Haai!! :3 Bem minna-san, essa não é minha primeira fic, porque por algum motivo além da minha compreensão apagaram minhas antigas fics aqui no OA, de qualquer maneira sou uma pessoa muito insistente U.Ú E espero que gostem dessa fic assim como eu gosto (LOL). Enfim! Adoro Hellsing (até parece que é segredo), assim como outros animes, mas principalmente, amo Vlad Tsepesh, e foi por meio do anime Hellsing que descobri esse personagem tão intrigante. De qualquer maneira, essa é uma fic sobre a Dama de Ferro da Inglaterra, o que é igualmente divertido kkk Prometo apenas isso, não irão se arrepender.
De repente ela acordou, suada e confusa na madrugada fria, ainda se debatendo graças aos demônios da sua mente, esses que se chamavam lembranças e a acompanhariam até o fim. A necessidade de respirar havia tomado conta dela assim a noção de realidade, sentindo a tensa falta de ar ela tentou respirar mas logo se engasgou e começar a tossir com uma violência animalesca, sem poder respirar novamente, essa tortura se seguiu por alguns instantes que pareceram uma eternidade, seus olhos ficando embaçados pelas lágrimas do desespero, seu coração palpitando rápido e descompassado como um pássaro engaiolado, infelizmente ela já conhecia aquelas crises há algum tempo...
Num súbito auto-controle a velha senhora conseguiu subjugar aquele inferno, ela não permitiria que aquilo pudesse interferir na sua rotina, no seu espírito, ela simplesmente não aceitava que algo tão estúpido fosse lhe causar tantos problemas. Assim como foi lhe dito um dia ? não há bem que para sempre dure, nem mal que nunca acabe ? aquela crise tempestuosa foi sufocada com uma vontade de ferro, deixando apenas a calmaria, no entanto mesmo na calmaria e no silêncio da noite os gritos ainda ecoavam em sua mente, os gritos do seu pesadelo recheado de lembranças, sonhar nos últimos tempos era algo raro e também raramente agradável, e naquela noite ela tinha sonhado com a grande guerra dos tempos em que havia perdido a visão no olho direito.
Como era possível? Mesmo depois de tantos anos aquele dia ainda voltava a perturba-la no único lugar onde não conseguia ter controle, em seus sonhos, e pior! Aqueles sonhos geralmente tomava caminhos mais desagradáveis do que ela lembrava, quase como se fossem reflexos do medo que ela não se permitiu sentir naquela época. Hoje ela sabia que tudo havia se resolvido, pelo menos em grande parte, mas em seus sonhos ela não conseguia vencer, seu precioso servo nunca retornava e ela se encontrava impotente e perdida, com medo pela primeira vez. Limpou as lágrimas com as mangas do pijama tomando total consciência da realidade, de alguma maneira aquilo ajudaria. De qualquer maneira ela sabia que não conseguiria voltar a dormir, e tampouco o queria, então resolveu por começar a trabalhar mais cedo naquele fatídico dia.
Ao encostar os pés no chão sentiu o peso de seus ossos, dores pelo corpo, e isso a fez lembrar dos inúmeros pedidos que recebera para se aposentar e deixar a organização para outra pessoa, alguém mais jovem, com mais energia para o trabalho e cabeça para os problemas.
-Bando de babacas inúteis. Não saberiam resolver um maldito caso nem que esfregassem os fatos nas suas caras. ? sussurrou para o nada procurando algo na gaveta e logo depois se dando conta que o que ela procurava não estava ali. ? Droga, ? rosnou ? isso é o que eu digo.
Levantou-se lentamente percebendo a resistência de suas juntas, era a mesma rotina toda manhã, mas era mais do que natural para quem passa mais de 5 horas em uma única posição, claro, só precisaria se alongar um pouco e tudo estaria resolvido. Ela inda era jovem, poucos tinham a vitalidade dela com seus oitenta e nove anos.
Em seu ritmo próprio se vestiu, a calça, uma perna de cada vez, a camisa e o terno, um braço de cada vez, ajustou a gravata e a pequena cruz que a adornava, colocou os sapatos e tentou arrumar o cabelo, estava sendo difícil arruma-lo naquela manhã e o que ela queria era ir logo cumprir seus afazeres, afastar aquelas lembranças, pelo menos isso ela poderia fazer enquanto trabalhava ? por que haviam tantos nós naquela manhã? ? porém os casos estavam se tornando cada vez mais confusos, como se o mundo tivesse mudado sua ordem, e eles não esperavam por ela, apenas se acumulavam sobre a mesa de maneira petulante, era quase irônico, quanto mais ela trabalhava mais a papelada parecia aumentar, ? parece que quanto mais tento prende-las, mais essas mechas saem do lugar! ? Com um suspiro contido que sufocava silenciosamente toda a sua irritação ela findou suas preocupações, iria fazer isso da maneira certa e mais calmamente, se os anos haviam ensinado algo era que a pressa era a inimiga da perfeição e que a paciência ? além de uma virtude ? era o intervalo entre a semente e a flor.
