Wolfer

  • Pusly
  • Capitulos 3
  • Gêneros Aventura

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

    16
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Preparação.

    Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

    Boa leitura.

    Os passos afobados chegaram ao ouvido de Sanny pouco antes de adentrarem o local. Como de costume, o lupino deixou-se em estado de alerta, já que eram poucos os momentos onde sentia o solo aos seus pés tremerem em ansiedade.

    Lentamente virou-se em direção ao pequeno portal feito em madeira torcida. Por ele, adentrou uma pequena figura infantil.

    Os cabelos ruivos dançavam no rosto redondo e corado devido ao esforço físico cometido até chegar ali. As mãos, ainda pequenas, seguravam um coelho de pelagem cinzenta que acabara de ser morto.

    Sanny, apesar de assustar-se em primeiro momento, relaxou assim que percebeu de quem se tratava tal presença afobada.

    _Acredito que esteja procurando algo, Stav. _Sorriu para a criança em sua frente.

    _Meu papai pediu suas tarefas para hoje à tarde. Quer que ajude Otâni na preparação para o ritual. _ Stav ofegava esperando Sanny acabar de alimentar os filhotes de mais um casal da alcatéia.

    _Diga que estarei lá assim que terminar de lavar estas peles. Não demorarei._ respondeu o loiro, logo em seguida levantando já com o cesto repleto de peles.

    Stav voltou pelo mesmo caminho pelo qual veio. Ao longe, Sanny ainda podia ouvi-lo cantarolar várias cantigas antepassadas, herdadas de geração a geração em sua alcatéia.

    Em determinado trecho do caminho, precisou equilibrar-se devido ao declive do terreno arredio em volta às pequenas pedras cristalinas que adornavam o lago. Mesmo carregando quilos em seus braços finos, Sanny não derrubou sequer alguma peça. Eram anos a fio fazendo as mesmas tarefas diariamente, certamente não havia mais tantas dificuldades em relação a elas. Conforme seus pés sentiam o frescor da terra úmida, permitiu-se desviar sua atenção para os próprios.

    Deixando de caminhar sobre as pedras, Sanny agora andava beirando o lago de proporções vantajosas ao seu bando. As águas límpidas faziam de sua alcatéia, uma das mais bem supridas de água.

    Com esforço, conseguiu pousar a cesta sobre a grama e puxar as peles para perto de si. Uma a uma, as peças foram limpas e colocadas novamente ao cesto. Com todas já torcidas, o lupino teve maiores dificuldades para levantar-se com elas, já que devido ao peso multiplicado das peças molhadas, o equilíbrio e o senso de direção eram afetados.

    Sanny caminhava agora em direção ao grande gramado destinado para o repouso das peles e tecidos de todos. A área era composta por bambus postos verticalmente sobre a terra, ligados por cipós, permitindo assim que as peles fosse estendidas sobre estes.

    _Chega a ser exaustivo ver sua presença todos os dias. _ Uma voz acetinada soou, provocando pequenos calafrios na pele de Sanny.

    Assim que pousou sua atenção à figura esguia em sua frente, a sensação de impotência apossou-se do corpo diminuto.

    _Estou aqui para terminar meus afazeres, Otâni. Já estarei em sua casa logo mais. Irei ajudá-lo com os preparativos para a cerimônia._ Respondeu, precisando desviar-se de seu caminho para não dar-se de frente ao lupino estressado.

    O pequenino sabia que não poderia confrontar outros da matilha, mesmo este sendo um lupino como si próprio.

    _Não necessito de sua ajuda. Apenas irá até minha casa para realizar mais um dos caprichos de meu pai que deseja ver-me sendo paparicado por todos._ Otâni respondeu, fazendo com que Sanny sentisse o orgulho em sua frase.

    Com a cesta finalmente ao chão depois de ser carregada até a área onde os bambus ficavam, Sanny começou a estender.

    Otâni era a cópia perfeita de seu pai Ravi, beta lupino da alcatéia. Os cabelos ruivos trançados frouxamente, sempre eram enfeitados por pequenas margaridas em cada gomo de cabelo. Os olhos, de tonalidade mel passavam uma superioridade anormal. O corpo permanecia esguio e curvilíneo ao mesmo tempo, formando uma figura de proporções harmônicas. Otâni era o exemplo de sensualidade lupina. Em comparação à Sanny, o lupino a frente também superava em estatura. Era um dos principais cotados sobre a população dominante da alcatéia.

    Sanny era o oposto, não esbanjava charme, não encantava com seu sorriso e não era desejado por ninguém.

    _Creio que já lhe ensinaram a não dar-se as costas para alguém. Pergunto-me onde foi que esqueceu seus ensinamentos hoje._ Otâni resmungou rispidamente.

    _Sinto muito, mas não posso deixar de estender estas peles._Sanny tentou explicar.

    _Não aceito desculpas esfarrapadas como essa._Otâni apertos seus olhos em fúria desnecessária.

    Em um único golpe rasteiro, Otâni derrubou o pequeno ômega de joelhos.

    A dor pela pancada foi sentida rapidamente.

    Sanny percebeu o corte em sua panturrilha provocado pela queda. Não era justo... Nunca foi.

    _Não devo respeito a você. Não se tornou alfa ainda!- esbravejou, sentindo pontadas em seu ferimento.

    _Está certo, ômega. Ainda, não. _ Otâni aproximou-se, segurando os cabelos loiros rentes à nuca de Sanny. _ Mas tenha certeza, de que quando casar-me com meu dominante, você será o primeiro a ser banido. Guarde minhas palavras.

