AAA. quem não ama o natal? A família toda reunida, crianças brincando com seus presentes, comida farta, todos os parentes juntos na casa da avó colocando a conversa em dia, Papais Noéis andando pelas ruas entregando balas para a criançada e a cidade toda enfeitada.
Quem não ama o Natal?
Eu.
A droga do Natal já é hoje, vamos deixar claro que eu o odeio, já minha mãe ama, e todo ano é a mesma coisa: minha casa cheia de parentes que surgem do inferno, priminhos que mais parecem minicopias do capeta que, por sinal, adoram entrar no meu quarto, mexer na minha maquiagem, nas minhas roupas, nos meus livros, em tudo!
Ano passado, encontrei a minha série completa do meu mangá favorito pintada.
Para tudo.
AQUELES PESTINHAS PINTARAM OS MEUS MANGÁS, ALGUÉM TEM QUE MORRER!
Como uma pessoa educada e discreta que eu sempre fui, sintam a ironia, sai pela casa gritando com todas as crianças que encontrei no caminho e, no final das contas, fui eu quem teve que pedir desculpas.
Mas esse ano será diferente, eu ainda não contei, mas meu sonho desde criança é ser arquiteto, só mais um ano e eu vou para a faculdade. Mas, voltando ao assunto, eu sou uma pessoa muito sentimental, tenho uma caixinha debaixo da cama que guardo todo tipo de objeto que eu julgue ser importante.
Estava arrumando o meu quarto quando achei a caixinha, nem lembrava mais dela. Enfim, achei várias coisas que estão guardadas há muito tempo, entre elas achei o meu ?projeto? da casa da árvore, se é que um monte de rabiscos de uma criança pode ser chamado de projeto.
Resolvi colocar ele em prática. Ai você me pergunta, o que isso tem a ver com o Natal?
Calma que eu explico. Passei o ano todo construindo minha casa na árvore e agora que a casa está cheia de pestinhas, eu posso ficar lá no meu cantinho sozinho, sem ser pisoteado enquanto estou dormindo, sem ninguém mexendo nas minhas coisas.
Diz aí, eu não sou um gênio?!
Peguei todos os meus mangás, meu celular, meu som e meu notebook, fiz uma cama improvisada com cobertores e pronto, passaria a noite em paz.
Mas não são todos os primos que eu odeio, têm os irmãos Shiroyamas: o Uke e o Yuu, mais conhecidos por Kai e Aoi, eu simplesmente amo esses dois, enquanto o beiçudo do Aoi é bagunceiro e desatento, o Kai e suas covinhas lindas é mais organizado e inteligente, são totalmente o oposto, mas isso não afeta em nada na relação deles, pelo contrário, um completa o outro.
E tem outro, Suzuki Akira mais conhecido por Reita. A única preocupação dele quando estiver aqui em casa é arrumar várias maneiras diferentes de me irritar, descobri que foi ele quem mandou os capetinhas pintarem os meus mangás. Aquele bastardo, bastardo mesmo, Reita foi adotado com quatro anos, éramos bastante próximos até eu descobrir que eu sentia atração por homens, não homens, mas ele em especial, aí eu me afastei .
Não me culpem, mas é chocante para um menino de doze anos descobrir que o pinto sobe enquanto brinca com o primo.
A campainha tocou, desci correndo rezando para que fosse o Aoi ou o Kai, mas quando abri a porta vi a cacatua do Akira parado com uma mochila nas costas, ele sempre foi maior que eu, mas esse cara nunca vai parar de crescer? Está muito mais alto desde a última vez que eu o vi, seu cabelo estava para cima formando um moicano e a maldita faixa no nariz, que desde que eu me conheço por gente ele a usa, estava com calça preta jeans larga, coturno e uma camisa preta agarrada, que caia como luva naquele corpinho marcando sua barriga de tanquinho e deixava a mostra aqueles braços um pouco musculosos.
Sorriu convencido para mim, quando reparou para onde eu estava olhando.
? Quem chegou, Ruki? ? Minha mãe gritou da cozinha, me acordando dos meus pensamentos. Ele continuava me fitando sem dizer nada, parecia que estava me avaliando assim como eu fizera.
? É engano. ? Gritei e fechei a porta, minha mãe apareceu na sala confusa.
? É engano?
? É sim. ? Respondi ainda com a mão na maçaneta. A campainha tocou de novo.
? Takanori, deixe seu primo entrar. ? Me disse revirando os olhos.
Uma coisa é certa, eu nunca escondi nada da minha mãe. Quando contei para ela que era gay, ela só me abraçou e disse que me amaria mesmo se eu tivesse patas em vez de pernas. Já sobre as fantasias que eu tenho com Reita, não sei como, mas ela descobriu sozinha, mas fazer o que né? Mãe sempre sabe!
Revirei os olhos e abri a porta de novo e lá estava ele.
? Oi pra você também, Ruki. ? Me disse sínico e sua voz grossa me fez arrepiar, sua voz também havia mudado, o que me fez pensar em como seria ouvi-lo gemendo o meu nome, o pensamento fez com que eu sentisse uma fisgada. Não, volta a dormir, por Kami, na frente de minha mãe não.
