Os direitos de imagem não me foram concedidos, mas, de forma alguma, pretendo, com tal fanfic, marchar a reputação ou a imagem do ídolo. História feita de fan para fans, sem fim lucrativo. Plágio é crime! Crie vergonha na cara e dignidade em sua escrota vida e invente suas próprias estórias, se precisar de ajuda para isso pode contar comigo! ;}
C a p í t u l o ú n i c o
U t o p i a
Yui abriu os olhos, eufórica, assustada. Novamente havia tido aquele sonho, pesadelo, aquele rosto sombrio repetidamente assombrava-lhe as noites, fazendo-a dormir mal.
Suspirou, caçou os olhos. O quarto escuro era mal iluminado pela suave luz do poste da rua, deixando-a deveras desconfortável. Precisava respirar um pouco de ar, mas era muito tarde. Olhou no relógio: três e trinta e três da manhã.
Aquilo era mal, precisava dormir. Sentando na cama e esticando o braço, pegou o copo de água no criado-mudo e tomou um longo gole, devolvendo-o ao porta copos. Dali a algumas horas teria que seguir viagem em direção a uma cidade um pouco afastada do centro, onde faria um pequeno show em um bar fechado, para pessoas com um bom status social. Não gostava daqueles lugares, mas fazia parte do trabalho e não poderia dar-se ao luxo de escolher onde se apresentaria.
Voltou a deitar-se, olhos abertos, mãos geladas, mente sufocada. Não sabia o que pensar, no que pensar. Sentia repulsa só de pensar no pesadelo que havia acabado de ter. Aquelas imagens assombravam-lhe desde sempre e a única coisa que podia fazer era amaldiçoar-se por sua falta de sorte e rezar, rezar para que os maus espíritos, assim como seus demônios pessoais, deixassem-na em paz ao menos naquele momento.
Bocejou, fechou os olhos, relaxou. Não era hora para entrar em desespero, tampouco para preocupar-se. Seu único foco era o trabalho, e se aquele homem não havia sido capaz de entendê-la então o resultado de tudo aquilo foi o melhor que poderia ter havido. Soluçou, o choro querendo subir à garganta. Ou era só a sua repulsa por aquela drástica situação? Não sabia dizer.
Fez o possível para acalmar seu coração palpitante e, enquanto sentia os pés gelados pelo pesadelo se tocarem, esperava que tudo aquilo passasse. O sono logo venceu, a consciência esvaindo-se lentamente. Era o mundo dos sonhos que lhe chamava, talvez fosse o dos pesadelos.
Um barulho alto, uivos de cães, um choro compulsivo era ouvido ao longe; Yui abriu os olhos, alerta, encolhida, assustada. Não conseguia enxergar um palmo além de seus olhos, onde estava a luz? o abajur? qualquer coisa servia. Um som de passos, eles se aproximavam, a moça prendeu a respiração.
O que era aquilo? E aquela dor no coração? O sentimento de sufoco que afligia-lhe? Olhou para um lado, nada; olhou para o outro, também não. Onde estava sua irmã? Ela não sempre ajudava-lhe? Yui sorriu com melancolia. Sim, Yuki estava morta, fora morta por um homem que dizia amá-la, mas não confiava em si como deveria. O ciúmes doentio dele havia guiado-o a retirar de si a única pessoa que realmente amava, que se importava consigo, e ela afirmara amar o marido loucamente?
Mas ele não a amava. Ele era como Yukito: era obsessivo.
Yui congelou ao ouvir o som da porta de seu quarto sendo aberta lenta e sorrateiramente. O sangue em suas veias corria rápido diante das batidas frenéticas do coração. Não havia solução, ele estava ali.
Havia achado-a.
Yui fizera o possível para não vê-lo.
Mas não fora o suficiente.
Talvez fosse sua sina.
Suspirou entrecortadamente.
O barulho de passos fortes e calculados chegou aos ouvidos da cantora como o som do inferno, do seu inferno pessoal. Talvez fosse melhor morrer a viver com aquele fardo que não era seu. Não mais era. Largara-o quando não mais aguentara. E por que continuava sendo importunada? Não entendia, não queria entender.
O canto da cama cedera, sabia o que viria a seguir. Ele se mexeria lentamente, engatinhando na cama de modo silencioso, tencionando tocá-la. Sim, o toque veio, como previra. Ele subia por sua canela por cima do edredom e lhe causava engulhos. Iria regurgitar se houvesse algo em seu estômago, mas não havia nada.
A sensação de pavor que muito conhecera no passado voltou a assolá-la e, sem ter escolha, cerrou os punhos, sentindo a unha afundar-se na carne sem piedade. Era muito melhor sentir a dor física a lembrar-se das feridas mal cicatrizadas, seria demais para si.
A cama rangeu, as mãos se moveram, e o corpo antes distante se mostrou presente. Estava acima de si. Fitava-a com insistência. Mas Yui não queria vê-lo, fechara os olhos para não ter que enfrentar seu passado.
? Olhe para mim ? ele exigiu, sua voz forte e impiedosa cortou o silêncio do quarto como uma navalha afiada, a moça negou veemente com a cabeça ?, olhe! ? ordenou, não sendo atendido.
Repleta de medo, mas corajosa ao ponto de não voltar em sua decisão, Yui manteve-se negando-o o máximo que conseguiu, sentindo o corpo forte tentar domá-la.
Talvez fosse o momento de dizer adeus a tudo o que era seu, conquistara e o que ainda viria. Quando as mãos firmes envolveram seu pescoço com força, roubando-lhe o ar, Yui soube que era o seu fim. Não havia volta.
Queria ter feito escolhas diferentes. Se soubesse que Yukito era um psicopata louco nunca teria aceitado sair com ele. Nunca gostara dele profundamente, o que sentia era só a carência pedindo por atenção, e era muito fraca para vencer tais sentimentos. Por isso havia se tornado cantora: porque ver seus fans chamarem-na com tanta adoração, sorrirem para si com admiração, seguir seus passos com entusiasmo, tudo isso enchia-a de felicidade, de satisfação própria, de coragem para continuar.
Mas tudo ruíra, ruiu. Era o fim. Deveria dar tchau a todos os seus sonhos, suas ambições, seus amigos. Quando os dedos severos lhe arrancavam à força os últimos resquícios de ar, ela nada pôde fazer se não gritar.
? Não!
O grito ecoou no silêncio, tornando-se assustador. O coração batia a mil implorando por ar e o corpo suava em agitação. Os olhos arregalados fitavam o quarto vazio e o corpo, sentado na cama, arfava fortemente.
Outro pesadelo, dessa vez pior. Levantando, Yui caminhou pelo quarto, ligou o abajur, encostou-se em uma parede, deixando seu corpo escorregar até o chão e, abraçando os joelhos, chorou copiosamente.
Por quê? Saia de um e entrava em outro pesadelo? Por que não conseguia paz de espírito? Quando conseguiria dormir verdadeiramente? Sonhava com o dia em que o passado deixaria de atormentá-la.
Não sabia quando aconteceria, talvez fosse algo impossível para si.
Uma utopia.
? Eu estou com você, irmãzinha ? a voz suave e doce pronunciou, fazendo-a chorar ainda mais.
Quando aquilo iria acabar?