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Cap.4 ? Veterano bom, é veterano morto.
Já era domingo, no dia seguinte Ivan teria que voltar para a arena para mais uma tortuosa luta, mas dessa vez ele estava quase inteiramente preparado, depois de ter tido a primeira aula de magia com o prefeito, agora poderia lutar de verdade e não ser um objeto de treinamento de arremesso. Nesse dia ele acordou cedo e muito bem revigorado, sua saída da cama foi rápida assustando até mesmo Oculus, que ainda dormia como uma pedra.
(Oculus)-Gaaaah! Mas que?! Qual é o significado disso? Que horas são? Espera... Ainda é de manhã cedo!
(Ivan)-Sabe que horas são? É hora de voltar a treinar! E acabar com aqueles otários que tiram onda com a minha cara!
(Oculus)-O que? Você não pode ser o Ivan! Quem é você? O que fez com ele? Ivan nunca acordaria cedo para um treinamento! E com certeza teria tiradas melhores...
(Ivan)-Não dá pra perder tempo! Vamos comer alguma coisa e ir direto ao campo, eu ainda quero terminar o segundo exercício... Se bem que você poderia se transformar numa moto-serra pra facilitar minha vida.
(Oculus)-Eu já te disse, eu me transformo em espadas, não em tudo. Se fosse assim eu teria me tornado um... Um... Uma máquina de espremer frutas com tudo que tem direito, ai eu ganharia dinheiro!
(Ivan)-Fala sério! Uma máquina de sucos que faz tudo? Que impossível! De onde você tirou essa?
(Oculus)- Uuuhhh... Nada não...
Ivan seguiu com seu ritual matinal, por ter chegado cedo ao refeitório, pode comer comida fresca, sem contar que quase devorou o lugar inteiro novamente. Ao terminar correu em direção aos campos para treinar mais. Assim como o refeitório o lugar estava vazio, ele seguiu para o mesmo toco que treinava no dia anterior.
E assim se seguiu até o meio-dia, Ivan já estava cansado e suando, mas não era suficiente para parar-lo, com a exceção de uma coisa, a chegada do prefeito que caminhava calmamente até sua direção. Mesmo sabendo de sua presença, Ivan continuava a praticar.
(Phill)-Você está indo muito bem! Estou impressionado com a velocidade que aprende as coisas. Isso vai ser muito útil quando estiver em qualquer luta.
(Ivan)-É... huh... Isso se eu não cair para fora da arena denovo.
(Phill)-Quase me esqueci de te falar como quebrar um ataque desses... É muito simples, é só você usar a própria energia contra a do adversário, sempre mirando para parar ou desviar o ataque. Agora com esse segundo exercício, eu aposto que está muito mais fácil dar forma a sua energia.
Ivan então parou com seu treinamento e sentou-se com o prefeito, sob o grande tapete de grama verde.
(Ivan)-Puff... Pode ser... Mas, isso significa que eu já estou pronto para uma luta séria?
(Phill)-Olha... Você só saberá que esta pronto na hora, mas você pode ficar mais seguro de si se praticar bastante.
(Ivan)-Mas que droga, eu preciso de vitórias e pontos, mas principalmente dinheiro, eu to quase morrendo de fome, só me alimento de café da manhã! Sem contar com aquelas chaves e... a montanha e aquela estória toda!
(Phill)-É com certeza você vai ficar ocupado durante um bom tempo procurando essas coisas... Mas Ivan por favor lembre-se, ir atrás de um sonho e ir atrás de uma ambição são coisas completamente diferentes.
(Ivan)-Uuuhhh... Tá legal... Eu não entendi muito bem a diferença, mas eu vou tomar cuidado, não esquenta.
(Phill)-Tudo bem então ? Phil agora se levantava ? Arrr... Eu acho que eu estou começando a ficar velho para isso! Ivan continue treinando e aperfeiçoando essas técnicas, elas serão de muitíssima importância, tanto em lutas quanto em realizar qualquer outro tipo de magia. Até mais e bom treino!
(Ivan)-Valeu mesmo, até mais... Mas que droga, achei que ia aprender alguma coisa nova hoje.
(Oculus)-Cara, você é muito apresado. E já que você tem tanta vontade de aprender coisas novas, por quê você não cria sua própria magia? Você já sabe o básico, agora se vira!
