Wolfer

  • Pusly
  • Capitulos 3
  • Gêneros Aventura

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

    16
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Ritual.

    Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

    Boa leitura.

    Conforme caminhava pelo caminho de pedras, Sanny chutava-as levemente, deixando algumas saltarem como nas brincadeiras já esquecidas por si de sua infância. Não havia como não lembrar-se que, dali a algumas horas, seria um lupino fértil.

    Teria mais responsabilidades, mas agora, consigo mesmo.

    Alguns metros à sua frente, podia vislumbrar os últimos detalhes serem feitos por dominantes e lupinos encarregados de tal tarefa. Não poderia achar menos que magnífico cada decoração.

    Pairavam, sobre grandes troncos de madeira, pequenos cipós repletos de flores brancas, todas trançadas, formando vários arcos sobre majestosas flores estendidas sobre o chão. Estas, rosas vermelhas.

    O branco representaria a ascendência, enquanto o vermelho o amor, desejo e luxúria presente em cada casamento realizado dali em diante.

    Os galhos decorativos estavam retorcidos em ambos os sentidos, tanto ao norte quanto ao sul, simbolizando a passagem de um extremo para o outro assim como a nova faze da vida.

    _ Não corra com os enfeites! Stav, volte para cá imediatamente!_ Ouviu a voz de um dos dominantes encarregados da decoração nos cipós mais altos.

    A figura ruiva passou por si aos risos enquanto segurava vários ramos de lírios brancos. Não pode deixar de sorrir. Stav, apesar de ser como todos ali em relação a si, não deixava de ser um pequenino lupino gracioso. Possuía os mesmos cabelos e sorriso que Ôtani, porém, ainda mantinha uma personalidade inocente e gentil.

    Sanny não deixava de expressar sua ansiedade.

    Como iria ocorrer? O que iria sentir?

    Essas, eram perguntas que ele mesmo fazia não esperando por respostas.

    Dali a poucos minutos, os dóceis seriam convocados pelos anciões e levados até a grande toca, onde seriam separados dos dominantes devido à grande quantidade de feromônios que liberariam durante a passagem pelo ritual.

    Suspirou e voltou sua atenção para as pequenas pedrinhas abaixo de seus pés. Continuou a caminhar, esperando logo tudo acabar e assim, voltarem a terem suas vidas normalmente.

    _Venha até aqui, jovem ômega._Sanny sobressaltou-se ao escutar alguém lhe chamar.

    Virou-se e assustou-se por ter sido tão descuidado. Era Oscar, o grande ancião da alcateia, parado a poucos centímetros a sua esquerda.

    _Sim, senhor._Respondeu após a vênia que fez diante ao ancião.

    Apesar de encontrar-se tristonho, não deixou transparecer. Deveria manter-se firme e obedecer às ordens daqueles que obtinham poder sobre si.

    _Quero que me acompanhe sem questionamentos._Ordenou Oscar, virando-se e caminhando.

    Sanny abaixou seu olhar e pôs-se a segui-lo.

    Como a noite já brincava pelo céu, o caminho pelo qual percorriam era dificultado pela má iluminação.

    Sanny, percebendo-se seguir para um caminho oposto às luzes festivas, suspirou. Deveriam estar recolhendo-o, pensou.

    _Onde estão suas vestes, jovem?_Escutou a voz esganiçada perguntar.

    Olhou para o ser em sua frente, que havia parado ao seu lado e o encarava.

    _N-não tenho nenhuma..._Respondeu deixando seu olhar pairar sobre os pés descalços, agora sobre a relva macia.

    Ouviu um suspiro. Certamente seria de cansaço.

    Voltaram a caminhar e Sanny surpreendeu-se quanto ao caminho que agora pegavam.

    O local no qual se encontravam era composto por pequenas cabanas feitas em carvalho, tendo sua circunferência coberta por ramos de folhagens rasteiras. Como ficavam em uma colina, demoraram alguns minutos para que finalmente parassem em frente à cabana ?Altar?. Ali ocorriam casamentos, batizados e afins na alcateia.

