.

    ? Ora, vamos... Não seja má! ? ele suplicou com carinha de cão abandonado.

    ? Afinal, por que você quer essas fotos? ? ela indagou confusa.

    ? Bem, vejamos... Meu aniversário está próximo, em julho! Deixe-me ficar com elas de presente? ? ele pediu esboçando um enorme sorriso.

    ? Hum... E desde quando pessoas normais consideram fotos de desconhecidos como presente? ? ela olhou-o intrigada.

    ? Olha só, Sakura... Na realidade, eu juro que estava tirando fotos das borboletas! ? ele blefou apontando para o jardim. ? Olhe lá... Elas não estão mais! ? ele salientou a ausência das mesmas, engolindo a seco.

    ? Oh... Entendo! ? ingênua, ela acreditou notando que as borboletas realmente haviam sumido. ? Tudo bem então, mas não ouse publicar essas imagens em lugar algum, certo? ? ela inquiriu séria.

    ? Fique tranquila, só irei admirar você, digo, as borboletas... AS BORBOLETAS! ? ele ressaltou aquelas palavras.

    ? Hum... Certo! Ja ne! ? ela despediu-se seguindo até o alpendre, deixando para trás o garoto acompanhando-a com os olhos.

    ? Né, Sakura? ? ele gritou o nome da garota distante.

    ? Hum? ? ela virou-se para trás olhando para ele.

    ? Posso ser seu amigo? ? ele perguntou aos berros.

    ? Talvez! ? ela sorriu docemente e adentrou a casa, fechando a porta.

    Aquele dia, sem dúvidas, havia ficado registrado nas memórias dos dois. Até mesmo que se passassem anos, décadas, séculos e milênios, eles ainda assim se lembrariam de como aquela amizade havia começado.

    De volta ao presente...

    As janelas fechadas do enorme quarto tornavam aquela manhã de segunda-feira em uma noite escura. Somente a escassa luz do abajur proporcionava um pouco de claridade ao cômodo. O rapaz sentado, encolhido no cantinho do seu quarto imenso, com várias fotografias, algumas em mãos e outras espalhadas pelo chão, observava com nostalgia aquelas imagens apaixonantes.

    Lembrava-se como se fosse ontem, o dia em que, por acaso, conhecera a menina que morava ao lado de sua antiga casa e tirara aquelas fotos espontaneamente encantadoras.

    Nas cenas da sequência de imagens, o macacão jeans, a blusa de mangas curtas verde-água e a tiara de mesma cor na cabeça, compunham os trajes da menina magricela, com um pote de vidro em mãos, que tentava aprisionar borboletas amarelas.

    Uma lágrima solitária libertou-se de um dos olhos negros, percorrendo pela pele alva do rosto até próximo dos lábios avermelhados que esboçaram um sorriso entristecido ao lembrar-se de como eram maravilhosas àquelas gargalhadas divertidas da menina de cabelos róseos.


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