Canção de ninar? somente a madrugada... Quando já estiver dormindo.

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    Capítulo 4

    Vincent

    O Pesadelo.

    Era uma caminhada longa e solitária, que não parecia ter fim. Mesmo que não tivesse mais fome, ainda estava molhada, e decididamente cansada. O céu ainda estava nublado, e isso era preocupante, e afinal, a última coisa que ela queria era ter que passar por aquele pesadelo de novo. Apenas a neve a cercava, a tirar pelo lugar que anda: O chão de ladrilhos do misterioso Caminho da Madrugada. Se queria desistir? Mas, é claro. Se iria desistir? Improvável.

    Andou, os passos lentos, até que ouviu uma voz. Correção: ela ouviu a voz. Não se assuste, meu caro leitor. Você não leu errado! A voz, com artigo definido, a mais concreta prova de que a situação era de admirável importância. Prossigamos: A mesma voz de antes, que falava tão calmamente da origem daquelas do sexo feminino, e que a ferira a ponto de precisar sair de cena. Seu primeiro pensamento fora é claro, dizer ??poucas e boas?? para ela! Que para os desinformados, é um modo de falar vindo do povo, imagino, que eu pelo menos, uma narradora...Considero uma coisa tão impotente que vale a pena ser escrito. Mas, antes que pudesse decidir, a voz começou a formar palavras, que logo eram frases:

    - Ainda não achou seu caminho? ? um riso provocante. ? Não é a toa que não é párea para uma tempestadezinha a toa.

    ?? Se houver uma boca, farei-a engolir todos os fios que tem na cabeça. ?? a menina pensou, sorrindo com a ideia. Veja bem amigo (a) leitor... Não é que ela seja assim má... Pelo menos não inteiramente, como cada um de nós, eu suponho supondo essa suposição.

    Com a idéia divertida de ignorar a arrogante voz, a criança seguiu em frente, mais uma vez rodopiando, agora com elegância. E ao seu redor, tudo se tornava um baile. Frases, um pouco mais irritadas, ainda podiam ser ouvidas pela faladora invisível, mas, a menina combateu da mesma forma, e continuou sua dança.

    As árvores ao redor soltavam folhas douradas, que a cercavam num redemoinho suave, enquanto seus pés nus moviam-se quase que deslizando. O mesmo som de antes, vinha com aura majestosa, enchendo com graça os ouvidos da pequenina. Estava sendo arrogante ao ignorar a voz? Era certo que sim. Mas, ela aceitava aquele lado, e o usava com um sorriso de desprezo, que uma criança não devia ter. Depois de um tempo, ao notar o silêncio de sua ouvinte, parou os pés e disse devagar, cada palavra mais afiada que a outra:

    - Não é muito bom, certo? É isso que chamamos de empatia.

    - Muito bom. Ou melhor, mal, se me permite dizer. Uma maldade bem utilizada. ? sussurrou a outra sem nenhum resquício de fura. ? Aceitou o medo, a arrogância e a curiosidade. Não sei dizer se estará preparada para o resto... ? e a chamou por um nome.

    Doeu no peito, ouvir aquele nome. Mas, ela aguentaria tudo: afinal, não é muito admirável largar um modo de agir tão rápido. É preciso ser cauteloso ao se despedir da arrogância. Por isso, ela sorriu de leve, e disse:

    - Posso me cuidar. ? A dor aumentava, e não era só psicológica.

    -Tem certeza? ? a outra rebateu, com uma doçura tão doce que era odiável.

    - Absoluta. ? disse a criança, e por fim, cerrou os lábios numa linha reta e sussurrou ? Vá.

    Assim que a voz sumiu ? não sem antes soltar um riso malicioso, para ser chique ? a pequena gritou alto. Caiu de joelhos, e pode sentir o vômito subindo na garganta. Mas, não era só isso: Todo o seu corpo ardia em diferentes tipos de dores. O líquido horrendo veio, e ela o colocou para fora. Por que aquilo doía tanto? Ah, aquilo era a rejeição? Porque sabe... Ser rejeitado...Dói muito.

    ?? Um preço justo... Pela arrogância?? ela pensava. Afinal, tudo naquela existência tinha um preço. O amor você paga com a vulnerabilidade, assim como a confiança. Algumas coisas realmente são bem caras, e outras bem baratas, mas, sempre pode ter aquele velho probleminha do defeito de fabricação, e é nesse ponto que você se arrepende de ter estado tão vulnerável.

