Boa leitura.
?Kouyou, pare de brincar com coisas sérias! Já está na hora de aprender a como manusear uma adaga!?
No vilarejo de Dorjes todos os adolescentes quando completam treze anos são submetidos a um treinamento no qual, visam proteger o futuro de suas famílias contra criaturas renascidas da morte. Eu Takashima Kouyou, filho de pais pobres vindos da província de Caat, estava em mais uma aula com meu professor, mais precisamente colega de fuga e brincadeiras, Akira.
?Não quero agora! Mas que porra Akira, nós deveríamos estar assustando as garotas! Deixe esses ensinamentos pra depois!?_Ditei aborrecido.
?Não vou deixar! Você precisa se dar conta de que agora tem responsabilidades! Você já é um Ofi?los, deve agir como tal!?_Akira teimava enquanto eu ainda estava deitado sobre a sombra do carvalho.
?Não vejo necessidade! Onde estão as pragas de que tanto me colocaram medo quando era criança? Não vejo sequer uma! Todas são histórias para nos manter na vila e nos fazer escravos do nosso medo.? Respondi enquanto sentava e olhava o horizonte sobre a campina. ?Não há nada que nós faça temer, mundo a fora. O que nos prende aqui é a ganância de nossos familiares em querer formar guerreiros e conquistar mais territórios ao norte.?
Senti Akira emudecer. O vento forte sobre nós não nos permitia ouvir nada além dos campos de trigo ao nosso redor que dançavam lentamente conforme o sopro ditava.
?Sabes que nada do que disse é verdade. Criaturas demoníacas vivem fora do vilarejo... Não tente enganar sua mente com esperanças irrisórias. Sabe que quando este dia chegasse, não mais teria a vida que teve até agora. Não fuja de suas responsabilidades, Kouyou. Chegou a hora de proteger aqueles que você tanto ama.? Akira sentou ao meu lado e acariciou meus cabelos.
Aquela foi a última tarde que vi a vista sobre a campina.
...x...
Dores fortes me assolavam. Minha pálpebras teimavam em não obedecer aos comandos do meu corpo e não se abriam. Tentei agarrar-me a qualquer coisa possível, mas meus dedos sequer tremiam.
_Pegue a mordaça._ Uma voz ditou, enquanto meus delírios me consumiam.
Minha audição voltava lentamente e vários sons me eram perceptíveis.
_Sim mestre._ A voz, que agora me pareceu familiar, ditou enquanto amarrava algo em meus lábios.
Tentei me mexer, mas nada acontecia. Comecei a sentir dormência em meus pulsos e braços.
_Quando ele acordar chame-me em meus aposentos._A voz rouca ditou.
_Sim, mestre._ Respondeu a outra, logo em seguida.
Finalmente meus comandos começavam a retornar. Dolorosamente, tentei mover meus braços, mas não consegui nada além de mais dores. Abri meus olhos lentamente e mirei o ambiente. Tentei falar, mas nada saia graças à mordaça que repousava sobre meus lábios firmemente.
_Vejam só quem acordou. Estava com saudades de poder brincar com você..._Olhei em direção a voz.
Lembranças de um passo pouco distante regressavam em minha mente. Lembro-me de ter sido visto pela criatura e esta havia me matado. Era o que eu pensava.
Em um rompante de agonia e fúria tentei sair dali, mas percebo meus braços amarrados acima de minha cabeça e pendurados por um cabo saído do teto do aposento. Meus pés não tocavam o chão e então, o desespero me tomou. Tentei gritar, mas apenas murmúrios saiam de minha boca.
_Acalme-se Ofi?los! Não há nada a temer._A criatura menor, a qual me fizera de brinquedo na noite anterior, ditou sarcástica enquanto acariciava meu rosto._Fique aqui, chamarei quem tanto deseja a tua presença.
Vi-o sair do aposento e então tentei bravamente me soltar das amarras. Meu corpo suava frio devido à provável febre. No chão, poças de sangue já secas mostravam que meu corpo sentia a necessidade de revigorar-se para se sustentar. Olhei em volta com lágrimas, esperando que algum milagre acontecesse e me tirasse dali. Porque não me mataram e acabaram com meu sofrimento? Simples, eram criaturas demoníacas que enxergavam prazer em tudo o que levasse a dor, tanto física quanto psicológica.
_Enfim acordou._ Escutei a voz potente e então estremeci.
O homem de cabelos negros e pele pálida aproximou-se lentamente, segurando uma taça de vidro com um tom escarlate em seu conteúdo. Sangue.
_Vejo que o ferimento foi curado. Ótimo trabalho Kai._ Ele ditou enquanto olhava em meu abdômen.
Segui seu olhar e constatei, para meu total desespero, que estava nú. O que me surpreendeu mais ainda foi ver meu ferimento cicatrizado. Debati-me, tentando inutilmente me libertar.
_Acalme-se. Não vou lhe machucar._O homem agora estava segurando-me pela cintura e cheirava meu pescoço._Mas para isso, quero um pequeno favor...seu._Ditou e então subiu suas mãos até meus braços e num gesto rápido, cortou os cabos de aço com as unhas.
Meu corpo foi ao chão e então o vampiro riu.
_Tire a mordaça._ Ordenou ao outro.
O menor veio até mim e retirou agressivamente o pano que me calava.
_Porque não me matou, criatura imunda!?_ Eu disse enraivecido._Gosta de ver o sofrimento nos olhos de quem ainda vive?_Perguntei me levantando e indo a sua direção.
Fui parado por um forte golpe contra meu rosto, no qual meu corpo fora lançado contra a parede.
