É por amor.

Tempo estimado de leitura: 6 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Ninguém em casa.

    Álcool, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Olá pessoal!

    O capítulo de hoje preencherá algumas das lacunas deixadas pelo anterior!

    Escrevi com muito carinho e espero que gostem!

    A música do capítulo é da Avril Lavigne - Nodody's Home! (Deixarei postada nas notas para que possam ler escutando-a).

    Link:http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Df3WDXfhlwI

    Nota:

    Kotatsu: É aquela pequena mesa baixinha com aquecedor embutido e lacrada por um cobertor espesso, que no Japão eles costumam usar para comer, estudar e etc... em dias frios!

    Boa leitura!

    A noite seguiu-se agitada na luxuosa cobertura daquele prédio e em meio à vida noturna daquela grande e movimentada cidade...

    (...)

    Os olhos abriram-se miúdos, intimidados pelos primeiros raios de sol daquela manhã, que adentravam pelas vidraças da enorme janela do quarto. Custosamente sentou-se sobre o emaranhado de lençóis, a cabeça latejava, o mundo parecia girar. Observou ao lado a garota desnuda, enrolada no lençol, que dormia profundamente... Maldita ressaca!

    Levantou-se um pouco tonto e a passos desajeitados seguiu até o banheiro. Tomaria um banho bem gelado, para aliviar a tensão. Frente à porta, ele levou a mão à maçaneta e assim que a tocou, ouviu o barulho do celular vibrando sobre a madeira lisa do criado mudo, ao lado de sua cama.

    Sorrateiramente ele voltou para pegar o celular. Com o aparelho em mãos, rapidamente andou até o banheiro o adentrando e finalmente fechou a porta, atendendo a ligação:

    ? Diga! ? ordenou indiferente.

    ? Onde você está? ? indagou a voz masculina irritadiça do outro lado da linha.

    ? Estou na minha residência, ora... Onde mais eu deveria estar? ? respondeu com uma sarcástica pergunta.

    ? Seu moleque... Maldita hora que permiti que você comprasse esse apartamento! ? comentou apático.

    ? Não me venha com zombaria... No fundo eu sei que você adorou se livrar de mim! Aposto que agora as suas amantes estão tendo mais liberdade do que antes, Uchiha Fugaku! ? retrucou com pesada ironia.

    ? Eu sou seu pai e exijo respeito, seu bastardo! ? vociferou autoritário.

    ? Hum... ? ignorou com desdém.

    ? Enfim, só liguei para lembrar-lhe de que marcamos para conversamos hoje... Portanto esteja lá em casa às sete da manhã sem falta! Não tolerarei atrasos... ? foi interrompido.

    ? Tsc! Hoje é domingo, olha só... ? ia começar a reclamar mas desistiu. ? Quer saber? Tchau! ? despediu-se desligando na cara do mais velho. ? Como ele descobriu esse novo número? Que ódio... Agora a minha dor de cabeça piorou!

    Nervoso por causa daquela ligação, o moreno jogou o celular dentro do vaso sanitário. Não iria atender mais nenhuma ligação.

    Fulo de raiva, o rapaz completamente nu, levou a mão esquerda à válvula, projetando-se frente à ducha, ligando-a.

    Os olhos fecharam-se, os fortes jatos de água fria colidiam contra a face e o tórax, percorrendo pelos músculos tensos do rapaz, aos poucos o relaxando. Após alguns segundos desvencilhou a cabeça, retirando o rosto do rumo d?água, abrindo os olhos negros outra vez, estampando sua expressão vazia.

    Costumava acordar mal-humorado, ainda mais quando estava de ressaca. Nada lhe importava na vida, a não ser os privilégios que o dinheiro podia lhe proporcionar. Frequentar festas, colecionar carros e mulheres eram alguns de seus passatempos favoritos, porém, aquilo ultimamente não era o suficiente para tirar-lhe o tédio.

    Sentia-se como se mesmo com tudo o que sua riqueza podia lhe dar, ainda faltasse algo. Olhava ao redor e sempre percebia que estava sozinho. E o que mais o irritava era a hostilidade da solidão que às vezes o obrigava a se lembrar dela... Aquela menina do passado que ficara apenas em suas vagas recordações.

    ? Tsc... Tenho de me apressar ou aquele velho indecente pode acabar vindo atrás de mim! ? pensou exasperado.