    Sanny sentiu-se enraivecido, porém nada podia ser feito. Apesar de Otâni ser lupino, a força entre eles era o grande diferencial. Otâni seria o mais forte, não haveria saída se não deixar-se ser humilhado.

    _Desculpe-me. _ Ditou, sentindo as lágrimas da humilhação mancharem-lhe o rosto.

    _Ótimo. É bom começar a aprender seu lugar. Não demore, ou então voltarei para buscar seus serviços de forma nada amigável._Ameaçou deixando o local.

    Ainda ajoelhado, Sanny permitiu-se derramar algumas lágrimas doloridas.

    Respirou fundo e levantou-se, terminando de estender as diversas peles.

    Voltou pelo caminho de pedras, passando na moradia anterior para devolver o cesto.

    O local para onde estava indo, era conhecido como a casa dos betas. Stav e Otani eram os filhotes dos betas Ravi e Alef. Eram mimados pela alcateia devido a beleza de ambos.

    Em frente à moradia, pequenos lírios cresciam com formosidade, espalhados pelo chão. A trilha, feita por pedras irregulares, levava ao pequeno portal também em madeira torcida.

    _Já não era sem tempo. Ande menino, preciso que me ajude a preparar meu precioso._ O beta lupino chamou-lhe afobado.

    _Sim._ Sanny correra para dentro, esperando ser chamado ao quarto de Otâni.

    _Entre, ele já está devidamente banhado. Precisa deixá-lo deslumbrante._ Ravi ordenou, voltando a procurar algo pela casa, que Sanny desconhecia.

    Ao entrar, deparou-se com Otâni totalmente nu. Não sentia constrangimento ou qualquer outro sentimento. Eram lupinos.

    _Pegue minha veste. Traga-a até mim._ Ordenou o ruivo, sorrindo sarcasticamente, acenando com a cabeça para o acento em frente à Sanny.

    Como ordenado, o pequeno seguiu até o tecido e pegou-o. Maravilhou-se com tamanha sedosidade. A veste era feita sobre medida para o corpo esguio e formoso de Otâni. A seda envolta no tecido floral em tom pêssego, dava-lhe um ar puritano, sublime. Estendia-se até meio palmo abaixo da coxa, chegando pouco acima do joelho. Otâni virou-se para que Sanny lhe amarra-se o laço que manteria a peça em seu corpo.

    _Creio que gostou do tecido._ Ditou, virando-se para o ômega em sua frente.

    _Sim, é muito belo._ Sanny respondeu em sua inocência. Jamais vira cores tão belas como aquelas.

    _Como é o seu?_Otâni perguntou assim que pousara sobre o acolchoado feito de peles para que Sanny pentear-se seus cabelos.

    _O meu...?_ Sanny respondeu em dúvida.

    _Suas vestes para hoje à noite, idiota. Como são?_ Otâni explicou impaciente.

    Foi então que Sanny abaixou o olhar.

    _Não tenho nenhuma._ respondeu, voltando sua atenção para os fios cor de fogo em sua frente.

    _Já me era esperado._ Sorriu vitorioso, demonstrando mais uma vez sua superioridade.

    _Sim... De fato. _Sanny emudeceu-se em seguida.

    Como ômega, sabia que não possuiria algum traje adequado para tal cerimônia. Não ser-lhe-ia permitido participar como os outros de sua idade. Teria que sentir sua transformação isolado, sem ninguém para parabenizá-lo pelo acontecimento tão importante em sua vida.

    Assim que os cabelos foram alinhados, pequenas tranças com fios de trigo, estes dourados, eram feitas pelo comprimento ruivo. A franja volumosa fora colocada para trás, dando ao rosto maior destaque. Com o cabelo devidamente arrumado, foi a vez do pai, Ravi, adentrar o local.

    _Pegue àquelas cerejas para mim, ômega._ Ordenou, voltando-se em frente ao filho que lhe sorria.

    Sanny pegou as pequenas cerejas e as colocou sobre a pequena vasilha, finalmente as esmagando com um pilão.

    Após a pasta rosada ser formada, os dedos delicados do beta sujaram-se com a mistura e foram direcionados às bochechas de Otâni. Assim que a pasta começava a secar, um leve toque avermelhado estampava-lhe o rosto, antes pálido devido ao banho.

    Em seguida, Ravi puxou de seu traje um pequeno pedaço de carvão pastoso. Este fora passado sobre os olhos de Otâni, que destacavam a beleza canina impregnada ali.

    _Está divino, meu precioso!_ Ravi contemplava a beleza delicada de seu filho, não achando possível mais alguém em toda a alcateia alcançá-la.

    _Acredito que sim, papai. _Otâni levantou-se e rodou sobre seus pés.

    O pequeno ser loiro ficou feliz por vê-los animados. Sabia que Otâni e seu pai não se importavam consigo, mas não deixava de saber que a mesma atitude não era reservada apenas a eles.

    _Seus serviços não são mais necessários. Pode ir._ Ravi ditou logo após.

    _Sim, beta._ Sanny reverenciou-o, em seguida saiu da moradia.

    O céu já escurecia. O som dos pássaros ecoava, dando sinal de suas recolhidas para o ninho. O vento, por si só direcionava o aroma cítrico das flores mais ao norte. Seria uma noite fria, não menos linda.

    Dali a algumas horas, a cerimônia de passagem pelo ritual Canis começaria. Seriam dadas a mão de vários lupinos naquela noite.

    Sanny não deixou de sentir falta.

    Falta do que um dia chamou de dignidade... E esperança.


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