    Após algum tempo derrubada pelas próprias escolhas, ela se levantou. Limpou rosto e boca com as mãos, já que nem sempre é possível e necessário usar a classe, a menos que você seja uma rainha ou uma princesa. Nesse caso, o que você mais vai querer é parar de usar a classe para poder comprar uma briga ou fazer algo imprudente... Ou pelo menos é o que dizem nos livros. Deu um passo a frente, e para a sua surpresa, todo o chão do?O Caminho da Madrugada começou a brilhar. Uma energia escura passou por todo o ladrilho, e uma brisa gélida a envolveu.

    Bom, agora ela era uma criança um pouco mais obscura. Não se pode viver uma aventura e ser para sempre aquela mesma pessoa que resolveu dar o primeiro passo, ou que foi obrigada a fazê-lo. Apesar de tudo, seus olhos escuros sempre foram tristes, de acordo com a Velha senhora do Xale.

    Quando estava prestes a dar o próximo passo, algo lhe ocorreu. E não foi uma ocorrência qualquer, caro amigo! Ah, não! Foi uma ocorrência digna de atenção, embora não fosse algo tão majestoso quanto um cardume de sereias. Há tempos ela seguia por aquele estranho caminho e nada acontecia...Então haveria alguma mudança se simplesmente ficasse parada? Era uma ação ousada o bastante para alguém que crescera em uma caverna coberta por cobertores ? o que como narradora, eu faço questão de dizer. ??Coberta por cobertores?? é um jogo de palavras muito sábio, veja bem.

    Sentou-se no chão e esperou. Seria um espera longa, mas ela realmente estava disposta a fazer aquilo. Depois de vinte minutos ou mais, folhas vindas de sabe-se onde vieram carregadas pelo vento, caindo com leveza no chão em frente a menina. Palavras foram formadas:

    ?O que você está fazendo aí sentada??

    - Cansei de partir de nada para lugar nenhum ? argumentou a menina, em tom de leve irritação.

    Outra brisa veio, juntamente com novas palavras:

    ?Você sabe muito bem que só está irritada por estar sendo contrariada?.

    ?Tudo que está fazendo é fruto de seu desejo por atenção...? ? o nome dela estava escrito ? ?Porque seu caminho durante O caminho da madrugada define tudo o que você é e o que precisa ser; E é por isso que seu caminho está repleto de dificuldades: Você é fraca, arrogante e desnecessária?.

    ?Aceite isso, todo o seu lado podre e siga adiante.?

    ?Erga sua cabeça, permanecendo humilde, porque ainda vão te pisotear muito por aqui, criança. E só a tão dolorosa humildade vai evitar que seu veneno existencial ? a arrogância ? lhe destrua.?

    Sinceramente, aquela menina não sabia de onde vieram todas as folhas que escreveram a realista mensagem, realista por ser cruel e sincera, mas tudo parecia mais claro agora. Sabia que aquela pessoa que controlava as brisas e lhe mandava mensagens, queria uma resposta. Uma resposta madura, que apresentasse argumentos se defendendo ou oque fosse. Mas ela não era capaz.

    ?Minha nossa.? Foi tudo que pensou com certeza. Ela devia ter notado antes! Porque sempre percebemos as consequências depois de desfrutarmos de tudo? Agora pagaria pela arrogância com o seu equivalente. Só que faria algo um pouco diferente ? o tipo de coisa, que de tão inesperado chega a ser aguardado.

    - Eu sou tudo isso. ? ela disse de olhos arregalados. ? Talvez mais, mas ainda sim, sou isso.

    ?É só isso que tem a dizer??

    Ela pensou um pouco.

    - Me desculpe. Por favor, deixe-me continuar prosseguindo. ? as palavras saíam roucas, arranhando seu ego.

    ?... É válido. Meus parabéns, você aprendeu mais uma lição.?

    Ela até pensou em responder, mas as folhas foram levadas para longe, o que deu a impressão de já ter feito o necessário. Ah, a vergonha pelo erro! Tinha noção do que havia feito, mas era mesmo necessário ter sido tão direto e cruel com ela?