    Desligou a ducha, rapidamente pegou a macia e espessa toalha branca pendurada no suporte dourado, incrustado na parede, enrolando-a da cintura para baixo.

    Os cabelos negros molhados caíam sobre a testa alva do jovem, a água escorria por seu rosto e seguia pelo peitoral definido que ele possuía.

    Os passos pesados e desleixados, ele foi até o closet pegando as primeiras peças de roupas que avistou. Não estava com ânimo para ficar escolhendo o que usar. Agilmente se vestiu e ainda descalço, ele saiu do enorme armário, terminando de enxugar os cabelos:

    ? Karin! Estou de saída... Levante-se, tome o café e vá embora! ? ele ordenou passando ao redor da cama com os sapatos em mãos e saindo do quarto.

    ? Sasuke, porque você faz isso comigo? ? ela indagou abrindo lentamente os olhos e vendo que ele já não estava mais no cômodo. ? SASUKE! ? ela gritou irritada, sentando-se na cama.

    ? O que foi? ? o rapaz que seguia pelo corredor, regrediu os passos e se pôs em frente à porta.

    ? Aonde você vai? Eu quero ficar o dia todo com você... ? foi interrompida.

    ? Aonde vou não é da sua conta! Não sei quanto tempo irei demorar e quando eu chegar... É melhor que você já tenha sumido daqui! ? ele alertou entediado e voltou a caminhar, não esperando a resposta da garota.

    ? SASUKE... SEU DESGRAÇADO! ? o berro da jovem ecoou por todo o apartamento.

    ? Que saco... Só bêbado mesmo pra comer essa coisa irritante! ? resmungou chegando na cozinha e levando a mão à maçaneta, abrindo a porta.

    Foi até a geladeira, era folga da velha empregada, portanto havia apenas sobremesas e bebidas dentro do refrigerador.

    Frustrado com aquela situação, ele pegou uma pequena garrafa de leite e despejou dentro de um copo. Foi até um dos armários, capturou um pacote de biscoitos de chocolate e se sentou à mesa.

    Inconscientemente, como há muito tempo não fazia, ele pegou uma das bolachas e levou até o copo, mergulhando-a no líquido branco. Quando deu por si, já havia levado aquilo à boca. Engasgou-se com a surpresa, se levantando rapidamente e cuspindo tudo na pia. Irritado com aquele deslize, pegou o copo e despejou todo o conteúdo ralo a dentro, colocando o copo de vidro de forma desajeitada sobre o mármore negro, fazendo-o estilhaçar.

    Abriu a geladeira novamente e pegou uma garrafa de suco de uva, levando-a diretamente à boca. Tomou quase toda a bebida em um único fôlego e depois a colocou de volta no lugar, fechando a porta do refrigerador.

    Sentou-se na cadeira outra vez, para colocar os sapatos. Os cabelos lisos, úmidos, ele apenas ajeitou, levando-os para trás com as mãos. Foi até a sala, apanhou a chave do carro que estava jogada sobre a pequena mesa de vidro de centro e entrou no elevador descendo até o estacionamento do prédio.

    (...)

    Após a tarde cálida de primavera, a fria brisa deu-lhe as boas vindas ao começo da noite. Quando se deu conta do tempo, o céu já estava escurecendo e ela ainda sentada sobre o banco continuava a desenhar a paisagem.

    Juntou suas coisas e guardou tudo na bolsa. Pôs-se de pé e observou por alguns segundos aquele lago que lhe trazia tantas recordações...

    No passado os dois amigos, sempre que podiam, fugiam juntos para brincar naquele lugar e todas às vezes acabavam ficando até a noite para admirar a lua que refletia sua luz naquelas águas cristalinas.

    O vento que se iniciou de repente, esvoaçou os cabelos róseos da menina tirando-lhe de seus devaneios. Precisava ir antes que escurece ainda mais:

    ? Hoshi! Vamos pra casa! ? ela chamou o cão que corria em círculos atrás de uma borboleta.

    O cachorro obedeceu e foi correndo até a sua dona.

    ? Isso aí amigão... ? ela disse se agachando e acariciando o animal. ? Bom menino! ? elogiou prendendo a corda na coleira dele e o puxando.

    Os dois tomaram o rumo de casa e a passos despreocupados foram caminhando pelas ruas daquela pacata cidade aos arredores de Tokyo, afinal, a pressa era desnecessária uma vez que não havia ninguém em casa esperando por ela.

