História escrita para a Semana Shiryu de Dragão, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.
SEUS OLHOS
Chiisana Hana
?Eu serei seus olhos...?.A frase não parava de reverberar na mente de Shiryu desde que Shunrei a pronunciou alguns dias atrás.
Só agora, quando já tinha superado a fase mais crítica e recuperado a vontade de viver, Shiryu conseguia refletir sobre os acontecimentos dos últimos dias.
Tinha tomado a dramática decisão de cegar-se para vencer Algol, mas não estava pronto para as consequências de seu ato. Não estava arrependido, faria tudo de novo, porém não imaginou que as coisas ficariam tão difíceis. Acabou por cair numa depressão da qual não conseguia sair. O único alento que tinha era a presença amorosa de Shunrei. Era tão surpreendente ver que ela não teve medo. Enquanto ele só pensava em render-se, ela mantinha-se otimista, acreditando que as ervas da montanha podiam curar o que a ciência dizia ser incurável. Cuidava dele com carinho, procurando estimulá-lo a retomar a rotina, tinha sempre uma palavra de alento e suportava sem reclamar até mesmo as frequentes rabugices dele.
Foi com o mestre que aprendeu a lutar, desenvolveu as técnicas e conheceu o poder inenarrável do cosmo, mas foi com ela que descobriu a doçura e soube que a vida não era só dureza e aridez.
No orfanato, bastava que fosse um bom menino, obediente e responsável para não perturbar ?as tias?, que eram afáveis mas não supriam a falta de amor que sentia. Quando chegou a Rozan, Shiryu percebeu que, apesar dos treinos intensos, a vida também podia ser boa, podia ter aquele cheiro familiar de comida caseira, feita com amor, ao invés dos caldeirões insípidos preparados no refeitório do orfanato. A vida podia ter a calidez de um toque.
Ali, ele imediatamente sentiu-se acolhido por aquele senhor de pele estranha e de quem não podia sequer supor a idade, e por aquela garotinha adorável de cabelo sempre impecavelmente trançado. Tinha ido até lá para ser iniciado na arte de ser um cavaleiro, mas aprendeu também a ouvir os sons da natureza, conhecer o tempo das sementes, a personalidade de cada planta, as peculiaridades de cada estação. E com Shunrei conheceu o poder de um abraço, de um gesto de carinho, de um sorriso.
Ela disse que estava disposta a ficar do lado dele para sempre. Era isso? Ela queria guiá-lo pela vida, ao mesmo tempo em que se esforçava para que ficasse o mais independente possível? Ela não tinha mesmo medo ou era inocente demais para ver a situação como realmente se apresentava? Não seria nada fácil. Será que ela percebia? Isso era... amor?
Nos dias seguintes, Shiryu flagrou-se pensando nisso diversas vezes e chegou à conclusão de que era esse o sentimento dela. Então passou a se perguntar se sentia o mesmo. Aquela ternura que experimentava ao estar perto dela era amor também? A paz que ela lhe transmitia com sua simples presença era amor? A vontade implacável que tinha de protegê-la do mundo? A raiva que sentiu por não ter sido capaz de salvá-la e o consequente alívio por Ohko tê-lo feito?
Shiryu sorriu sozinho. Talvez não precisasse mais de alguém para guiá-lo, começava a adaptar-se à condição de cego, mas de uma coisa tinha certeza: queria Shunrei ao lado para sempre.
FIM