? Que bom que você veio, Akira. ? Minha mãe disse o convidando para entrar, ele não olhou para ela e continuou me encarando.
? Sempre venho. ? Sorriu para mim, se aproximando e entrando na casa.
Dei um passo para trás, vi seus lábios se curvarem de forma sádica.
Ele sabia da influência que tinha sobre mim.
Fiquei tão perturbado com o seu sorriso que nem reparei na sua aproximação, senti sua respiração quente bater no meu rosto, fiquei confuso, por que ele estava tão perto? Subi o olhar e encontrei o seu sorriso um tanto malicioso? Tenho certeza que fiquei vermelho e meus temores foram confirmados quando ele sorriu ao ver a minha reação, abaixou o seu rosto até ficar na frente do meu. Minha mãe não vai falar nada não? Por que ela esta tão quieta? Olhei em volta a procurando, para onde ela foi? Ele entendeu quem eu estava procurando.
? Ela foi ver a comida, não escutou quando ela disse? Aé, você sempre fica aéreo com a minha presença. Fiquei com saudades, chibi ? Arram sei, ficou com saudade de me atazanar isso sim. Reita levou a mão até o meu queixo e puxou meu rosto em sua direção, minha pela ardeu com o seu toque, roçou de leve sua boca na minha.
Entrei em choque, a única coisa que eu conseguia pensar era na boca do demônio.
? Não vai me dizer nada?
? Ham? ? O que ele queria que eu falasse? Congelei quando sua boca tocou a minha em um selinho demorado e então foi depositando beijos até o meu ombro.
? Eu sabia! ? Ele sussurrou no meu ouvido, mordendo e puxando o meu brinco. O que foi que eu perdi? Sabia do quê?
? Hãm? ? Foi a única coisa que eu consegui pronunciar.
Ele raspou seus lábios na minha pele subindo até o meu olhar de novo.
? Você é gay e tem tesão por mim. ? Sorriu sacana.
A raiva tomou meu corpo quando ele me lembrou desse fato, então era isso? Só queria me provocar com essa atitude estranha? Filho de uma leiteira.
Coloquei minha mão sobre seu peito e o empurrei, mas ele segurou os meus pulsos dando um passo para trás me levando junto.
? Me solta. ? Falei com os dentes trincando, porém, ele riu.
? Uii, a bichinha ficou brava foi?
? Quem é mesmo a bichinha aqui? Era você que estava me prensando contra a parede.
? E você gostou disso não é, chibi? ? Me provocou.
? Vai se fuder.
? Hum, só se for com você. ? O loiro apertou os meus pulsos, me puxando mais perto.
? Já estão brigando? ? A voz de Aoi surgiu, olhamos para o quintal e vimos ele descendo do carro.
? Não o mate Reita, gosto muito do meu chibi. ? Kai gritou saindo do veículo, seguindo o irmão.
? Kai. ? Gritei tentando me soltar de Reita, mas ele só apertou mais os meus pulsos.
? Me solta!
? Para quê? Já quer ir pular em cima do colo do Kai? Espere pelo menos ele entrar, antes de atacá-lo, bichinha. ? Falou alterado de repente, soltando os meus braços.
Suzuki e seu temperamento. É verdade que o primo que mais sou apegado é o Yutaka, mas não é para tanto!
? Kai. ? Gritei e sai correndo em sua direção, pulei em seu colo cruzando as pernas em torno de sua cintura, ele cambaleou alguns passos, rindo. ? Que bom que você chegou, Reita já estava me atacando. ? Falei escondendo o meu rosto em seu ombro, ele riu passando os braços em minha cintura, só aí que eu lembrei que ele ia me apresentar seu namorado esse ano. Ele e o irmão passariam o natal aqui acompanhados. Corei me soltando bruscamente de seu abraço.
? O que foi? ? perguntou espantado.
? Seu namorado. ? Sussurrei.
? Ah, o Miyavi está aqui ? Disse sorrindo olhando para o carro só agora tinha percebido ser um Peugot expert de 6 lugares. Posso ser gay, mas entendo de carros. Tinha duas pessoas desconhecidas puxando suas mochilas do carro.
? O pergaminho humando é o Miyavi, já o loiro tentação é meu namorado. ? Disse Aoi abraçando o loiro por trás e beijando seu pescoço.
? Aoi, na frente dos seus avós, se controle. ? Shiroyama repreendeu o filho, que soltou um muxoxo se soltando do loiro.
? É bom finalmente conhecer você. ? Disse Miyavi. Agora entendo o porquê de Aoi sempre se referir a ele como pergaminho, com tantas tatuagens...
? É, ouvimos bastante sobre você. ? O loiro disse ? Me chamo Takashima Kouyou, mas pode me chamar de Uruha.
? E eu sou Ishihara Takamasa, mas pode me chamar de Miyavi.
A noite passou bem mais rápida do que eu pensei, me diverti muito com os quatro, apesar da estranha aparência de Ishihara, ele era uma boa pessoa, ri muito com as besteiras que ele falava e, o Uruha, além de bonito. é inteligente. Quem não o conhece, pode facilmente dizer que ele é arrogante e mimado por sua aparência, mas o loiro é muito engraçado e humilde.