    Quase vinte minutos depois os dois chegaram no pequeno apartamento. Assim que adentraram, o cão correu até a cozinha e ela trancou a porta, jogando a chave sobre a mesa. Seguiu até seu quarto para guardar a bolsa e já aproveitou para vestir o pijama, pois, mesmo que ainda fosse cedo da noite, dezenove horas, para ela o dia já havia acabado e como sempre não sairia mais de casa.

    O cachorro saiu da cozinha, indo atrás da dona. Aproximou-se dela e chacoalhou a cabeça choramingando:

    ? Oh Hoshi, desculpa! ? ela pediu se agachando e retirando a coleira dele. ? Pronto! Assim está melhor? ? ela inquiriu sorridente.

    O cão latiu abanando o enorme rabo sem parar, demonstrando sua felicidade. Ela riu, se sentando sobre a cama já trajando o seu pijama verde claro, para colocar as meias nos pés gelados. Mesmo que a temperatura durante o dia tivesse sido ótima, à noite ainda fazia um pouco de frio naquele lado do hemisfério.

    ? Vamos jantar, Hoshi! ? ela passou a mão na cabeça do cão e juntos saíram do quarto, indo para a cozinha.

    Chegando lá, Sakura foi até o armário, pegou a ração do cachorro colocando-a na vasilha dele. Em seguida apanhou seu ?Cup Noodles? sobre a mesa, abriu apenas uma parte da tampinha e despejou a água quente da garrafa térmica, colocando os hashi sobre o copo para manter a tampa completamente fechada.

    ? Né, Hoshi... ? ela cruzou os braços sobre a mesa, esperando os três minutos. ? É muito difícil achar casas para alugar por aqui... O que faremos quando daqui uma semana a bruxa velha e seus comparsas nos despejarem? Seremos moradores de rua? ? perguntou ao cão, como se esperasse por uma resposta. Ele apenas foi até sua vasilha e começou a comer. ? É... Você nem liga, né? Se bem que, acho que vocês animais de estimação não se importam com o lugar onde moram, desde que estejam ao lado de seus donos, né? ? indagou desta vez obtendo um alto latido do cachorro, que parecia ter concordado. ? Kyah... ? ela se levantou da cadeira, correu até o amigo e se ajoelhou em frente a ele, o agarrando. ? Ah, Hoshi... Obrigada por não me abandonar neste momento crítico... ? ela agradeceu naquele abraço ao cão que tentava se libertar dela para continuar comendo.

    Ela soltou o cachorro e sentou-se novamente na mesa. Já haviam se passado os três minutos, então ela retirou os hashi de cima da tampinha, abrindo-a e começou a comer o rámen.

    Após o término da refeição, a garota de cabelos róseos colocou o copo sobre a pia, esperou o cão sair e apagou a luz da cozinha, seguindo até o quarto.

    Adentrando o cômodo, ela foi até a janela, entrelaçando as cortinas da mesma. Hoshi pulou em seu colchão fofinho, andou em círculos buscando uma boa posição e deitou. Sakura apagou a luz do quarto, correu na direção de sua cama, tropeçando no cão e caindo de cara em seu colchão.

    Recompondo-se, ela levantou o rosto, cuspindo alguns dos pelos do cobertor que adentraram a boca, logo se enfiando debaixo dele. Acendeu a luz do abajur, colocou os óculos e pegou um livro posto sobre a cômoda que ficava ali perto, começando a ler.

    (...)

    O relógio preso ao pulso do garoto já marcava onze horas da manhã daquele domingo e nada do seu pai ainda. Haviam marcado às sete horas e o maldito velho que dissera não tolerar atrasos, atrasado já estava há quatro horas.

    ? Tsc... Jane! ? o rapaz gritou o nome da governanta, que era estadunidense.

    ? No que posso ajudá-lo, senhor? ? ela inquiriu assustada ao vê-lo alterado.

    ? Cadê aquele velho desgraçado?! Ele ainda não chegou do ?Puteiro?? ? perguntou exaltado.

    ? Oh my God! ? a velha senhora arregalou os olhos, chocada. ? O s-senhor Uchiha disse para que o aguardasse, pois surgiram alguns imprevistos numa reunião de negócios! ? ela avisou engolindo a seco.

