A Perdição

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

    18
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo 01_ Maria e sua Perdição

    Estupro, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Suicídio, Violência

    Bem, histórias sobre demônios (yeya) todo mundo já deve ter ouvido uma. De qualquer maneira, eu tenho um plano especial para essa, claro essa história completa que pretendo fechar com no máximo cinco capítulos, é o prólogo em si pois explica o passado de uma outra história que pretendo postar (ou que já tenho postada, dependendo de quando você, caro leitor, vai estar lendo-a). Enfim, aproveitem :3 Boa Leitura.

    A mulher vagava na tênue divisória entre a vida e a morte, estirada na grama a beira do lago, pouco podia sentir de si mesma, seu corpo havia sido tão danificado, pobre mulher, não podia mais sentir suas pernas, seus braços pareciam pesar demais para poder levanta-los, começava a se engasgar com seu sangue, seu coração começava a falhar, ali estirada na grama na beira do rio, abandonada para morrer.

    -Maria, pobre Maria. ? disse um estranho se aproximando ? Quem poderia dizer que sua sorte teria sido tão... ? ele a avaliou com um carinho afetado, quase cínico ? Trágica.

    Maria não pode vê-lo, mas pode ouvi-lo, e ainda podia pensar, mesmo que não claramente, ela não conhecia aquele homem.

    -Que indelicadeza a minha. ? disse o homem.

    Ele se abaixou perto do corpo de Maria, tocou seu braço de forma tão sutil quanto podia, correu seus dedos até seus cabelos, os tirando do rosto da mulher, um rosto que havia sido deformado pelos inúmeros socos que levou.

    -A vida te trouxe aqui, não foi? ? perguntou ele ? Sua mãe também terminou como você, e você ainda se perguntava... Será que terei o mesmo fim que ela?

    Maria piscou, as lágrimas escapando dos olhos, sua respiração se tornando difícil.

    -Mas a escolha é apenas sua Maria, pobre Maria. Quer terminar aqui ou recomeçar comigo?

    Maria não queria terminar daquele jeito, terminar como sua mãe, encontrada meses depois no meio de uma floresta, em estado de decomposição. Maria queria viver, queria viver não importando o preço. Por mais pesado que seu braço parecesse ela o levantou de forma trêmula e hesitante em direção do vulto do homem que ela ainda não podia reconhecer, mesmo que suas palavras não pudessem ser ouvidas ela gritava em seus pensamentos ? Viver! Viver! Viver! ? ela não sabia, mas ele podia a ouvir.

    Um sorriso brincou nos lábios do homem. Ele segurou a mão de Maria e se levantou a puxando junto com ele, por fim a colocando em pé. Quando ela se deu conta todos os seus ferimentos haviam se curado ? que ela estava saudável e bela novamente, sem sangue, sem dor ? ela tremeu em desespero, mas não pode tomar nenhuma atitude.

    -Como se sente, Maria? Bem? ? perguntou o homem.

    -Oh meu Deus! ? disse ela pasmada pela situação. Seus grandes olhos castanhos cintilando assustados quando encontraram os olhos do homem que eram do mais extraordinário verde esmeralda.

    -Costumo ouvir bastante essa frase. ? disse ele a segurando pelos ombros.

    -Quem é você? ? perguntou ela.

    -Eu? ? questionou ele ? Eu sou seu salvador, seu amigo.

    Ela se calou, porém o silêncio era ainda mais perturbador que a conversa. Ela se lembrava de tudo que havia acontecido com ela alguns minutos atras, e isso a assustou mais do que poderia entender. A pobreza tinha banido todas as oportunidades saudáveis de sua vida, a miséria tinha dado a ela a única educação que poderia ter, as ruas. Muito jovem para ser mulher, muito velha para ser criança, Maria era uma flor que desabrochara em uma primavera maldita, fresca e cálida porém rodeada por um campo pestilento, com dezesseis anos ela já tinha sofrido mais do que muitos sexagenários, todos os homens imundos que se obrigou a deitar para tirar o sustento, todas as situações vergonhosas que teve que suportar, até a chance de frutificar descendentes lhe foi tirada com seu primeiro filho um ano antes. E então um grupo de garotos ricos pagou adiantado por uma noite de divertimento, porém o divertimento deles era muito pior do que normalmente poderia ser, afinal, ninguém daria falta de uma prostituta sem nome? E então lutando contra a morte conheceu esse salvador, mas quem seria ele?

    -Mas eu...? ? ela se questionou.

    -Você renasceu hoje Maria, esqueça seu passado, ele não importa mais.

    -Nada mais importa? ? perguntou ela sentindo as lágrimas virem aos seus olhos, tanto pela incapacidade de compreender o que havia acontecido ali quanto a possibilidade de aquilo ser um milagre libertador ? Posso desistir dessa vida miserável? Posso...

    -Sim, você pode descansar agora. ? disse ele a apertando entre seus braços de repente.

    Ela se assustou e começou a se debater, inconscientemente reagindo por causa de lembranças amargas do seu passado, lágrimas ainda vertendo de seus olhos, mas o abraço dele era firme e ela não pode lutar contra ele durante muito tempo, por fim relaxou e se acomodou em seus braços, ele não a apertava a ponto de machuca-la, apenas a prendia o suficiente para não fugir, de uma maneira que Maria considerou gentil.

    -Maria, eu te escolhi por um motivo. Você viu o que aconteceu agora a pouco, então eu te pergunto, está com medo?

    -...Sim. ? sussurrou ela, tentando conter as lágrimas.

    -Não tenha. ? disse ele ? Pois ei de te tomar como minha e sob minha guarda nada de acontecerá.

    -O que quer dizer com isso? Como se chama? Quem é você, de verdade? ? resmungou ela confusa.

    -Eu vou te ensinar meus segredos Maria das Dores, apenas... ? ele segurou o rosto dela em suas mãos ? confie em mim.

    Tudo aconteceu rápido demais para Maria sequer bolar um tipo de negação. Ela estava em seus braços, e essa sensação confortável que ela nunca havia sentido aquecia seu peito e não parecia querer abandona-la, como poderia uma pessoa sentir isso? O que era isso? De repente ela começava a vê-lo com certa admiração, um deslumbramento infantil que ainda residia em seus pensamentos apesar da situação, ele a havia ajudado, algo que nunca ninguém tinha feito, nem sua própria mãe, não importava que tipo de situação havia acontecido ali, ela se sentia profundamente agradecida, e também, aumentando seu deslumbramento, ela nunca tinha visto alguém como ele, tão bonito e educado quanto ele.

    -Obrigada... ? sussurrou ela, essa era a palavra mais doce que ela aprenderá, então com cuidado ela o abraçou em retorno ainda tomada pelas lágrimas, pois esse era o único meio de expressar sentimentos, a única forma de pagamento que ela aprendeu. Ele tentou se afastar mas ela continuou agarrada nele com medo do mundo ao seu redor ? Continue. ? sussurrou ela ? Continue, não pare.

    E naquele toque se resumia todos os sentimentos de Maria, translúcidos e estilhaçados como uma janela quebrada, porém que ainda poderia machucar.

    -Nunca se esqueça, você me escolheu também. ? disse ele contra os lábios de Maria.


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