    Sanny sempre foi proibido de subir até ali. Não entendia o motivo para estar presente, agora.

    _Quero que permaneça neste local até o bater das dez horas. Exatamente até as dez!_O ancião frisou com impaciência. Parecia nervoso, fazendo com que Sanny estremecesse._ Entendeu, jovem ômega?

    Sanny tentava permanecer calmo. Não se lembrava da última vez em que alguém, de suma importância, viera lhe pedir algo que para si era proibido.

    Estava assustado.

    _S-senhor..._Tentou, porém foi interrompido pelo bater dos punhos na madeira ao seu lado.

    _Não discuta. Deve obedecer-me. Não deverá sair daqui até o bater das dez horas!_A voz potente perfurava seus ouvidos em raiva. Sanny estremeceu._És escolhido para algo, pequeno lupino. Não deve questionar minhas decisões, apenas faça o que lhe ordenei.

    Sem mais explicações, o homem já de idade deixou a campina e voltou rumo ao local das festividades.

    Sanny, sentou-se sobre os degraus da cabana. Sentia seu corpo levemente dormente e a respiração teimava em permanecer afoita. Seriam estes os sinais do começo da mudança?

    Não sabia.

    Com esforço, conseguiu voltar a se acalmar. Sua mente viajava sobre os enfeites florais e as cortinas de cipó que tanto ouviu falar em sua infância. Queria poder ao menos vislumbrá-los antes do ritual, porém mais uma vez foi privado de algo que sempre sonhou.

    O vento, bem como a escuridão, já tomavam por completo o ambiente. A vista de onde estava era privilegiada. Os campos, nos quais adorava caminhar, agora tinham suas flores e pés de trigo balançando conforme a o vento lhes ordenava. Apesar da pouca iluminação, em meio à floresta, podia ver a claridade provinda das iluminações festivas. Seu coração se apertava em pensar que agora, os lupinos já deveriam estar sendo separados dos restantes.

    Como nunca teve alguém a quem pudesse perguntar sobre suas dúvidas, permaneceu inocente sobre muitas coisas. Apesar de conhecer os costumes, lendas e deveres, não conhecia de todo o mundo no qual vivia.

    Queria, muitas vezes, poder conversar, sentir e sorrir sobre os assuntos que já ouviu e não entendeu. Seria demais querer ter um pouco de semelhança com aqueles que deveriam ser sua família? Acreditava que não. Porém, sua realidade o fazia entristecer.

    _Queria que estivessem comigo hoje..._Sussurrou ao vento, esperando que em qualquer lugar onde seus pais estivessem, pudessem ouvir sua mensagem.

    Sabia que era tolice.

    Mas no momento, eram tolices que o faziam querer continuar.

    Permaneceu sentado sobre os degraus da cabana, imaginando como seriam se seus pais estivessem consigo. De fato, não seria muito diferente de agora. Seriam considerados ômegas, não importa o que fizessem.

    Ao longe, pode ouvir as cantigas antigas imperarem sobre a floresta. Definitivamente, agora o ritual já havia tido início.

    A cantiga, a qual acompanhou num singelo resmungar feliz, o acalmava. Sentia a brisa sobre o rosto, o sussurrar gentil da natureza...Tudo parecia mágico.

    De fato, era.

    Lentamente, levantou e andou, de olhos fechados, até a grama rala em sua frente. Sentia o vento convidá-lo a dançar, porém manteve-se inerte, escutando apenas o cantarolar vindo dos lares da alcateia Lúpus. Sua alcateia.

    Em um rompante, sentiu seu corpo perder suas forças e cair deitado sobre a grama. Tentou abrir seus olhos, mas não conseguiu.

    A cantiga permanecia em seu subconsciente.

    _Hummm..._Tentava pronunciar algo, mas nada inteligível deixava seus lábios.