    ? Sei bem quais são esses ?negócios? daquele velho filho da puta... Que Deus a tenha vovó! ? ele anunciou olhando pra cima após xingar a mãe de seu pai.

    ? S-Senhor, quer um copo d?água com açúcar para se acalmar? ? indagou suando frio.

    ? Não quero me acalmar, quanto mais nervoso eu ficar, maior será o desastre que acontecerá nesta conversinha de pai e filho! ? ele advertiu fitando o nada malignamente.

    ? Ah minha nossa senhora... Será que hoje vai rolar sangue aqui na mansão Uchiha? Tenho que ir avisar as meninas da limpeza para comprarem a pipoca... ? ela pensou ansiosa. ? Bom! Se o senhor precisar de alguma coisa é só me chamar... ? alertou a mulher saindo de fininho da sala.

    ? Hum... ? o moreno ignorou, permanecendo com o olhar diabólico.

    Mais dez minutos se passaram, os portões automáticos se abriram e o carro preto luxuoso adentrou a mansão, estacionando frente ao portal. Furioso o rapaz em pé no alpendre aguardava pelo mais velho:

    ? Ora, que bom que você não se atrasou, Sasuke! ? comentou Fugaku seguindo até o filho.

    ? Como é que é? SEU VELHO MALDITO! Eu cheguei aqui as sete em ponto, ouviu? AS SETE EM PONTO! ? rugiu cerrando os punhos.

    ? Oh, desculpe-me! Tive de lidar com algumas urgências na empresa e... ? foi interrompido.

    ? Haha... Não me faça rir! Desde quando há urgências em bordéis, hein? ? perguntou com sarcasmo. ? A menos é claro que você tenha broxado... Seu MERDA! ? completou com deboche.

    ? CALE-SE! ? o homem levou a mão para desferir um tapa no rosto do rapaz, porém, ágil, o jovem segurou o pulso do pai.

    ? Não ouse encostar essa mão suja em mim... ? ele advertiu com muito rancor na voz sombria.

    ? Precisamos conversar logo, não tenho muito tempo! ? o mais velho se soltou do filho e adentrou a sala, sentando-se na poltrona.

    Calado, o garoto entrou também e se sentou no sofá:

    ? Pois então, desembuche logo, pois eu também não tenho o dia todo para desperdiçar com você! ? informou um pouco mais calmo.

    ? É o seguinte, Sasuke! Você vai voltar para o Japão! ? avisou inexpressivo.

    ? Hum... Espera aí! Como assim? ? ele se levantou do sofá fulo de raiva.

    ? É o que você ouviu! ? confirmou entediado.

    ? Eu sou maior de idade, você não tem essa autoridade sobre mim! ? ele lembrou com ironia.

    ? Uchiha Sasuke... Você pode até ter dezoito anos e ser considerado de maior aqui na América, mas no Japão, que eu saiba, até os seus vinte anos você ainda estará sob a minha tutela... Afinal, mesmo que não esteja morando lá, ainda assim você é um cidadão japonês! ? ele esclareceu com desprezo.

    ? Porque você vai fazer isso? ? o mais novo indagou abaixando o tom de voz.

    ? Hoje eu vejo o quão mal a vida no ocidente lhe fez... Mas não é por isso que estou te mandando de volta! Eu fiz sua matrícula na Universidade de Tokyo! ? contou tranquilamente, deixando o jovem chocado.

    ? Com que direito você fez isso sem me consultar? ? ele exigiu enraivecido.

    ? Com o direito de pai que possuo! Você fará economia e até ganhará estágio na bolsa de valores de Tokyo! ? zombou deixando escapar uma breve risada.

    ? Desgraçado... Não irei passar na prova de admissão, seu cretino! ? alertou sério.

    ? Não me subestime moleque... Sua vaga já está garantida! Não haverá prova alguma!

    ? Você... Suborno, é? ? inquiriu com nojo.

    ? Não meu querido filho... Isso se chama ?contatos?! Deviam-me alguns favores e eu... Bom! Você entendeu! ? terminou se levantando da poltrona.

    ? Maldito... ? o moreno murmurou mordendo o lábio inferior de raiva. ? Quando será isso? ? ele perguntou se levantando do sofá.

    ? As aulas começam em abril e olha que beleza... Já estamos em março! ? salientou segurando a risada. ? Acho que você já pode ir aproveitando a América enquanto pode, pois o seu voo partirá em três semanas! ? sugeriu soltando uma risada sinistra e saindo do cômodo. ? Adeus, meu filho!

