Desculpem pela demora, as provas consumiram todo o meu tempo. Cap. 6, espero que gostem!
Foi quando senti uma mão suada segurar meu braço. Virei-me para olhar e percebi algumas lágrimas no meu rosto. Porque eu estava chorando? Ele era um bandido!
- Alexi... Alexia. ? Raul acordou e sussurava baixinho ? eu... eu vou te dizer... o que fazer...
Engoli em seco. Ele não iria a um hospital. E só restaria... eu.
-----------------------------------------------------x--------------------------------------------------------
Cap. 6
Raul usou sua experiência de 3 anos na faculdade de medicina para me dizer o passo a passo de como eu faria aquela ferida que o atravessara parar de sangrar. Apesar de eu continuar achando que aquilo tudo seria um fracasso e que no final das contas ele iria ter de ir a um hospital, fui seguindo suas dicas.
Ele às vezes parava de falar, cansado, ofegante. Várias vezes pensei que ele não ia conseguir terminar, e tive de me conter para o desespero não tomar conta de mim. Eu só tinha 17 anos, não queria que uma pessoa morresse em minhas mãos... Muito menos ele.
Finalmente tudo parecia estar dando certo. Conti o sangramento e comecei a colocar os curativos. Com as forças que ainda o restavam, Raul inclinava o abdômen, para que eu pudesse passar a faixa.
Eu sinceramente esperava alguma ajuda daquele bando de homens, comparças de Raul. Mas eles estavam completamente atônitos, olhando pra nós dois tentando conter o sangramento, e não faziam nada. Mas não dava tempo de me irritar.
- Acab... acabou... Alexia. ? Raul sussurava, cansado.
- Tem certeza? Não precisa de mais nada?
Ele balançou a cabeça, negando. Pedi pra aqueles inúteis trazerem lençóis limpos pra colocar na cama. Enquanto isso, fui limpando as costas e o abdômen de Raul, ainda um pouco ensaguentados. A única criatura que ganhava dele era eu, estava ensopada de sangue dele. Meu pijama, meus braços, e até meu cabelo...
- Voc... você é tão... lin... linda. ? Raul sussurou.
- O quê? ? perguntei, incrédula.
Ele sorriu, deu um longo suspiro e fechou os olhos. Chequei sua respiração, estava bem, só dormindo. ?Você é linda?, puf. Até parece. Vou relevar essa, e considerar que foi dita em um momento de delírio.
Quando os homens chegaram com lençóis novos, pedi que o levantassem com cuidado, para tirar os sujos. Feito isso, me sentei no chão, ao lado da cama em que ele estava, exausta.
- Vai passar a noite aqui com ele? ? Joel me perguntou.
- Eu acho que nem vou conseguir dormir.
- Quer um calmante? Eu já tomei um.
Ri da situação que Joel se encontrava. De todos, ele era o que estava mais assustado com aquilo tudo.
- Então eu acho que posso confiar em deixar você só com ele, né?
- Por que eu, depois de tudo isso, ia matá-lo Joel?
- Não sei. Mas se você fizer alguma coisa, eu...
- Eu não vou fazer nada. Não sou louca.
Joel saiu do quarto fazendo cara de desconfiado, mas eu sabia que aquilo era só pra me testar. Finalmente eu tinha voltado a mim, e vi minha situação. Eu precisava de um banho urgente.
Já era uma e meia da manhã quando eu finalmente pude descansar. Deitei-me ao lado de Raul e fiquei observando sua respiração lenta, em contraste com a minha rápida e totalmente descompassada. Acho que deveria ter aceitado alguns comprimidos de Joel.
Acordei com alguém falando no meu ouvido.
- Alexia! ? Raul estava com o rosto tão próximo ao meu que... do nada senti como se estivesse tomando um choque.
- Ah, você acordou. Tá bem? ? perguntei, olhando as horas. Eram 8h e 30min.
- Por que você dormiu aqui comigo? ? ele estava sério.
- Eu queria ver se... ia ficar tudo bem.
- Porque você me salvou?
Fiquei uns segundos pensando na resposta para essa pergunta. O que eu iria dizer? Ele tinha mandado me sequestrar, retirou-me de minha família, meus amigos, minha escola... Porque eu o salvei?
- Eu não quero mais nenhum morto inocente nessa história. Bastou o seu pai. ? repeti com apenas uma alteração a frase que ele já havia me dito antes.
- Eu sou inocente, Alexia?
Agora ele olhava pra mim. E essa pergunta foi pior que a outra.
- Eu não sei. Então... por via das dúvidas...
Raul riu. E ouvir sua risada ecoar o quarto e ver seu largo sorriso me deu uma sensação boa. Isso me fazia arquivar os momentos de tensão de ontem à noite e ter a certeza que tudo valeu a pena.
Os amigos dele começaram a entrar no quarto e fazer piadinhas.
- Pronto paciente? A doutora já te deu alta? ? falou Fabrício, e a risadaria foi geral.
Joel disse que o levariam pra outro local, e sairam carregando-o pelos braços.
- Só foi o susto de ontem. Hoje eu cuido dele! ? Joel, que antes parcia um gatinho medroso, agora ria como quem tinha tudo sob controle.
Fiquei sentada na cama olhando o meu primeiro paciente ser retirado da minha proteção. Eu queria que ele ficasse comigo mais tempo, mas não iriam deixar. O desespero da provável morte do líder foi só ontem mesmo.
Antes de sair, Raul me olhou e sussurou algo que eu entendi como um...
- Obrigado.
Ri de canto pra ele.