    Sentiu o corpo arder, mas ao mesmo tempo se arrepiar. O vento permitia com que a grama acariciasse suas costas e pernas, o fazendo encolhe-las junto ao ventre.

    O vento não findava. Sentia tristeza, agonia... Amor.

    Abriu seus olhos quando uma onde de calor percorreu seu corpo.

    _Ahh..._Gemeu ao ter suas costas arqueadas. Sua respiração permanecia calma, porém em seu interior, uma luta era travada entre a lucidez e a loucura.

    Queria que tudo parasse. Queria sair daquele local.

    _N-não....Ah..._ Seu corpo remexia-se sobre o chão, como se sentisse sua pele ser tocada.

    Não soube quanto tempo permaneceu ali, sem controle sobre suas ações. Ofegos deixavam seus lábios e agora, até suas vestes esfarrapadas lhe incomodavam. Sentia calafrios pelo corpo, uma parte em essencial, sobre seus mamilos que se encontravam túrgidos pelo vento ou pelo calor interior. Já não sabia.

    Ao longe, percebeu a cantiga cessar, assim como seu corpo, que se deixara amolecer depois da luta interna.

    O Silêncio imperava em ambos os locais e Sanny permanecia com seus olhos fechados, apenas sentindo seu corpo voltar à normalidade.

    A respiração voltou e finalmente, pode abrir seus olhos. De fato, pareciam enxergar com outra perspectiva, como se fossem outros olhos ao invés dos seus. Levantou e sentiu o frio tomar-lhe o corpo. Por instinto, se alto abraçou e voltou a sentar-se sobre os degraus de madeira. Com calma, fitou suas mãos e braços. Aliviou-se por não encontrar nada incomum.

    _Isso me assustou..._Desabafou consigo mesmo.

    ?NÃO!?

    Um grito distante despertou-o de seus devaneios.

    Tentou desvendar de onde provinha tal barulho, porém o vento mantinha sua cantoria ainda forte. Permaneceu atento por mais alguns segundos, mas não voltou a ouvir. Suspirou, encostando suas costas sobre o tronco.

    ?Não deverá sair daqui até o bater das dez horas!?

    Lembrou-se da ordem. Não entendera o porquê. Acreditava que o deixariam preso em alguma cabana, mas esta ao arredores do vilarejo.

    Olhou para o céu. Já era dado agora, o horário.

    Levantou e arrumou suas vestes. Passou suas mãos pelos cabelos loiros e surpreendeu-se ao notá-los mais compridos que antes.

    _O-o que...?_Perguntou a si mesmo, quando trouxe seus fios frente ao corpo.

    Seus fios chegavam a sua cintura com alguns cachos nas pontas. Ainda assustado, levou seus dedos sobre o rosto e constatou ali, uma franja longa posta sobre seu olho esquerdo.

    Não entendia o que estava acontecendo. Sentia medo.

    A passos apressados, começou a descer a colina. Queria que alguém o explicasse...

    Assim que adentrou a pequena trilha pela qual veio, sentiu seus ouvidos tremerem.

    Parou e atento, permitiu sua audição lupina entrar em ação.

    Seus olhos foram se abrindo ao escutar barulhos nada comuns.

    Mais rápido que antes, Sanny permitiu-se tomar sua forma canina o quanto antes, porém, assim que a tomou, retornou a forma humana.

    _O que está acontecendo?_Desesperou-se.

    Sem escolhas ou tempo para suas dúvidas, começou a correr em direção a alcateia.

    Seus temores estavam certos. Uma nuvem de fumaça subia aos céus.

    _P-por favor, não..._Pediu, logo sentindo lágrimas formarem em seus olhos.

    Não parou de correr sequer por um momento, mesmo sabendo que seus pés poderiam estar machucados.

    Precisava chegar até lá.

    Assim que a trilha deu lugar para o caminho de pedras, Sanny jamais pode pensar que veria algo como aquilo.