    ? Maldição... ? estarrecido ele saiu da mansão e entrou em seu carro. ? Eu... ? ele levou a mão ao porta-luvas, abrindo-o e avistou uma pequena foto, nela havia apenas uma menina de cabelos róseos, tímida, atrás de seus óculos enormes. ? Não quero voltar! ? ele acariciou a imagem e fechou rapidamente a pequena porta.

    (...)

    A segunda-feira havia chegado e passado lentamente enquanto a menina de óculos, atrás do balcão, lia um livro após o outro, naquela biblioteca silenciosa, vazia.

    Assim que deu o seu horário, a rosada retirou os óculos, juntou suas coisas e colocou dentro da bolsa. A moça que ficava no turno da noite já havia chegado e assumido o seu serviço.

    Preocupada com o futuro, a cabeça cheia de problemas, no caminho ela passou na imobiliária, para ver se achava alguma casa ou apartamento para alugar, mas nada encontrou.

    Mesmo que tivesse dado errado desta vez, ela tinha esperança que ainda iria encontrar um cantinho para morar. Ela não precisava se apavorar naquele momento, pois ainda lhe restavam seis dias para procurar por um novo lar... Ao menos era isso que ela imaginava!

    O céu já estava escurecendo, deveria ser por volta de dezenove horas, o vento gelado repentino a fez segurar com força o casaco que vestia, apertando-o contra si.

    Ao se aproximar do prédio onde morava, adentrou o térreo e observou o seu cachorro ao lado de uma mala, aguardando-a ali ao lado da síndica:

    ? Takeda-san? ? ela olhou assustada para a mulher, os olhos marejaram.

    ? Olha... ? ela suspirou pesadamente. ? Infelizmente Sakura, você terá de partir hoje! ? avisou a senhora friamente.

    ? V-Você disse uma semana... ? ela lembrou com a voz embargada pelo choro.

    ? Animais nunca foram permitidos aqui neste prédio, no começo eu lhe acobertei, pois devia muito para a sua finada mãe... E desde então, já se passaram quase dois anos! Agora com essa ordem de despejo, o proprietário daqui ficou sabendo sobre o Hoshiko e exigiu a sua expulsão imediata! ? informou a mulher indiferente.

    ? M-Mas... Por favor, eu não tenho pra onde ir! Eu não tenho família... Eu não tenho ninguém! ? ela falou baixinho, as lágrimas caíam dos olhos verdes trêmulos.

    ? Eu sinto muito, Sakura! ? a mulher virou-se para o objeto ao lado do cão. ? Aqui está a sua mala, você não tem muitas roupas, portanto, couberam quase todas aí dentro... ? ela entregou a grande mala preta nas mãos delicadas da jovem. ? E quanto à mobília e o restante de suas roupas, ficarão guardadas no depósito do prédio até que você possa mandar alguém para buscá-las! ? a senhora deu de costas e começou a caminhar. ? Boa sorte, menina!

    Atordoada, a pobrezinha caiu de joelhos no chão, fitando o nada enquanto tentava entender aquela situação. O cachorro chateado, lambeu o rosto da menina, buscando animá-la.

    ? Gomen ne, Hoshi! ? ela se levantou e com as duas mãos pegou na alça da mala pesada. ? Vamos Hoshi... ? ela engoliu o choro. ? Nós não moramos mais aqui! ? ela começou a caminhar e o cão passou a acompanhá-la.

    Na noite mais fria da primavera, a garota que havia acabado de voltar de mais um dia de trabalho na biblioteca, havia se deparado com a hostilidade do desamparo.

    Caminhava pelas ruas vazias da cidade e podia ver pelas janelas de algumas casas, famílias reunidas no kotatsu, comendo, jogando conversa fora, rindo, brigando e tudo mais que tinham direito, tão unidos...

    Entristecida, ela seguiu andando com dificuldades, por causa do peso da mala, sem rumo, sendo acompanhada pelo único e fiel amigo que tinha. Ao relento o frio dominava e a respiração ofegante, desfazia-se em fumaças que saiam da boca. Se antes lhe doía não ter ninguém lhe esperando em casa ao menos para jantar quando voltasse, agora sequer ela tinha um lugar para onde voltar.


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