Natsu ainda pressionava a ferida aberta em seu ombro esquerdo. O espinho havia a atingido com tanta força, que atravessara ao outro lado, terminando por se espetar na árvore atrás dela. Pela posição em que o projétil prendera no tronco, a filha de Kurama pode detectar de qual direção o espinho havia sido arremessado. Tirou um punhado de sementes dos bolsos da jaqueta, e temendo ser alvo de um novo disparo dos espinhos malignos, as atirou com tanta força no chão a sua frente, que de seu ombro aberto, escapou parte do sangue que a tanto custo ela guardava até então. Não mudou sua fisionomia, estava séria, quase inespressiva, mas isso também significava que a dor a incomodava muito. Pressionou mais uma vez a ferida, e sem dizer uma palavra, caiu de joelhos ao chão outra vez.
Yuzu já se preparava para ajudá-la novamente, quando sentiu a energia da garota sendo emanada para fora do corpo, fazendo as sementes no chão brotarem com a energia que lhes havia sido transferida. Foi num instante outra vez, que Natsu fez as plantas cruzarem o solo em raízes fortes e rápidas, Kesuy e Yuzu ficaram surpresos ao ver que as plantas, seguindo em linha reta por de baixo da terra, subiram em vários ramos de forma violenta, jogando terra e pedras para cima, há alguns metros de distância dali.
- Peguei um...! - disse a garota, com uma aparência nada boa, já que sua energia esgotara com aquele último ataque. Mal tinha forças para segurar o ombro ferido, mas era verdade.
O youkai que disparava os espinhos malignos agora estava preso entre vários tentáculos das plantas e lutava para se soltar. Usando armas feitas do mesmo estranho material, os espinhos que pareciam ossos na cor vermelha, o demônio empunhava agora pequenas adagas, que usava para cortar as plantas, uma de cada vez, rosnando e mostrando os dentes furiosos enquanto cortava as dezenas de tentáculos das plantas demoníacas ao seu redor. Tão concentrado, que não viu quando Kesuy atirou.
- Lei...gan!
Kesuy era filho de Yusuke. Já podia atirar o Leigan três vezes, sendo que na sua idade, o pai só podia dispará-lo uma vez por dia. Treinava com o pai desde que era muito pequeno, e embora não tivesse herdado o sangue Youkai, mesmo como um humano, seu dispáro já era forte.[/i
[i]O demônio foi empurrado floresta a dentro, juntamente com as plantas demoníacas que o prendiam. Duas ou três árvores foram derrubadas com a força do golpe, e a poeira se encarregou de esconder o resto.
- Conseguiu... - disse Yuzu ? Graças a Natsu!
- Quieto! - disse a garota, quase num silvo.
A garota ainda estava séria e não parecia tranquila, mesmo vendo a criatura sendo levada a vários metros dalí pelo poder de Kesuy. Natsu era esperta, sabia que aquele tinha sido o primeiro de três, dos disparos de Leigan que Kesuy suportava, quanto a ela, já não tinha forças para evocar nenhuma planta. Yuzu já não devia estar em seu máximo a algum tempo, visto a quantidade de energia sobrenatural que desperdiçara ao tentar proteger todos no ataque massivo de espinhos. Ainda podiam ouvir o som das correntes girando no ar. Dando voltas ao redor deles em tempos alternados, para confundí-los e desorientá-los. Na ponta daquela corrente havia uma estranha foice, capaz de desintegrar tudo o que toca. E um youkai desconhecido e muito mais calteloso que o primeiro.
Não era hora para ficar feliz por ''um'' inimigo derrotado.
- O que vamos fazer com esse... - disse Kesuy, olhando ao redor, começando a entender o que Natsu queria dizer.
- Ele irá atacar logo, nós só temos que ficar alertas... Lamento, mas já não posso mais fazer nada quanto a esse youkai, vou confiar em vocês...
- Natsu... - disse Yuzu, baixinho.
Posicionaram-se em triângulo, três frentes, cada um guardando uma direção. Mas embora já suspeitasse do que iria acontecer no próximo instante, Natsu não quis a proteção de Yuzu nem de Kesuy quando eles ofereceram. Na verdade ela sabia quem seria atacado primeiro, usou a lógica e calculou que o youkai faria o mesmo. Ela estava ferida e exausta, não iria revidar, não haveria contra-ataque por parte dela, e os outros dois só teriam tempo de tentar protegê-la. E se, sendo protegida por eles, ela seria peso morto, servir de isca era a único modo de ajudar. Era assim que pensava. Com sorte, um dos dois, ao menos um atingiria o youkai. Se estivesse em melhores condições, pensaria em um plano melhor. Por hora, era só o que podia fazer, se arriscar em nome do grupo. Mas, ''e quando foi que viramos um grupo...?'' , pensa ela, um tanto confusa e impressionada consigo mesma, e com seu companheirismo repentino. Embora muito provavelmente, aquilo nada tivesse a ver com companheirismo. Em seu coração, sentia que apenas seu orgulho a impedia de usar aqueles garotos como escudo, e de aproveitar a distração quando fossem atacados para fugir.
Não havia mais tempo. O som da corrente, que por alguns instantes sessara, retornara agora, mais forte do que nunca. A foice em sua ponta, cortava o vento e produzia um chiado assustador. Vinha na direção de Natsu, como esta já havia previsto. Mas foi Yuzu, que sem tempo de reagir, cravou sua Leiken no chão
e a estendeu, fazendo com que cruzasse o solo até que surgisse diante de Natsu; que sem reação, viu a Leiken desviar a foice de direção, jogando-a pro alto.
A corrente ainda fisgou em Kesuy, que logo a agarrou e a puxou, correndo um pouco na direção contrária. Não pode trazer o youkai com ela, nem sequer revelar seu rosto. Mas esticar a corrente foi o suficiente para que Yuzu soubesse de onde o demônio havia atacado. Num segundo a Leiken se estendeu ainda mais e se curvou, corrigindo a direção até alcançar a outra ponta da corrente. Yuzu sentiu que havia acertado em cheio. A corrente afrouxou o aperto e deixou-se cair no chão. Kesuy largou a ponta da corrente que segurava até então, Yuzu preferiu não recolher a Leiken antes de confirmar. Estava certo em suspeitar e tentar manter-se protegido. Errado na maneira de se proteger.
- O que...!
Foi rápido demais, para que pudesse raciocinar. Sentiu-se fraco derrepente, como se suas energias o abandonassem. Sua Leiken mudou de cor, a luz dourada tornou-se vermelha e escura. Foi Natsu que o avisou.
- Idiota! Desfaça a espada! Ele vai matar você! Está sugando toda sua energia sobrenatural.
Yuzu tenta recolher a Leiken tão rápido quanto pode, mas a espada se desfaz antes mesmo de chegar na metade do caminho. Seu corpo não suporta a perda de energia e ele cai feito uma pedra, exausto e doente. Estava pior ainda do que Natsu, que agora tentava mantê-lo consciente.
- Seu desgraçado! O que foi que você fez? - gritou Kesuy.
Uma gargalhada fantasmagórica o respondeu. E logo depois a corrente é puxada de volta. Furioso, sem pensar direito, Kesuy corre na direção da corrente. Natsu grita para que não vá, mas ele já não podia ouvir mais nada. Apenas o som das correntes, e da foice, cortando o vento e voltando para a mão de seu dono. Era só o que ele precisava ouvir. Só o que queria ouvir.