Histirias de terror

  • Finalizada
  • Kakashifoda
  • Capitulos 13
  • Gêneros Sobrenatural

Tempo estimado de leitura: 53 minutos

    14
    Capítulos:

    Capítulo 4

    O armario parte 1

    Linguagem Imprópria, Violência

    O Armário

    Joel abre as portas e confere se está tudo em bom estado. Não tem dúvidas de que acertara com o presente. Tinha muita sorte, pois o pouco dinheiro que guardará nos últimos três meses fora o suficiente para presentear sua mulher.

    A peça era exatamente como Tereza queria, grande e espaçosa. Sem contar que o estilo rústico, que lembrava muito móveis artesanais e peças do século XIX davam um ar de luxúria, para aquele que era um velho armário comprado em uma simples loja de usados.

    Seus olhos percorrem com calma as prateleiras e a surpresa vem escondida em um canto, atrás do suporte de uma das superfícies do antigo móvel. A surpresa vem com palavras.

    ?Pode soar como o resultado de uma mente desequilibrada, e digo que isso não deixa de ser verdade. Mas pergunte a si mesmo, se não é, desde o início dos tempos, o desequilíbrio uma característica do comportamento humano. Sim ou não?

    Eu acredito que sim. Acredito que um dia, todo homem fica um pouco louco. Mas o ato que agora início, também tem uma grande carga de sanidade, pois escrevo para me salvar e loucos nunca se preocupam com isso. Então me vejo perdido em um paradoxo. É realmente, estou me perdendo.

    Mesmo sabendo que essa carta pode nunca ser encontrada, há algo que me diz que preciso deixar registrado isso que vêm me afligindo. Ah, pensar que nunca me imaginei nessa situação! Pensar que nunca fui de escrever! Mas agora há essa necessidade e tudo isso é culpa do medo, e do desiquilíbrio que esse traz! Já não aguento guardar isso dentro de mim, não mesmo. Confesso que até tenho vergonha do que narrarei, uma vergonha que só não me impede de ficar quieto por que o medo é maior.

    Eu preciso dizer, para liberar-me de tudo isso que venho sentido, para explicar o motivo de minhas noites dormindo no sofá e acima de tudo para deixar de ser escravo desse pesadelo que me priva de seguir em frente.

    Espero que com palavras a dor seja amenizada. Sim, ter medo dói.

    Juro que sempre fui um homem cético e até agora me vejo perdido em um abismo, onde o que é real está em confronto com aquilo que eu sempre achei ser obra da imaginação. Mas já são tantas dúvidas e anseios que prefiro não pensar nisso. Acabei aceitando isso tudo como uma paranoia só para não fugir daqui, só para não ser obrigado a pregar uma bala em minha cabeça. Acabei encontrando, como uma solução para amenizar o que sinto, a oportunidade de contar minha história. A chance de passar tudo para o papel. Sim, estou dando voltas e não indo a lugar nenhum, mas me perdoe, não sou escritor, e já disse estou perdido.

    Queria deixar mais claro que o que vem acontecendo não é tão simples assim, pelo menos para mim. Mas me faltam palavras agora, quem sabe se eu deixar meus pensamentos fluírem esse problema se resolva, quem sabe.

    Vou seguir e me transformar em leitor. Um escritor leitor escreve muito melhor, ouvi isso a muito tempo atrás, são palavras de minha falecida avó, essa sim escrevia, e muito.

    A partir de agora, vou ser você, você que não está aqui agora. E peço que você quando ler, também se torne eu e viva comigo meus tormentos.

    Não se incomode, nem ria de minha desgraça, mesmo que tudo soe de uma forma quase que banal, mesmo que pareça que essa é uma daquelas histórias para crianças não dormir a noite. Te garanto, não é um conto de horror, mesmo não faltando horror em tudo que será expressado.

    Há algo ruim em meu quarto, mais precisamente em meu armário. Algo mal, algo que só se dará por satisfeito quando eu estiver morto.

    Não disse que ia parecer loucura! Sim, é loucura, mas ao mesmo tempo é real. No começo eram pesadelos, meros pesadelos.