(Ivan)-Hehehe! Você tem razão! Vamos criar alguma coisa nova... Espera, coisas ruins acontecem quando as pessoas tentam criar magias novas não é?!
(Oculus)-Nada! Tudo é muito seguro, no máximo você pode se cortar, afogar, esmagar, triturar, mutilar, prender, rasgar, queimar, incinerar... Mas não é nada demais.
(Ivan)-... Eu... Acho que é melhor continuar a treinar e... Aprender magias, já criadas com segurança.
O treinamento só se estendeu por mais algumas horas, antes de Ivan decidir descansar e dar uma volta pela cidade, pra ver o que poderia estar acontecendo por lá. Já era umas três horas da tarde e as ruas estavam cheias de gente fechadas em grupos, não era possível escutar a conversa direito devido à quantidade de pessoas falando ao mesmo tempo. Raras eram as exceções onde se podia escutar plenamente o que diziam. Ivan aproveitando a situação, fingiu se encostar numa loja ao lado, o vendedor logo de cara percebeu sua tática e decidiu não incomodar.
(Homem)-Nenhum lugar é mais seguro aqui. Todo mundo diz que tá tudo bem, que a situação está sob controle, mas é tudo mentira! Eu sei disso! Aquela porcaria de conspiração, ou sei lá como chamam aquela porra, está em todos os lugares.
(Homem2)-Que isso cara, você tá complicando as coisas demais... Eles sim podem estar em todos os quatro Reinos, mas é impossível eles se tornarem uma força capaz de derrubar todos os líderes de uma vez! Os Tangan Api são fortes demais para serem derrotados por um grupinho de pessoas só.
(Mulher)-Nem tanto, eu ouvi dizer que aquele louco em Ária está recrutando um exército... Ele quer uma reforma e coisa e tal. Dizem que ele não faz parte da conspiração, mas isso é obvio demais!
(Homem1)-Eu vi um cara estranho entrando na floresta várias vezes semana passada, isso cheira a problema, mais cedo ou mais tarde vai acontecer um atentado aqui, e agente vai ter que se virar. É melhor agente dá uma viajada pra outro lugar, e evitar qualquer tipo de porcaria que acontecer.
(Mulher)-Nossa! Você é muito corajoso, heim?!
(Homem1)-Eu sou sim corajoso, mas eu não sou suicida, eu uso o que eu tenho de massa cinzenta na minha cabeça. E ela me diz para sair desse lugar o mais rápido possível!
(Homem2)-Eu detesto dizer isso, mas eu concordo com ele... Nós não sabemos o que vamos enfrentar, e dependendo vamos acabar sendo mortos. Se não sairmos agora, não conseguiremos depois e ai será tarde demais.
(Mulher)-Vocês podem correr pra onde quiserem! Eu vou ficar e proteger essa cidade com a minha vida! Essa é a honra que um guerreiro deveria buscar e não fugir de uma batalha! Covardes!
(Homem1)-Tá legal, só tenta não ser dividida em muitos pedaços pra gente catar depois, vai ser um saco...
(Mulher)-Homens! São todos uns covardes insensíveis!
Após o termino de tal argumento era melhor sair de perto do grupo, ou ele poderia acabar entrando em uma tremenda briga. Então Ivan voltou a andar pela cidade, já estava quase na hora de voltar a treinar, mas algo lhe roubara completamente a atenção. A garota misteriosa de seu hotel também dava um passeio pela cidade, para os olhos de Ivan ela estava radiante, obviamente ele não era o único a admirar a garota passeando pela rua. Ivan quase rodou a própria cabeça em 360°, a única coisa que o impedia de tal proeza era o seu pescoço.
(Ivan)-Caramba, que raridade vê-la andando por ai. Ótima oportunidade para ganhar uns pontos com ela!
(Oculus)-Hahaha! Essa eu quero ver.*Tum!*
O som de dois objetos se chocando só foi seguido de um líquido sendo derramado, logo à frente, uma garçonete havia derrubado suco sob a um homem que andava pelo local.
(Homem)-Ei! Mas que droga é essa! Olha o que você fez! Você derrubo toda essa porcaria na minha roupa!
(Garçonete)-N-não foi por querer senhor... Mas era o senhor que andava distraído por aqui.