    ?Mesmo que eu tenha sido tudo aquilo... Ele podia ter sido um pouco mais paciente... Ou eu mereci?? Sua expressão era certamente de frustração consigo mesma, um dos piores tipos de frustração, se me permitem dizer. Uma vez que quando se desaponta com os outros, a culpa é divida quase que igualmente: Pela pessoa que desapontou, e pela que criou expectativas. Mas quando suas próprias ações te fazem mal, geralmente a causa vem apenas de si mesmo, e como isso é terrível! De qualquer maneira, prossigamos: Aquela menina andava, não mais em seu baile imaginário, mas sim pela estrada aparentemente sem fim pela qual há tempos prosseguia. Os ladrilhos agora escurecidos começavam a formar imagens novamente, assim como no início d?O caminho da madrugada: Primeiramente, veio a família. Uma mulher de pele achocolatada com uma expressão de negação. Um homem de beleza inegável, com as asas brancas saídas das costas ? estranhamente, penas negras estavam a seu redor. Um garoto que aparentava ser a mistura entre os dois adultos, o rosto estranhamente cruel. Agora a criança repara nas imagens, e uma sensação familiar lhe veio, como se aquelas pessoas fossem antigos conhecidos. Depois de três metros de ladrilhos escuros, um homem de presas afiadas surgiu acompanhado de uma mulher cadavérica. Um pouco mais adiante dos dois, havia uma cigana coberta por tecidos coloridos, segurando sombrinhas coloridas, aparentemente dançando. Sua pele era morena, e perto dela estavam as palavras:

    ?O păsărică mi-a spus despre zid de gheață?

    Em seguida, uma casa aparentemente japonesa... Com neve sobre o telhado, caindo lentamente. Por fim, os ladrilhos foram escurecendo até se tornarem negros. A criança observava tudo acontecer com curiosidade, os passos perdendo o ritmo, ou simplesmente parando, apenas para poder observar as imagens com mais cuidado. Quando tudo se tornou escuro, ela ficara desapontada. Era certo de que até mesmo alguém tão pequeno e jovem como ela, poderia notar a beleza daquelas imagens, por isso, correu com toda a força que seus pés nus podiam alcançar. O negro ainda controlava os ladrilhos, mas ela tinha esperanças. Porque tudo, meus leitores ? não no sentido de posse, claro, eu não tenho caixas de mudanças etiquetadas com todos os meus leitores. Embora fosse totalmente incrível ter algo assim. ? parece mais possível quando corremos. E aquela menina correu.

    Longe dali, um rapaz de cabelos castanhos e cheiro de chocolate sentava-se ao lado de uma cama de madeira. Havia um corpo decididamente pequeno nela, soterrado por uma grossa coberta azulada. O rapaz de óculos ?decididamente estranhos? não encarava a pessoa por baixo do pano, embora suas frases parecessem ser dirigidas a alguém.

    - Vincent. Um passarinho me contou que você me queria aqui. ? comentou Nicolau, os olhos mirando o chão.

    Um braço se ergueu do emaranhado de panos. Não era uma coberta grossa afinal, e sim vários cobertores finos e com textura e cor exatamente iguais.

    - Você não disse isso. ? Murmurou o pequeno corpo. ? Teria sido um trocadilho melhor se você tivesse dito em romeno. Você devia se envergonhar.

    - Vou me lembrar disso. Falando nisso, temos uma visitante inesperada.

    - Por que está me contando isso? Quer que eu vá até lá e a convide para um castelo feito de nuvens, onde todos os seus sonhos se tornarão realidade por todo o tempo em que permanecer na construção, e no fim acordará em seu quarto sem se lembrar de nada? Parece tentador, mas sabe... Hoje eu estou um pouco arrogante. ? comentou o dono da mão, como quem não quer nada.

    - Não é um sonho e nem um muda, e não tenho certeza de que seja uma criança humana.

    - Eu não ligo, Allives. ? suspirou. ? Pode ser uma fada, quem sabe? Eu não te chamei aqui para isso.

    Nicolau retirou os óculos e lançou um olhar indiferente para o garoto, embora mais parecesse que se irritara com as cobertas por não serem verde limão. Isso é uma tremenda ofensa para alguém que cheira a chocolate.

    - Ficou bravinho? Achei que tivéssemos superado isso. Certo, vamos fazer uma DR e...

    - Vincent. Eu não sou sua namorada.

    - Eu gosto de garota difíceis.

    - Só que as garotas difíceis não gostam de você. Muito menos os Nicolaus. ? suspirou Nicolau.