As madeixas que um dia tinham sido platinadas e fartas, dignas de inveja em muitas mulheres, agora estavam completamente brancas, os fios haviam ficado mais finos, leves o suficiente para balançarem com a menor brisa, e em algumas poucas partes pareciam um pouco esparsos, porém seus fios não eram apenas um cabelo, eram um símbolo, seu cabelo era sua figura e ela se recusava a corta-lo, uma constante cascata imponente que cobria suas costas. Aos poucos penteou seus cabelos até ficarem livres dos nós e os deixou soltos singelamente, emoldurando um rosto marcado pelo tempo. Por alguns instantes ela admirou aquele rosto no reflexo do espelho, suas rugas e cicatrizes, e nelas a velha senhora não reconhecia a si mesma, mas essa conclusão não vinha d eum ponto de vista vaidoso e sim de olhos mito sábios, ali estavam marcados cada dia de sua vida, aquelas eram as marcas físicas de suas lembranças, pessoas que se foram, pessoas que as causaram, alguns momentos tristemente não voltariam mais, e outros com muito alívio ela suspirava por não voltarem mesmo.
Porém seu passado não era apenas assombrado, e mesmo com a idade avançada ela lembrava perfeitamente de tudo, acariciando com carinho aquelas poucas memórias queridas, tão raras que valiam a pena serem mantidas vivas com carinho. Seus olhos correram pelo relógio da penteadeira, eram quase cinco da madrugada.
Com a mesma tranquilidade de um velho sábio ela lembrou dos poucos que estavam acordados naquela hora além dela: os guardas noturnos, a policial e seu servo... Quando era jovem, quando teve a oportunidade de mudar seu destino, ela recusou. Foi um pouco de teimosia, outro pouco de preconceito e um elemento principal, o fato de não conseguir lidar com aquele sentimento.
Sua juventude foi gasta entre montanhas de papéis, crimes sangrentos e campos de treinamento, ela não teve uma mãe para ensina-la sobre o sorriso de uma mulher e o pouco tempo que teve do pai foi rigidamente direcionado a sua futura ocupação como chefe de uma grande organização. As situações apenas se apresentaram para ela, e ela simplesmente tinha que resolve-las, um nome que impunha respeito porém igualmente obrigações, um cargo que em sua tenra juventude pareceu um fardo havia se tornado sua vida, mas a que preço?
Teria tudo sido diferente se ela voltasse ao passado naquele exato instante? Ela era de fato uma mulher corajosa, enfrentou e superou mais do que muitos suportariam, porém ela não era pefeita, e havia fraquejado perante um desafio em que muitos outros se aventuram se braços abertos.
Teria tudo sido diferente?
?Eu acho que não.? ? pensou ela com um saudosismo confortável que a aquecia por dentro. Nada seria diferente, ela faria tudo exatamente igual, pois ela compreendia suas obrigações e o peso de seus atos, as consequências que se seguiriam se ela tivesse o aceitado, se entregado em seus braços e sucumbido em um toque que carregava as asas da morte.
Um beijo que teria selado seu destino.
A distância de mestre e servo a agradava de uma maneira deturpada, e nenhuma crítica ao longo dos anos sobre sua vida pessoal realmente a atingirá, todos os pretendentes que afastou ou os pedidos de uma relação séria que ela rejeitou solenemente, nada disso a abalava. Afinal, casamento era algo sério e ela queia compartilhar isso apenas com alguém que conseguisse preencher seu coração, alguém no qual ela confiasse e respeitasse, e bem, seu coração já estava preenchido quando esses patéticos galanteadores apostaram suas cartas, nada mudaria o fato de que ela preferia se manter casta e solitária a ter que dividir a cama com alguém que não fosse aquele o qual dedicava esse sentimento deturpado, essa distância que apenas tonava seus sentimentos mais profundos.
Quando ainda jovem, essa distância tornava seus sentimentos avassaladores, ela não sabia os controlar, o que sempre a fazia ficar perturbada internamente com a presença dele, a fazia se irritar e descarregar uma arma na cabeça dele. Hoje, com seus oitenta e nove anos, essa distância era confortável e transmitia uma cumplicidade honorável, forte e superior.
Isso era o suficiente, ela não se sentia sozinha, aqueles olhos vermelhos tão expressivos e cheios de vida, nem mesmo os séculos puderam os envelhecer, insolente, imperdurbável, aquele o qual não se curvava para ninguém, a não ser ela.
Um sorriso tão discreto brincou em seus lábios que foi quase imperceptível, porém esse sorriso logo foi interrompido por uma nova crise em sua respiração, tosses sufocantes que davam a sensação de que brotavam do mais fundo recanto de seu corpo, um monstro primitivo que despertava de tempos em tempos para atentar contra sua força de vontade, depois de alguns instantes dessa tormenta ela sentiu algo espesso em sua garganta, levou a mão à boca como última tentativa, pensou que iria vomitar mas não teve agilidade suficiente para sair da penteadeira, foi quando sentiu um pouco daquele líquido derramar em suas mãos e então não teve dúvida mesmo estando à meia luz, o cheiro e o gosto que lhe eram tão familiares outrora, no entanto em outra situação... Era o preço pelos anos e anos sendo uma fumante compulsiva.
Era o câncer de pulmão, e ele estava a devorando de dentro para fora.