(Homem)-Mas que droga! Você sabia que essa roupa é rara! Só invictos conseguem essa roupa, mesmo uma garçonetezinha de merda como você trabalhando um ano inteiro não teria a metade do dinheiro pra pagar isso aqui!
Por mais que não tivesse envolvido com a situação, Ivan não pode suportar a necessidade de por um basta.
(Ivan)-Wow! Calma ai cara! Esse tipo de coisa tem solução sabe... É só tirar e lavar em qualquer tanque que sai.
(Homem)-E eu por acaso tenho cara de lavadeira, pivete.
(Ivan)-Pivete?! Pensando bem... Cara de lavadeira você não tem
Aquele com certeza não era o melhor dia, nem a melhor pessoa para se dar conselhos de limpeza. O homem ao qual Ivan se dirigia era bem alto, beirava um metro e noventa de altura, usava uma roupa preta com o mesmo emblema da arena no peito, por cima dela havia algumas proteções de couro escuro, em seus ombros havia o que restava de uma capa vermelha que agora estava retalhada, e em sua cintura uma espada longa cuja bainha era cravejada em jóias e ouro. Pode-se perceber que ele com certeza era alguém não muito humilde, nem interessado em piadas de mau-gosto, mas Ivan sempre detestou pessoas que se achavam melhores do que as outras.
A discussão entre os dois parecia atrair a atenção das pessoas em volta, muitos olhavam surpresos, até que a pobre garçonete sussurrou por traz de Ivan:
(Garçonete)-Por favor, não precisa me defender, e-eu estou bem.
(Ivan)-Nada! Esse otário tem que aprender a respeitar as pessoas, gente assim tem que encarar pra valer!
(Garçonete)-Mas senhor, você não entende! Ele é...
(Ivan)-Eu sei, eu reparei que ele é um veterano, mas mesmo assim...
(Garçonete)-Ele não é qualquer veterano. Ele já é famoso por aqui... Ele se chama Amaron Lóng.
(Ivan)-Mas que nome é esse?!
(Garçonete)-Dizem que ele é filho de um grande conquistador com uma escrava estrangeira. Ele só possui o sobrenome do pai e o primeiro nome dado pela mãe. É uma história muito triste, poucas pessoas o conhecem direito.
(Ivan)-Eu não me importo com quem ele seja, ele não pode sai culpando as pessoas sem mais nem menos, só porque ele acha que está certo.
A multidão a sua volta agora congelou em medo, todos olhavam para Lóng, que parecia não acreditar no que havia ouvido, ele se aproximou de Ivan, inspirou bem fundo e disse calmamente:
(Amaron)-Você realmente tá pedindo pra morrer moleque, talvez eu devesse enfiar um pouquinho de juízo nessa sua cabeça antes que eu quebre ela na metade.
(???)- Aaron! Mas que mal-humor é esse! Você já devia saber que não pode começar brigas na rua! E nem dar uma de durão pra cima dos novatos! Eles chamam isso de Bullying! Nome engraçado, não?!
Nesse momento uma nova pessoa havia invadido a roda, dessa vez era um homem de pele bem branca, loiro, de olhos azuis, coberto por um casaco de pele brando e cinza. Era um pouco mais baixo que Aaron e carregava um sorriso largo e irradiava simpatia.
(Amaron)-Alphonse! Mas o que no inferno você está fazendo aqui?! Eu achei que ainda estivesse congelando sua bunda em Tundra.
(Alphonse)-Hahaha! Você é a única pessoa que ainda me chama pelo nome todo! Eu já disse que você pode me chamar de Al ou Alph, como preferir!
(Amaron)- Eu prefiro te chamar de cadáver! E não se meta nisso, isso é entre mim e o moleque!
(Alphonse)-Garoto! Eu não sei o que você fez pra irritar ele, mas você conseguiu algo que eu demorei anos pra fazer!
(Amaron)-Desde o dia que você nasceu você me irrita!
(Alphonse)-Parece que você derramou suco de novo na sua roupa preferida não é?
(Amaron)-Espera, não fui eu! Foi àquela garçonete idiota que...
(Ivan)-Olhe como fala! Respeite a garota! Você sabe que a culpa foi sua!
(Amaron)-Já chega vocês dois! Eu vou acabar com isso! Moleque, qual é o seu nome?!
(Ivan)-Meu nome é Ivan.
