Eu me perguntei por um breve momento de quem seriam aqueles olhos. Eu os conhecia, ao mesmo tempo que não me eram estranhos. Mas eles não eram, definitivamente, de Kazumi. Aqueles olhos... Eles não tinham emoção alguma. Era como se eles vivessem em contínua solidão, desde tempos atrás, até hoje. Eles me deixavam com calafrios.
- A-Ah, sim. ? Tentei me afastar o máximo que pude, mas isso foi em vão. Ela estava tão perto que eu só pude dar um passo para trás, e mesmo assim bati minhas costas na máquina.
- Tome ♥ ? Como pode?! Tendo olhos tão vazios como os dela, e ainda assim, dizer ?Tome ♥? com um sorriso tão amigável...
- A-arigatou. Nó-nós nos encontramos anteriormente, me cham...
- Ayaka-chan, não é? ♥ - Interrompida novamente ? Eu me lembro de você. Você é a dona daquele animal que derrubou o Kazu-chan na neve.
Arregalei os olhos. Eu sabia que, já que eles namoravam, ele teria um apelido. Mas.. Kazu-chan? Simplesmente não combinava com a imagem dele. Quando tentei juntar ?Kazu-chan? com o rosto de Kazumi, a vontade de rir era tão grande, que tive que morder minha língua para não rir do ?apelido carinhoso? da garota.
- A-ah... Pffft ? Tentando me controlar ? Sim sim, sou a dona do *Pffft* cachorro.
- É... ? O sorriso desapareceu. Quando eu olhei para o rosto dela, ele estava tão sério e inexpressivo que eu não conseguia entender o que ela pensava ? Ayaka-chaan, já que você é tão boa amiga do Kazu-chan, eu vou te dar um conselho. ? Ela aproximou seu rosto ao meu, e pegou no meu queixo ? Fique longe dele. ? Um sorriso maldoso apareceu no rosto dela. Ela estava falando sério. ? Bom, vamos nos dar bem de agora em diante, Ayaka-chan. ♥
Ela largou o meu rosto e voltou para o lugar de onde veio. O rosto dela, sorrindo daquela maneira tão maldosa, me veio à mente. Era um rosto aparentemente inocente, porém, assustador, tanto, que senti minhas pernas tremerem um pouco. Mas não gostei da ameaça. Desde pequena, não sou de levar desaforo para casa, então peguei meu suco e segui o mesmo caminho que ela.
- Aya. É melhor você não seguí-la. ? Eu estava com o pé direito no primeiro degrau para subir as escadas, mas ao ouvir a voz, me virei. ? Vamos voltar pra sala. - Era Ame-chin, e parecia que tinha escutado tudo. Ela estava com um rosto tão sério, que até mesmo me deu um susto.
- Não. Ame-chin, você pode voltar se quiser, mas eu vou resolver as coisas, agora mesmo! - Falei, cheia de coragem, enquanto meu corpo ainda tremia.
- Aya, eu sei como você se sente. Lembra quando eu disse pra você tomar cuidado com a Emiko?
- Emiko? Então esse é o nome dela.. Sim, eu me lembro. Mas... Mas eu não tenho medo! - Dessa vez, a tremedeira do meu corpo refletiu-se em minha voz.
- Então, suba o segundo degrau.
Me virei e então, subi o primeiro. Mas, na hora de colocar meu pé no segundo degrau, a imagem do resto da Emiko voltou à minha mente. Eu estava assustada. ?Resolver as coisas?? Como eu ia fazer isso?! Ela tinha o Kazumi, que chances eu tinha?
- Não consegue, não é? ? De fato, eu não conseguia.
- Mas, isso me irrita! Não é nem pelo fato dela não querer que eu chegue perto do Kazumi, mas pelo fato dela me ameaçar! Como isso foi acontecer?!
- Aya, você não sabe nada sobre ela. Por enquanto, acredite em mim quando digo que ela é perigosa. Por favor. ? Eu desisti. Realmente, eu não sabia nada sobre ela, por isso não podia fazer nada. O máximo que eu podia fazer era engolir a irritação e voltar para sala com a Ame-chin.
Passei o dia todo remoendo a cena da máquina de sucos. Não posso dizer que meu dia foi totalmente chato por causa daquilo, porque a Ame-chin estava lá para levantar meu humor.
As aulas acabaram, portanto, estávamos de saída. A Ame-chin ia por um caminho diferente do meu, e como era uma terça-feira, ela tinha que correr para casa para não perder o sorteio do kit de tratamento de cabelo. Quando coloquei meus pés para fora da entrada, onde tinham os armários, vi um garoto apoiado na árvore.
- Yo, Ayumi. ♥