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Tempo estimado de leitura: 3 horas
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Eu estava passando minhas noites pesquisando na biblioteca da cidade assim como o planejado, o problema é que infelizmente ainda tinha outras necessidades como dormir e caçar.
Todas as noites eu aguardava todo mundo pegar no sono antes de finalmente atravessar a janela para a noite fria fora da propriedade. Normalmente de sete em sete dias me obrigava a sair para caçar primeiro para depois seguir até a biblioteca e pesquisar sobre lendas, estratégia, guerras, e várias coisas mais. É que às vezes parecia uma tremenda perda de tempo sabendo da quantidade de coisas que ainda tinha que ler... Eu com certeza não morreria de fome.
Naquela semana haveria o dia dos namorados e por isso eu estava moída. Tinha que aguardar as fofocas românticas e sussurros exasperados de todos acabarem para que finalmente dormissem e houve noites que isso aconteceu apenas depois das onze horas. No final das contas eu acabava saindo muito tarde e deixava para caçar em outro dia, perdendo tempo de sono também para cumprir meus prazos de leitura.
Sonolenta e faminta eu estava completamente fora do ar quando voltava para o orfanato naquele quatorze de fevereiro, tanto que apenas reparei na figura dentro dos jardins quando estava próxima o suficiente para enxergar seu rosto.
Ethan estava de cócoras nas sombras e fumava. Percebi que era ele pelo seu cheiro e me aproximei o mais lentamente que pude depois de tentar controlar o coração acelerado pelo susto.
- O que você é afinal? ? perguntou repentinamente, ainda contemplando a fumaça do cigarro.
- Eu não sei se você merece confiança pra saber mais do que já sabe. ? respondi, friamente.
- Deixa-me ver se adivinho então... ? ele jogou a guimba de cigarro com um gesto displicente.
Eu aguardei imóvel.
- Você é inteligente, parece ter mais idade do que tem. Come, mas não parece sentir prazer nisso, gosta do sol, se interessa pelo relacionamento das pessoas daqui como se estivesse nos estudando, se move rapidamente, quase não dorme... E parece não sentir dor.
Ele era tão observador quanto eu tinha deduzido.
- Yeah. ? concordei.
- Não tenho ideia do que é você ? respondeu com um sorriso.
Então para minha surpresa senti o poderoso cheiro... Esse era diferente, um pouco cítrico e ferroso, mais ainda bom. Querendo ou não as minhas memórias do encontro com Jacob no Deadman´s Lake me cegaram por um momento, como uma lança a diferença se fez nítida (como não tinha pensado nisso antes?)
Dei três passos para trás.
- Oh... ? ele fez lendo minha reação enquanto colocava sua mão ao lado do corpo, sangue pingando no chão.
O odor e o sabor do sangue de Jake estavam marcados em mim como se tivesse uma queimadura que nunca curasse.
Eu já tinha me alimentado com sangue humano ? era isso que colocavam na mamadeira ? e era, digamos, algo bom. Natural. Algo que ansiava como um prato de bife para os humanos e que talvez ficasse frenética se ficasse sem por algum tempo, o que era compensado pelo sangue de animais...
Só que não se comparava a atração do odor e do poderoso gosto (tão quente e denso...) do de Jacob. O engraçado é que agora pensando nisso não ansiava por ele com ?fome?, era quase um líquido sagrado que teria cuidado ao degustar, com prazer e adoração.
Como sobremesa após um delicioso jantar...
Tremi ante a mistura de desejo e saudade antes de retornar minha atenção à realidade, apenas um segundo havia se passado. Minha garganta parecia ter labaredas de fogo, o sangue de Ethan poderia ser meu jantar por que agora eu estava com FOME.
- Você quer. ? declarou com aquela certeza desconcertante ? Mas é um vampiro?
- Não. ? respondi dando outro passo para trás enquanto ele deu mais um em minha direção.
- Pode me transformar?
Eu o encarei, surpresa. Era isso o que ele queria? Imortalidade?
- Não ? respondi com desprezo.
Ele percebeu meu sentimento, mas continuou indiferente.
- Então só me diz o que você é. ? Ele continuou se aproximando, eu estanquei.
- Mestiça. ? finalmente confessei.
- Interessante. ? e ele me pareceu realmente interessado - Acho que já chega de responder perguntas por hoje
?Com certeza?, pensei irritada. Eu era uma droga pra disfarçar minha verdadeira natureza.
Ele então fez um barulho com a boca pra chamar minha atenção.
Psiu!
- Você não quer? ? ele levantou a mão sangrando, o cheiro mais próximo fez meu coração acelerar piorando a situação.
- Por que você faria isso? ? perguntei extremamente tentada.
Agora conseguia entender o quanto tinha sido descuidada... Ficar tanto tempo sem sangue libertou minha Fome. Era como se um plugue dentro do meu cérebro tivesse se desligado, e infelizmente para mim ele se chamava autocontrole. E eu ainda tinha como plano acabar com os Governantes dos Vampiros!
?Há, que piada!?, eu era uma fraude. Encurralada por um humano de treze anos (eu tinha descoberto sua idade).
- Não precisa ficar com vergonha. ? tentou tranquilizar.
?Sou tão fácil de ler quanto um outdoor?, levei minha mão á testa com ódio.
- Eu não ligo. Você não vai me sugar até a morte, não é? ? continuou.
Eu ri da ideia.
- É a primeira vez que te vejo rindo... ? ele comentou de repente, me desconcertando. - É bonito, o seu sorriso.
Então ele se aproximou mais e levantou a mão em direção á minha boca. Hesitei por um segundo e então em um gesto rápido eu agarrei a mão estendida e mordi forte, aumentando a abertura para liberar o líquido em um fluxo maior.
Puxei o sangue com força e ele então fez algo estranho: em vez de gritar, gemeu com uma voz rouca em um tom que eu nunca tinha ouvido antes.