(Alphonse)-Calma cara, você não vai...
(Amaron)-Ivan! Eu te desafio para uma luta mano a mano na arena!
A multidão então olha rapidamente para Ivan por uma resposta.
(Ivan)-Nah... Não to com saco pra aturar uma luta extra, eu já tenho uma amanhã.
(Amaron)-Mas que... Vo-você está recusando?!
(Ivan)-É claro, desafiar uma pessoa não significa que ela vai aceitar.
(Amaron)-Uuuuhhh... Você sabe que em uma luta com alguém do meu nível a recompensa é maior né?!
(Ivan)-Maior?! Tipo... Perdendo ou ganhando?!
(Amaron)-Afirmativo.
(Ivan)-TÔ DENTRO!!!
Mais uma vez as pessoas pareciam não acreditar no que viam. Como um novato que perdeu três lutas seguidas encarar um veterano invicto, sendo ele Aaron, o considerado mais famoso dentre eles. Mais uma vez, Ivan foi seduzido pelo dinheiro, como se isso fosse uma grande surpresa.
(Amaron)-Amanhã as nove da matina. Você tá morto garoto.
E se retirou. Ele foi seguido pela multidão que voltava aos seus afazeres, horrorizados com o que tinha acontecido. Ivan permanecia em pé na frente da pobre garçonete em estado de choque, ele olhava se adversário desaparecendo com a distância. A única pessoa que permanecia no lugar era Alphonse, que agora não sorria tanto. Ele olhou para Ivan e se caminhou a seu encontro.
(Alphonse)-Esse cara não tem jeito mesmo, ele sempre foi esquentadinho... Mas garoto você realmente tem coragem pra bater de frente com um cara como ele! Seu nome é Ivan, não é? Ou você deu um nome falso?
(Ivan)-Não, era meu nome mesmo, eu não me importo com quem ele seja, o que ele fez foi errado de certa forma... Por mais que fosse culpa dela ou não, ele não pode sair xingando todo mundo só por que tá afim. Um acidente é um acidente.
(Alphonse)-Hahaha! Caramba garoto, você com certeza é um dos meus! Prazer em conhecê-lo Ivan! Eu sou Alphonse, como você já deve ter escutado daquele trasgo, mas pode me chamar de Al.
(Ivan)-Tá legal, prazer em conhecê-lo... Al,mas você já conhece o cara a muito tempo?
(Alphonse)-Sim! E bota tempo nisso, nós quase viemos pra cá ao mesmo tempo, só que eu cheguei primeiro umas duas semanas de diferença, nós nos conhecemos quase desse mesmo jeito, só que foi envolvendo assustadoramente um peixe ainda vivo...
(Ivan)-Nossa!... Uuuu... Pode... Continuar a estória...
(Alphonse)-Ele também me desafiou para uma luta, só que eu acabei vencendo. Ele jurou que ele iria se vingar bláh, bláh, bláh, e que um dia eu iria pagar bláh, bláh, bláh, e então nos tornamos rivais. E nós competimos pra ver quem vai ganhar o título de ?Mestre? primeiro!
(Ivan)-Legal, mas ele não deveria estar indo nos mesmos lugares que você?
(Alphonse)-Sim... Só que ele tem um certo complexo com coisas raras e perfeccionismo... É por isso que ele ainda está voltando de Ária, enquanto eu estou voltando de Tundra. Mas, indo direto ao que eu queria te falar... Por mais que você seja habilidoso, não tem como você derrotá-lo. Por mais que você o encare como uma pessoa normal, isso não vai te ajudar em nada. Não tem como voltar agora, você terá mesmo que lutar, e não espere que ele pegue leve contigo, ele irá usar todos os artifícios possíveis para te derrotar, e quando ele tiver a oportunidade de acabar com a luta, ele irá acabar! Não importa como você termine... Você me entendeu bem?!
(Ivan)-Como assim? Quer dizer que eu posso... Morrer?!
(Alphonse)-Sim. É um pouco difícil, o sistema de saúde aqui é um dos melhores que já existiu, mas é claro que pra isso você tem que chegar vivo e com a cabeça no lugar.
(Ivan)-Obrigado pelo aviso, mas... Não tem como eu me preparar para a luta? Tipo... Você pode me dar uma dica de que habilidade ele normalmente usa?