_Não ouse se aproximar do Mestre Aoi!_ o vampiro submisso ditou após me arremessar.
_Já disse para não tocar nele!_ O outro, Aoi, ditou em fúria e o pegou pelo pescoço.
_D-desculpe...M-mestre..._Choramingava e tentava tirar o aperto das mãos do outro em seu pescoço.
_Não repita esse ato, se não serei obrigado a tomar atitudes drásticas quanto a você, Kai._Ditou e soltou-o no chão.
Aoi caminhou em minha direção, me puxando novamente pela cintura e me levantando.
_Solte-me!_ Gritei.
_Soltarei, mas antes quero ter a certeza de que não ira tentar nenhuma gracinha como da última vez. Demoramos mais de 5 dias para curarmos o ferimento de Kai, não quero ter que submetê-lo ao sofrimento novamente._ Terminou de falar, em seguida me colocou ajoelhado ao chão.
Ele puxou um cabo e então amarrou meus pulsos novamente, desta vez para trás.
_Tenho uma proposta a lhe fazer, pequeno Ofi?los.
Ele sentou-se em uma cadeira, em frente a mim, cruzando suas pernas e colocando os dedos finos, de unhas negras e compridas, ao rosto.
Suas palavras de anteriormente começavam a me assombrar. Disse que fora a cinco dias que Kai fora ferido o que me faz pensar que permaneci naquele covil durante esse tempo.
_O que fizeram comigo?_ Perguntei.
_Com você?_ Aoi perguntou sorrindo._Não fiz nada, apesar de achar seu corpo deveras atrativo.
Retesei com tal frase.
_Kai, traga o presente._Aoi ditou, não tirando os olhos de mim.
_Sim, mestre._ respondeu e então o vampiro menor saiu.
_É simples o que quero de você._Aoi continuou._ Irá matar um vampiro em meu nome.
Se pensei que já ouvira tudo nesse mundo submisso, essa fora nova. Um vampiro, com poderes ilimitados, força extraordinária e cobiça por sangue...um ser tão destrutivo, me pedindo para que mate um vampiro. Um de sua própria espécie.
_Faça você mesmo!_ respondi sorrindo sarcástico.
Aoi sorriu. Sorriso esse, demoníaco.
_Creio que nunca lhe disseram caro ofi?los, mas só vivos podem matar os mortos..._Ele lambia os lábios enquanto me olhava._ Irônico, não?
Emudeci.
_Não há lógica em tal argumento! Esta me enganando!_ Gritei em resposta.
_Aqui está mestre.
Olhei para a porta, na qual Kai apareceu junto a alguém. Meus olhos se arregalaram e então eu tentei a todo custo me soltar.
_Akira!_ Gritei, tentando inutilmente o chamar.
_ÓTIMO, VEJAMOS SE AGORA CONSEGUIREI O QUE QUERO!_ A voz de Aoi tornou-se grave._Irá fazer o que lhe ordeno ou então seu colega não vera um amanhecer sem sofrer em minhas mãos!_ditou.
Kai segurava Akira pelos cabelos e apontava uma adaga ao seu pescoço. Lagrimas voltaram a escorreu por minha face.
_Farei! Solte-o, farei o que deseja!_ gritei em desespero.
_Kouyou...não..._Akira ditou em um mínimo de forças. Ele estava ferido.
_Esta corja veio te procurar, jovem Ofi?los. Ele estava preocupado com o tão precioso amiguinho..._Escutei Kai ditar em sarcasmo me olhando, desta vez lambendo o pescoço de Akira.
Olhei para ele, em seguida voltei meu olhar para Aoi. Este sorria ao ver meu desespero.
_Irá matar um vampiro em meu nome._Ditou mais uma vez.
_Mas tal argumento não é consistente. Porque não manda algum de seus submissos matar esse a quem tanto deseja?_ Perguntei, vendo Kai apertar mais a adaga sobre o pescoço de Akira.
Aoi Suspirou.
_Solte-o e venha até mim, Kai._Ordenou.
Kai soltou Akira ao chão e caminhou languidamente em direção ao mestre.
_O que deseja Mestre?_ Perguntou, sentando-se ao colo do maior e beijando seu pescoço.
_Passe-me a adaga._Aoi ditou e levantou com Kai ao seu lado.
Kai passou a adaga para Aoi e o mesmo não demorou a enfiá-la contra o peito de Kai.
Assustei-me com tal ação. Kai, ao contrario do que previ, não esboçara reação alguma quando o sangue negro jorrou de seu peito perfurado. Poucos segundos depois a perfuração havia se fechado.
_Bom garoto._Aoi ditou e lambeu o local onde havia feito a perfuração segundos atrás.
_C-Como..._ Ditei sem acreditar.
_ Uma das qualidades de minha espécie é ser completamente imune aos poderes uns dos outros. Sendo assim, preciso de um ser vivo que me faça o que desejo._ Aoi disse entregando a adaga a Kai e o mesmo voltara a apontá-la contra a garganta de Akira.
_Akira! Solte-o, já disse que farei o que deseja!_Pedi desesperado.
_Ficarei com ele até que me traga a cabeça de quem quero!_ Aoi disse e então Kai saiu carregando Akira para outro lugar.
_Quem quer morto?_Perguntei chorando.
Aoi sorriu novamente. Levantou-se e então parou em minha frente, agachando-se e segurando meu queixo.
_Quero meu pai morto... Quero Lorde Shiroyama queimando no inferno.
Minha sentença era sofrer nas mãos de um vampiro com sede de ganância, no qual, o próprio pai virara cobiça de seus olhos sem brilho.