    Longe dali, aquela menina não mais corria. Estava parada e de olhos arregalados diante do enorme buraco que se encontrava a sua frente. Em certo momento, durante a sua corrida, a paisagem começara a mudar. Árvores longas e de folhas esverdeadas apareceram em volta do?O caminho da madrugada, e os ladrilhos estranhamente tinham a mesma textura do que a terra. Vira riachos e montanhas ao longe, e estava passando tão distraída, que quase caíra dentro do buraco, que aparecera sem rodeios (não rodeios de verdade, daqueles com palhaços e touros, já que seria incrivelmente difícil para os buracos conseguirem um emprego se precisassem de um rodeio a cada aparição. Por essas e outras, a economia é um investimento sem sentido.). Em volta da ?cratera? havia folhas e muita grama, do tipo em que não se podia ter certeza se era seguro pisar. Por isso, a criança se aproximara devagar e com cuidado. Cuidado o bastante para chegar bem perto da ponta, e poder ver o que se escondia por baixo daquele emaranhado de plantas: Um lago, com a água verdadeiramente azul, cercado pelas paredes de pedra, que o cobriam em círculo.

    Depois de tanto andar, era uma tentação muito grande não se atirar naquela água tão... Argh. Aquela, meus companheiros leitores, era uma água deveras Argh. Porque é isso que nós dizemos quando algo é tão bom, quando palavras não são encontradas para caracterizar, dizemos Argh. Ou talvez quando estamos com preguiça de usar um adjetivo do seleto grupo da gramática, que não consideram uma palavra tão expressiva como um dos caracterizadores. Prossigamos: Apesar de tudo, ela tinha a impressão que não estaria pronta para o que se encontrava no fundo daquele lago. Tinha a impressão de que deveria permanecer em frente, seguindo e passando por mais e mais provações daquele caminho.

    Mas ninguém disse que ela era obediente e certinha. E mesmo se fosse, até as meninas sem nada de especial, aquelas que se sentam na primeira fileira, usam óculos e aparelho, dormem antes das dez e gostam de livros, às vezes querem quebrar as regras. Porque ninguém é de ferro, tirando os carros, eles são certinhos.

    E por isso mesmo, aquela mergulhou, atirando-se alguns metros, decidida a cair no lago. Ela estaria feliz, se um pouco antes de cair na água, não tivesse visto um rosto surgir na água. Não um rosto humano. Uma criatura branca e de olhos que mais pareciam depressões negras. Sua pele revelava algumas escamas, e havia orelhas pontudas e de lóbulos um pouco grandes. O nariz era relativamente normal, embora fosse um pouco fino. Os lábios eram negros e de beiços levemente grandes. A face era alongada e fina, com uma testa de ?tamanho normal?. Um longo e liso cabelo louro-claro caía para trás, e parte dele flutuava na água. Um pouco antes de aquela menina poder sentir medo, a criatura abriu a boca, a qual se alongou de orelha a orelha, revelando dentes afiados e quase tão brancos quando a pele do ser. A língua avermelhada era assustadoramente grande, indo até abaixo do queixo. De repente ele saltou, e abocanhou a criança. Com metade do corpo para fora de sua boca, a criatura mergulhou, a água se tornando vermelha.

    Longe dali, no quarto de janelas abertas onde Nicolau e Vincent se encontravam...

    - Hoje é dia 12 de agosto, eu preciso ir. ? Disse Nicolau, se dirigindo a porta. ? Você provavelmente tem razão, não deve ser ninguém especial.

    A mão dele tocou a maçaneta, se preparando para abrir, quando algo o deteve. As cobertas estavam no chão, e atrás dele, Vincent o segurava pelo paletó. A pele morena era morena, e cachos lhe caíam sobre o rosto. Cachos finos, porém em grande quantidade. Ele era menor do que Allives, mas este parecia no mínimo chocado. Os olhos arregalados e a paralização do corpo indicavam isso. Pedro o encarava, os olhos castanhos claro perigosamente calmos.

    - Ela foi comida por um Pesadelo. Comida por um Pesadelo, Allives. ? disse Pedro, apertando o paletó com mais força.

    - Quem te contou?

    - Plutão, é claro. ? Respondeu o garoto, suspirando. ? Ele gosta de videntes.

    - Videntes como você. ? completou Nicolau.

    Por fim, Pedro o soltou.

    - Eu vou averiguar isso. ? disse o garoto. Pegou um casaco pendurado na parede, saindo pela janela mais próxima.

    Nicolau já sabia que algo grande estava vindo. Pegara um pedaço de papel do bolso, e começara a escrever, apressado. Precisava contar a ela.

    ?Vincent levantou.?

    Ele escrevera, queimando o papel logo em seguida. Sabia que essa era a forma mais rápida da mensagem chegar a ela.

    - Está começando. ? Ele comentou, retirando um frasco vermelho do bolso. ? Mais uma vez. ? ele bebera o liquido, igualmente vermelho.

    Na última vez que Vincent levantara, o Império Romano havia caído.


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