(Alphonse)-Ah! Sim claro! Você já deve saber que cada elemento tem um forte e uma fraqueza e um pode ser neutralizado pelo outro não é? Pois bem... Ele usa todos!
(Ivan)-O... O que?! Todos?! Isso é meio que possível?!
(Alphonse)-É claro! Você só precisa de tempo... E eu já disse que ele é perfeccionista!
(Ivan)-Então como eu me viro com isso?! O que eu tenho que fazer?!
(Alphonse)-Simples... Praticar o que você já sabe, e rezar bastante para que saia inteiro. Eu vou me retirar! Hoje é um dia muito especial pra mim, e eu quero chegar em casa logo! Adeus e boa sorte! Eu vou estar lá para ver a luta não se preocupe!
(Ivan)-Claro! Eu estou muito calmo... como se isso mudasse alguma coisa, na minha vida...
(Oculus)-Bom trabalho, agora você comprou briga com um veterano, que é um maníaco psicótico! Muito bem!
(Ivan)-Aaaahhh! Cara! Cala a boca!
Não tinha muito tempo, Ivan correu para voltar a treinar, tentou realizar suas séries, mas estava tão nervoso que não conseguia se concentrar. Sua mente foi tomada de estresse e a cada tentativa fracassada a situação só piorava, o pânico era eminente. Por mais que se preparasse, nunca havia lutado antes com um veterano, ainda mais sendo invicto. A tarde passou rápida naquele dia, e seu treinamento foi um fiasco, não houve melhoras no seu desempenho e ainda havia muito o que melhorar nos dois exercícios que ainda treinava.
Durante sua volta para o hotel, todos aqueles que ainda estavam na rua, limpando ou desmontando o comércio paravam alguns segundos para dar uma espiada no novato suicida e fofocar algo no ouvido da pessoa ao lado. Essa situação não melhorava a de Ivan, estava completamente exausto fisicamente e psicologicamente. Ao chegar à entrada do hotel, achava que o sofrimento havia acabado, que poderia finalmente descansar, mas estava muito enganado. À noite a sala de estar normalmente não ficava muito cheia, mas não naquela noite. Quase todos os hóspedes estavam lá, quase de forma proposital esperando sua chegada. Quase imediatamente foi recebido por Romeu.
(Romeu)-Senhor Ivan! Como vai?! Então alguma novidade?
(Ivan)-Não, nenhuma, agora eu vou...
Um homem que sentava em uma das poltronas disse em voz alta e direta.
(Homem1)-Deixa de mentira! A cidade toda sabe que você vai lutar com o Lóng amanhã! O que você vai fazer é suicídio!
(Ivan)-Cara... A luta e o dinheiro são meus, agora eu...
(Homem1)-Você deve estar brincando comigo! Você vai lutar com ele por dinheiro ou por causa da garçonete gatinha que você tava querendo traça!
Todos na sala caíram na gargalhada. O ódio de Ivan borbulhava seu sangue e com um impulso descontrolado chegou ao centro da sala onde se encontrava uma mesa de carvalho e a socou com toda a força, o que gerou um som alto e grave e um pequeno *crack*.
(Ivan)-Todo mundo calando a boca nessa porraaa!!!
As gargalhadas haviam parado. Alguns olhavam Ivan assustados, enquanto outros posicionavam suas mãos sobre suas armas, esperando o pior.
(Ivan)-Quem vai lutar nessa porra?! ... EU! ... Quem é que vai se fudê pra ganhar o dinheiro... EU! ... Vocês não tem nada a ver com essa merda! Vocês me entenderam?!
O silêncio continuava e ninguém ousou falar uma única palavra. Ivan então se retirou para seu quarto. Todos que permaneceram começaram a relaxar e olhar para o piadista que começou a confusão, que abaixou a própria cabeça, um pouco sem graça.
Ivan, agora no quarto, senta-se a cabeceira da cama e olha pela janela as luzes ainda acesas da cidade, ele não sabia se viveria para vê-las de novo. Estava em uma situação muito complicada, iria enfrentar alguém com capacidade de aniquilá-lo em segundos e mesmo que sobrevivesse, ainda sairia ferido demais para simplesmente ir para casa, ele seria obrigado a ir para o hospital, onde Myah, a enfermeira homicida, ronda pelos corredores. Parecia estar encurralado, onde quer que fosse encontraria a morte, sendo em uma luta ou nas mãos de Myah.