    _NÃO!..._Gritou desesperado, levando suas mãos aos lábios e sentindo a dor lhe tomar.

    Suas pernas fraquejaram e Sanny foi ao chão sob seus joelhos.

    Antes, um lugar majestoso repleto de enfeites e felicidades pelo dia especial.

    Agora, um local coberto pelo sangue e fogo dando suas últimas chamas.

    Sanny mantinha seu olhar sobre o local e sentia o desespero aumentar ao ver corpos pelo chão.

    As cabanas, todas queimadas e aos pedaços...Os bambus retorcidos pelo calor...Dominantes abraçados aos lupinos, ambos já mortos...Crianças....Bebês...

    _NÃO, NÃO....!_Sentia o nó em sua garganta aumentar. Ver pessoas ali, pessoas que tinham suas famílias e estas também mortas...

    Sanny levantou-se. Apressado, entrou pela cena horrível, sentindo seus pés queimarem, porém não se deixou abater.

    Precisava achar alguém vivo. Precisava ajudar.

    À medida que caminhava, pode reconhecer algumas pessoas, o que lhe fez perder lentamente suas forças. As lágrimas aumentavam cada vez mais.

    _...Ôme...ga..._Assim que ouviu o chamado, limpou seu rosto e voltou sua atenção para o local proveniente da voz.

    Poucos segundos depois, encontrou a figura imponente totalmente nua.

    Correu os poucos metros que os separavam e então, para sua surpresa, viu ali, os dois bebês nos braços de quem o chamara.

    _A-alfa Cécil..._Ditou assim que abaixou-se e tocou o corpo esguio manchado pelo sangue.

    _Leve...meus bebês..._Cécil pediu, referindo-se aos gêmeos escondidos protetoramente em seus braços.

    Sanny prontamente pegou os bebês e sentiu, juntamente com Cécil, sua dor.

    Rapidamente procurou por algo no qual poderia colocar os bebês e achou, não muito longe dali, um cesto grande onde provavelmente repousaram as flores antes do ritual.

    Pousou os bebês que se lembrava ter alimentado ainda pela manhã. Sorriu ao examiná-los e constatar que não possuíam ferimentos.

    Voltou até Cecil e fez menção de levantá-lo.

    _N-não...Vá logo._pediu Cécil, com seus olhos fechados em dor.

    _M-mas Alfa, precisamos achar alfa Nereo...N-nós precis..._Foi interrompido pelas últimas forças do alfa lupino.

    _Não resta ninguém...N-Nereo foi morto diante de meus olhos... Pegue meus bebês e saia daqui o quanto antes!_Após a frase, uma crise de tosse o tomou, fazendo-o vomitar sangue.

    Sanny não queria deixá-lo ali... Queria ajudá-lo, mas percebeu a seriedade da situação. Nereo, alfa dominante, havia sido morto dando indícios que o incêndio, bem como a morte de todos ali, havia sido proposital.

    _V-vou cuidar deles s-senhor..._Sanny disse e levantou-se, tomando aos braços o cesto.

    Conforme caminhava apressadamente, via corpos e mais corpos pelo chão. Antes, imaginou que poderiam ter morrido pelo fogo, mas agora, percebia o sangue por suas vestes ao chão.

    Foram atacados e mortos cruelmente. Foram vidas roubadas por seres vis.

    Assustou-se ao vislumbrar, não muito longe dali, alguns homens verificarem alguns corpos pelo chão. Rapidamente, escondeu-se atrás de uma cabana e observou.

    Eles não eram da alcateia.

    Sem demoras, Sanny tomou o caminho contrário ao deles e correu rumo à floresta com os bebês sobre o cesto em seus braços.

    O medo agora era ignorado. Precisava achar ajuda o quanto antes.

    Não conseguiria proteger a si e aos bebês, afinal, era um ômega.

    Um ômega fadado ao sofrimento.


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