A criatura enorme e esquelética, havia sido capturada pela garota, e nada podia fazer para se livrar, mesmo ao despertar daquele sono induzido, aquele youkai estaria fadado a obedecer uma mocinha em troca de clemência pela sua vida despresível.
- O quê você fez? - disse Kesuy.
- Eu o encontrei agora a pouco...- disse a garota, abaixando-se e tocando a fronte da criatura - Fiz com que dormisse usando o pólen venenoso de uma certa planta florífera que trouxe comigo. Muito útil em qualquer situação...
- Tá, mas por quê?
Com essa pergunta, Kesuy acaba tendo de enfrentar os olhos céticos - e de certa forma debochados - de Natsu.
- Por quê está aqui? - diz a garota, num tom nada agradável - Não está aqui para investigar? Coletar informações? Ou não entendeu o sentido desta missão?
Kesuy não conteve sua expressão, estava realmente incomodado com aquela atitude, ''- quem ela pensa que é?'', pensou ele.
- Estamos aqui para descobrir o que está havendo no Makai, e se há algum risco para os humanos... Verificando o grau de periculosidade e intervensão necessária por parte do mundo espiritual... - disse Yuzu, por fim.
- Exato! - disse ela, fria. - E este youkai irá nos dizer. Vim até aqui escondida de meu pai, ele não aprovaria... Mas não pude deixar de ouvir sobre essa tarefa que ia ser passada para vocês, quando Koenma visitou meu pai ontem a noite. Como devem imaginar, nossos pais devem estar muito ocupados, com problemas de verdade, para Koenma vir formar um grupinho de reconhecimento usando apenas ''crianças'' sem experiência como nós... Desconfiei que ele sabia, que eu desobedeceria meu pai e viria mesmo assim, como parte dos reforços...
- Parte... dos reforços? - questionou Yuzu, confuso.
- Vejam! - disse ela, interrompendo - Ele está acordando. Vou usar uma planta que meu pai me deu de presente anos atrás, veio direto do Makai. Chamam ela de ''Usurpadora'', pois ela toma tudo de seu hospedeiro, o sangue, as memórias, a energia malígna... dizem que ela toma pra si, até mesmo parte da alma...
Kesuy não pode conter um arrepio, mas manteve-se calado, ainda estava ofendido. Yuzu pode sentir a energia de Natsu, logo após ver a garota tirar das roupas duas sementes e cravar na testa da criatura, quando injetou seu poder nas sementes, fazendo brotar folhagens, flores exóticas e sombrias além de raízez, como tentáculos que se espalhavam por todo o corpo do hospedeiro, perfurando sua pele e conectando raízez em cada nervo. Por último, uma das raízez, das mais finas, se conectou a cabeça da garota.
Kesuy e Yuzu não estavam mais entendendo nada. De olhos fechados, Natsu ficou ali, por alguns instantes, e enquanto ela suava frio, o demônio estremecia, morrendo aos poucos, tendo suas memórias e vida sugadas pela planta.
Entenderam então que Natsu extraía informações daquela forma, já que provavelmente o youkai não diria nada voluntariamente. De qualquer forma, era um modo horrível de morrer. Em poucos instantes, o demônio deixou de se debater, e Natsu caiu de joelhos, cansada e com uma expressão não muito boa. De sua testa, escorria sangue da ferida aberta pela raíz da planta.
- Tem... mais deles! - disse ela, entre-dentes, sendo amparada por Yuzu - Tem muito mais deles vindo pra cá!
Pouco depois de Yuzu tê-la tirado do chão, uma foice com corrente é cravada na árvore bem ao lado deles, quando a corrente é puxada, e a foice volta para seu dono, a árvore se desmancha como cinzas bem na frente deles. Uma gargalhada estridente e insana invade o local. O som da corrente girando, cortando o vento vai se tornando mais forte. Natsu agarra seu chicote, Yuzu saca sua Leiken.
De súbito, espinhos voam na direção dos garotos. Yuzu percebe a ameaça, ao sentir a energia maligna contida nos projéteis, cria instantaneamente uma Leiken expandida, emanando uma enorme quantidade de energia sobrenatural, para usar como escudo e tentar protegê-los. Ao redor deles estava repleto de pequenos espetos, como ossos afiados, cravados no chão. Parecia ter dado certo. Kesuy e Yuzu estavam bem, mas quando olham para Natsu, percebem o quanto sangrava do ferimento que ela apertava com toda sua força.
- Droga... malditos! - Kesuy não sabia o que fazer.
Ocultos estavam os agressores. Apenas as gargalhadas insanas e o som das correntes, oscilando entre pontos distintos de toda a montanha.