- Olá Nando!
- Ah oi Murilo. O que está fazendo aqui? ? Falei um tanto surpreso.
- Vim trazer este guarda-chuva. ? Sorriu para mim me deixando sem graça.
*Entregou-me um guarda-chuva enquanto segurava outro.*
- Aposto que foi a Nara que pediu, ela vive querendo me constranger.
- Te constranger? Te deixei constrangido vindo na porta da tua escola? ? Continuava sorrindo de forma graciosa.
- Não, não! Não foi isso que eu quis dizer, é apenas... ? Fiquei vermelho.
- Entendo garotos da tua idade ficam envergonhados com este tipo de coisas não é? ? Segurou meu queixo, e eu arregalei os olhos percebendo que todos estavam olhando.
- Vamos logo teu pai chegará em breve! ? Me largou e fomos andando para casa.
Eu sou Fernando, há poucos dias completei 17 anos. Moro com meu pai e minha irmã que é dois anos mais velha que eu. Minha mãe morreu no meu parto então não a conheci. E esse que me deu o guarda-chuva é o Murilo. Amigo do meu pai está sempre na minha casa. Ele é a paixão da minha irmã, ela mata qualquer um por ele.
Hoje é o aniversário do meu pai, preparamos um bolo surpresa pra ele. Na verdade foi apenas o Murilo, mas o combinado foi dizer que fizemos juntos. Chegamos em casa e Nara estava toda produzida, parecia que ia para uma festa.
- Nara tudo isso é para o papai? ? Perguntei um tanto sarcástico.
- Claro! Nosso pai merece. Mas não é só pra ele não. ? Ela fitou Murilo com o olhar.
- Sobrou pra você Murilo. ? Me diverti com a cena.
- Quietos apaguem as luzes e abaixem-se. Greg chegou.
Apaguei as luzes e nos abaixamos, a sala estava bem escura, natural de todas as noites, não havia indicio algum para meu pai desconfiar da nossa tramóia. Escutamos os passos de meu pai se aproximando, entrou pela cozinha e veio em direção a sala e acendeu a luz. Demos um grito de ?Surpresa? e estouramos bexigas para fazer barulho. Ele ficou bem feliz. E incansavelmente dizia que o bolo estava gostoso quando o comeu.
- Greg agora vamos aos presentes? ? Murilo estava muito feliz, na presença de meu pai ele sempre estava alegre.
- Ahhhhhh! Eu primeiro, deixa eu ir primeiro pai, por favor? ? Nara deu um de seus ataques.
- Tudo bem filha. ? Ela estendeu um pacote pra ele, que minutos depois ficamos sabendo que era um roupão de banho. ? Obrigado minha querida!
- Bom, agora eu! Mas primeiro tenta adivinhar. ? Escondi o pacote.
- Eu acho que é... ? Nara começou a palpitar.
- Deixa ele responder. ? Dei alarme.
- Vamos lá, são cuecas, por que no ano passado você me deu gravatas, e desta vez se for cuecas eu aceito, agora se for meias eu te mato. ? Todos riram.
- Errou! Abra! ? Entregou o embrulho.
O homem abriu, era um terno de uma das marcas mais caras.
- Vejo que vocês estavam inspirados na hora das comprar em. Obrigado filho. E agora meu último filho, o que tem pra mim? Não me desaponte viu. ? Todos mais uma vez riram do senso de humor de meu pai.
- Está aqui teu presente ? Estendeu uma caixinha para meu pai, ficamos intrigados, o que ele planejou?
- Numa caixinha deste tamanho deve ser um chaveiro. ? Meu pai abriu a caixinha, era uma chave e olhou admirado para Murilo ? Isso quer dizer...?
- Seu carro lhe espera na minha garagem. Não trouxe porque era surpresa. ? Murilo sorriu de forma agradável.
Meu pai ficou extremamente feliz com todos aqueles presentes. Encheu-nos de abraços a noite toda. Há muito tempo estava querendo um carro, pois estava cansativo ir e voltar do trabalho de ônibus todos os dias. Murilo não podia ter lhe dado presente melhor, ainda mais que meu pai o considerava como teu filho.
Naquela noite meu pai decidiu que Murilo dormiria em nossa casa, estava bem tarde pra ele voltar para o bairro dele. Como de costume, ele dormia no mesmo quarto que eu quando estava lá, já tinha até a cama dele. Já eram quase duas da manhã, e ainda não tínhamos dormido. Eu não conseguia pegar no sono, e Murilo ficava olhando pro teto pensativo. Isso me fez lembrar que nunca o vi dormir, sempre que estava lá, eu dormia antes dele, e acordava depois. Que eu me lembre nas noites com ele, estava sempre olhando para o teto.
- Murilo?
- Sim.
- Por que você fica assim olhando pro teto?
- Estou pensando.
- Ah ta. ? Ficamos em silêncio por um bom tempo, vi que ele ainda não estava dormindo e voltei a falar. ? Murilo?
- Sim.
- Achei aquilo bem legal.
- O que?
- Você dar um carro pro meu pai. É bem maduro um presente daqueles.
- Não foi nada, ele estava precisando. ? Mais uma vez ficamos em silêncio e eu mais uma vez puxei conversa.
- Murilo?
- Sim.
- No que você tanto pensa?
- Nada especial.
- Ah! Me diz.
- Melhor não.
- E porque você nunca dorme antes de mim? Nunca te vi dormindo.
Ele ficou uns minutos em silêncio, pensei até em desistir da resposta e dormir. Mas finalmente ele falou.
- Gosto de apreciar você dormindo, por isso não durmo antes.
Que raio de resposta era essa? Me virei pro lado para não ter que olhá-lo. Eu sou um garoto, ele não notou isso? Está querendo se divertir com minha cara?
Passei a noite sem dormir pensando nisso, e se quer tive a coragem de olhar pra ele novamente.