? Não sei o que você está fazendo com o Aoi ? Disse para ele no meio de uma conversa.
? Ah sabe como é, aquela boca me seduziu... ? E nós dois caímos risada, pelo duplo sentido.
Esse só não foi um dos natais mais divertidos por causa do Reita, é claro, sempre que podia fazia insinuações ou mandava indiretas, passei a maior parte do meu tempo o evitando, ele entrava por uma porta eu saia pela outra, se ele se sentava no sofá eu me levantava e sentava na cadeira. Yuu e Takamasa acharam a situação engraçada enquanto o Kai e o Uruha só observavam, até alguns parentes reparam nas atitudes estranhas.
Quando chegou a hora do jantar, a mesa foi levada para o quintal ,e por mais que ela fosse grande, só os adultos cabiam nela, os capetinhas dos meus priminhos jantaram na sala enquanto Kai, Reita, Aoi, Uruha, Miyavi e eu jantamos na mesa menor da cozinha. Reita se sentou na minha frente, por mais que eu não tivesse gostado da ideia, os outros lugares já estavam ocupados, tudo estava indo bem até que ele resolveu abrir a boca.
? Até quando vamos ficar nessa brincadeira? ? Sua voz grossa calou a dos outros.
? Que bincadeira?
? De gato e rato!
? Não sei do que está falando.
? Você está fugindo de mim desde que cheguei.
? Eu? ? Me fiz de desentendido.
? Não, o santo casamenteiro das bichas desesperadas, é claro que é você!
Respirei pesado, peguei o garfo.
? Eu só quero comer em paz. ? Cortei um pedaço do meu peru, porém antes que eu coloca-se o pedaço na boca, Reita me chutou por baixo da mesa, fazendo meu garfo cair no chão. ? Aiiiii ? Gritei sentindo a dor na minha canela, se ele pensou que eu ia deixar baixo se enganou.
Peguei um copo vazio que estava ao meu alcance e mirei em sua direção, mas o desgraçado foi mais rápido desviando do copo, fazendo ele se espatifar na parede, procurei por outros objetos mas ao meus lindos primos tiraram tudo do meu alcance. Olhei pro Kai furioso.
? Vai ficar do lado dele?
? Só estou evitando que quebre toda a louça da sua mãe. ? Me disse calmo e baixo, geralmente quando ele usava esse tipo de voz comigo eu sempre relaxava, mas não dessa vez, eu estava possesso por causa do loiro.
? Que se foda a louça. ? Gritei.
? Taka. ? Suspirou ? É Natal, vamos jantar em paz. ? Kai usou o mesmo tom de antes tentando em vão me acalmar.
? É o que eu estava fazendo até ele me provocar. ? Apontei, falando mais baixo dessa vez.
? Eu só queria conversar. ? Reita se protegeu.
? Ah, fica quieto, bastardo. ? Quando vi, a ?palavra proibida? passou pelo meus lábios.
O loiro se encolheu e sua expressão de fúria passou para magoada em questão de segundos, se levantou e saiu da cozinha em silêncio.
Tsc. Maldita boca.
? Isso foi maldade, chibi. ? Aoi me repreendeu.
? Queria o quê? Ele ia ficar no meu pé a noite toda.
? Ele só queria conversar, Ruki. ? Kai respondeu colocando a mão sobre meu ombro.
? Diz isso porque você não viu o que ele fez quando chegou. ? Kai suspirou ? Está do lado dele agora?
? Não tem essa de lado, Taka, vocês tem que se acertarem.
? Perdi a fome. ? Me levantei da mesa.
Maldita boca grande, Akira foi abandonado na porta da casa da minha tia. Era um assunto delicado, ninguém falava sobre isso, mas eu tinha que jogar isso na sua cara. Droga, eu tinha mesmo pegado pesado.
Fui para o meu quarto, abri a janela e subi na árvore, me joguei na minha cama improvisada.
Maldito Suzuki Akira, sempre me dando dor de cabeça. Fiquei pensando em quando eu era criança e como eu era próximo do loiro, sempre que ele vinha eu não desgrudava dele, mas isso foi até eu descobrir que o motivo de gostar tanto dele é que eu sou gay e não o via como primo, me afastei, ele não podia saber que eu gostava dele, contei tudo pro Kai e desde daquela época ele insiste que eu conte o que sinto para o loiro.
Mas e a vergonha onde fica?
?Então Reita sabe o que é ? Eu descobri que sou gay e tenho uma paixonite por você.?
Ele me daria um soco na cara, no mínimo.
Então começaram as brigas e eu sabia que era só para chamar a minha atenção, mas eu não conseguia simplesmente fingir que estava tudo bem e assim estamos até hoje, eu sei que a culpa dessa situação é toda minha.
Aff, tinha que ser ele? Logo meu primo?!
Encolhi-me na cama, minha mãe provavelmente brigaria comigo amanhã.
Noite de Natal, a família toda reunida e eu aqui.