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Fanfic escrita com base na letra da música Kodou do Dir en grey.
No começo éramos quatro amigos, no começo... Eles diziam que eu não sabia fazer escolhas, que eu dependia deles. Mas essa não era a verdade, nunca foi. Ou realmente era? Não sei.
Manhã de segunda, começo da minha sina.
Quis provar para eles que eu sabia fazer escolhas. Joguei o porta retrato com nossa foto na parede, abandonarei meu passado. A máfia japonesa estava recrutando jovens para fazerem pequenos “serviços”, entretanto não era qualquer jovem que eles deixavam entrar. Faltei à escola naquele dia para encontrar os homens no lugar combinado. Uma pequena tarefa foi dada a mim: matar alguém.
Meu primeiro mergulho na escuridão.
Meio dia, recebi um telefonema.
- Alô? Você faltou à escola hoje, está tudo bem?
- Melhor do que nunca. – tentei deixar minha voz mais indiferente o possível, não estava nada bem.
Eu sou viciado em perceber o destino. Sabia que aquela escolha não me levaria a um destino promissor. Aquela música que me lembrava do passado tocava na rádio, maldita música. Sozinho no meu quarto olhando para lugar algum eu posso ouvir meu coração gritando. Meus pais me deixaram, agora eu me enterro na escuridão.
Levantei e olhei-me no espelho, quando meus olhos tornaram-se mortos? Acho que eles sempre foram assim.
Levo uma vida sem sentido, o que me espera amanhã? Mais um serviço? Uma morte cruel? Retornar a vida normal de um adolescente? Correr atrás dos meus pais? O quê? Por quê?
Oito da noite, meu telefone toca.
- Temos outro serviço para você. – a voz do outro lado era fria e indecifrável. – Amanhã, vá para escola, quando voltar, nos espere em frente à praça.
Não respondi nada e desligaram o telefone.
Passei a noite imaginando o que seria esse novo serviço, matar outra pessoa? Já me afoguei na escuridão uma vez, não seria problema fazer novamente. Apaguei minha voz, fechei meus olhos, mergulhei na escuridão. “Não brinque com você mesmo e não engane você mesmo” repeti inúmeras vezes mentalmente enquanto encarava o telefone, resolvi fazer uma ligação. Disquei apressadamente os números intermináveis, ouvir sua voz seria um alivio.
Meia noite e um minuto.
- Alô?
Não respondi.
- Alô?
Ela desligou o telefone.
Encarando a superfície laminada na mesa do telefone, vi a tristeza em minha face. Ela, provavelmente, irá embora amanhã.
Terça de manhã.
Fui para a escola como se foi solicitado. Como um ator, encenei uma manhã normal com as pessoas que duvidavam de mim. “Não brinque com você mesmo e não engane você mesmo” novamente aquela frase em meus pensamentos. Quando as aulas acabaram e eu saia da escola, vi-a com sua bicicleta escura pedalar para longe dali.
Esperei onde falaram e me pegaram minutos depois. No caminho, um saco de pano foi colocado na minha cabeça. Não vi mais nada.
Uma freada, um grito, um barulho de algo caindo, uma sacudida do carro, porta malas sendo fechado, o carro em movimento.
Quando o saco foi retirado estávamos parados em frente de uma construção. Saímos do carro e fui conduzido para o centro. Uma sala grande, cheia de fios e cordas.
Lá estava ela, desacordada.
- Mate-a. – falou o homem apontando para uma corda no chão.
Respirei fundo, feche os olhos, mate a voz, mergulhe na escuridão.
Arrastei-a pelos braços até a corda e a passei em volta de seu pescoço fino. Ao passo que eu puxava com dificuldade a corda ela levantava, não mexia nenhum músculo. Já suspensa eu toquei seu pé a empurrei levemente para frente, eu a observei morta.
Estava chovendo lá fora, a música do passado voltou para atormentar minha mente, eu finalmente percebi o que eu tinha feito. A tirei de lá e a coloquei no chão. Seus cabelos negros fúnebres espalhados pelo chão frio daquela construção me fizeram chorar por dentro.
Meu segundo mergulho na escuridão.
Arrastei-me até o cadáver. Não tive coragem de tocá-la, puxei a corda sem ter alguma explicação.
- Vamos. – meus devaneios foram interrompidos.
Voltamos para o carro e o corpo foi colocado na porta malas. No caminho, um dos homens sai e abre a mala jogando o corpo na rua.
Partimos.
Fui deixado perto da minha casa, não fui para lá. Vi fitas de isolamento na rua, não posso voltar.
A interminável chuva. O interminável som. A interminável ferida. O interminável amor. A interminável música... O interminável amor...
Eu não posso mais parar com isso, agora que fui aceito, não tem mais volta. Eu nunca mais poderei tocar isso, agora que a matei, nunca mais poderei tocar em seu nome. Eu guardo em mim sua intensa voz. Aquela interminável música.
Mate a voz, feche seus olhos, afogue-se na escuridão. Vaguei sem direção até dar de cara com o muro da construção de antes, olhei para o alto na tentativa de ver o final daquilo.
Afinal, está tudo na escuridão.
O tempo abriu, os raios do sol passaram as nuvens negras que se desfaziam pouco a pouco.
Eu nunca mais dependerei de ninguém.
- Assim, parece uma ironia esse tempo ensolarado. – murmurei. – Bom dia.