    Começou no dia em que eu herdei o armário. Foi mais ou menos assim:?

    Joel para a leitura. A indecisão toma o controle se seus atos, prossegui com os olhos por aquelas letras tortas agora é uma dúvida.

    ?Não, isso não é certo, é loucura? Fala para si.

    Dobra o papel já amarelado pelo tempo, que parecia estar a anos escondido naquele armário. Encara o móvel novamente, percebe que ele não é mais dono de tanta beleza.

    Guarda o estranho relato no bolso e fecha as portas do armário. Desce para a sala e lá aguarda a chegada da esposa.

    Quando Tereza entra, Joel nada fala. O ânimo que sentia em presentear sua amada fora embora e algumas das palavras daquela maldita carta encontrada no armário ecoavam em sua cabeça.

    ?Há algo ruim em meu quarto, mais precisamente em meu armário. Algo mal, algo que só se dará por satisfeito quando eu estiver morto.?

    - Só pode ser loucura, isso não é possível. Diz Joel encarando o nada, mas novamente aquele estranho da carta, aquele desconhecido, volta a falar em sua cabeça. Fala com sua própria voz, mostrando que agora ele é autor, leitor. Mostrando que agora parte da dor já foi compartilhada.

    ?Acredito que um dia, todo homem fica um pouco louco... Todo homem fica louco, pelo menos um pouco... Todo homem fica...?

    Os devaneios são cortados pelo abraço de Tereza, que agarra Joel por trás e lhe aplica um beijo no rosto.

    - Eu adorei meu amor. São as palavras da mulher.

    - O que? Diz Joel perdido, como se não estivesse ali.

    - Ora, o armário, é maravilhoso!

    Encara o sorriso da esposa, um sorriso lindo. Mesmo completando 49 anos ela continua bela. Ainda lembra muito aquela garotinha de dezenove com quem Joel se casou a tanto tempo atrás. Pouca coisa tinha mudado, efeito do tempo é claro. Mas havia algo que misteriosamente ficara preservado, era o sorriso. É difícil de manter o mesmo sorriso com o passar dos anos, geralmente a rotina da vida o destrói, geralmente as pessoas se esquecem de sorrir, e tudo que se perde o costume, perde também em essência. Mas Tereza ainda sabia como o fazer, sim, ela sabia.

    - Fico feliz que tenha gostado. Fala o homem.

    Os dois beijam-se, e começam uma conversa. Que vem na hora certa, pois faz Joel se esquecer da maldita carta, faz da realidade que lhe aflige, algo vago.

    Mas o tempo passa e a noite chega, trazendo com ela alguns problemas. Problemas que antes não existiam.

    - Você não vai se arrumar para o trabalho? Pergunta Tereza enquanto lava a louça.

    Joel que ajudava guardando os talheres, havia esquecido de suas obrigações. O trabalho de vigilante noturno nunca lhe incomodara, mas naquele momento, ao entender que em poucos minutos teria de deixar Tereza sozinha em casa, sozinha com o novo armário, o homem se assusta. Chega até em pensar na possibilidade de faltar, afinal era aniversário de sua mulher. Mas a ideia não era correta, faltava dinheiro na casa, trabalhar era necessário. Joel não podia se deixar levar pelas palavras de um estranho, de um louco, não mesmo.

    - Vou fazer isso agora. Comenta o homem se dirigindo ao quarto.

    Entra, fita outra vez o armário. Ele parece desconexo, parece não pertencer aquela casa.

    ?Como diabos eu fui comprar essa coisa!? Pensa Joel enquanto se veste.

    Enfim pronto, vê no chão a calça, na qual no fundo de um dos bolsos está a carta. Se agacha e tira ela dali. Não quer que Tereza encontre, não quer que a mulher se assuste.

    Guarda o papel na jaqueta e volta para cozinha.

    - Eu te amo, tenha um bom trabalho. Diz Tereza e dá um beijo leve em Joel.

    Ele reponde com um beijo ardente, aperta a mão da esposa e sai da casa. Pensativo, carregado de receio. Com medo do que pode acontecer.

    CONTINUA


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