Após torrar um pouco seus neurônios Ivan decide ir dormir, mas na verdade ficara acordado a noite toda, a adrenalina que corria por suas veias não permitia o merecido descanso. Tentou fechar os olhos várias vezes, mas nada funcionava, só conseguiu cochilar de madrugada e por pouco tempo. Já era hora de se preparar para o confronto, Oculus acordou assim que Ivan se levantou da cama.
(Oculus)-Então, você conseguiu dormir?
(Ivan)-Não...
(Oculus)-É... Eu esperava algo assim... Não se preocupe... Você vai se sair bem. Eu vou estar lá contigo pra te ajudar.
(Ivan)-Hum... Valeu cara...
Ivan então desceu as escadas e foi comer o que parecia ser sua última refeição. Romeu até tinha oferecido um bolo que havia confeccionado com as próprias mãos, não havia como recusá-lo. De fato o bolo estava bom, mas tudo que comia parecia estar amargo naquela manhã, Ivan não havia comido muito como costumava comer. Ele então se levantou.
(Ivan)-Obrigado mesmo pelo bolo, estava ótimo.
(Romeu)-Calma senhor Ivan, o nervosismo é comum nesse tipo de situação... O que você deve fazer é se acalmar e focar no momento, não há como voltar no tempo, sua única saída é continuar em frente.
(Ivan)-É... Então... Obrigado por tudo mesmo... Eu vou nessa, senão eu vou me atrasar. Até mais, talvez...
(Romeu)-Não se preocupe, você ainda viverá para ver o dia de amanhã.
(Ivan)-Espero.
Ele então seguiu para a saída do hotel, deu uma olhada para traz e seguiu em direção ao Coliseu. O céu estava parcialmente nublado, o que acabava elevando o clima de ansiedade de Ivan. A rua estava quase deserta, naquela hora da manhã, já deveria ter pessoas andando e vendendo coisas, mas não havia quase nada.
Após uma curta caminhada, Ivan já estava enfrente a escadaria, respirou profundamente e começou a subir os degraus. À medida que subia, ele podia ouvir a voz de pessoas conversando bem alto lá dentro. Ao chegar finalmente a entrada da grande estrutura, Ivan teve uma ampla visão do lobby, cheio de gente que aos poucos ia notando sua presença. Ivan, porém, não se importava, caminhou em direção a um dos balcões.
(Ivan)-Eu tenho uma luta marca agora às nove com Amaron Lóng. Meu nome é Ivan.
(Balconista)-É claro, sua luta é na arena 1, logo ali nas cortinas vermelhas.
Era a primeira vez que havia reparado na diferença das entradas. As cinco primeiras arenas eram ornamentadas com cortinas, mas a 1 era a maior e mais luxuosa delas, parecia mesmo que ia ser um evento e tanto. Ivan sem demorar foi para dentro da arena, após passar por um pequeno corredor coberto por um tapete vermelho, chegou a uma câmara idêntica a das últimas vezes, mas dessa vez só o juiz estava lá.
Ivan então se posicionou em sua marcação e esperou ansiosamente a chegada de seu adversário, pois havia chegado quase uma hora mais cedo. A tensa aumentava com a passagem dos minutos, de certa forma Ivan rezava para que Lóng não chega-se e automaticamente ganha-se a luta por WO, mas suas esperanças sumiram cinco minutos antes das nove horas. Ele podia ouvir pessoas gritando o nome de Lóng do lobby, já não tinha mais volta, sua hora havia chegado.
Lóng entrou na câmara e se posicionou do outro lado do emblema desenhado no chão. O juiz então anuncia:
(Juiz)-Está na hora das apresentações:No lado...
(Amaron)-Vamos com isso logo!
(Juiz)- ...No lado direito o novato Ivan. Do lado esquerdo o veterano, onze vezes invicto, Amaron Lóng. Vocês já conhecem as regras! Vamos começar!
O emblema no chão então brilha levando as três pessoas da sala para o espaço onde o local da luta é selecionado. Dessa vez um ponto brilha em meio a uma cadeia de montanhas.
(Juiz)-Huuum... Muito bem, a luta será na cidade abandonadas das montanhas do leste. Tomem cuidado aonde pisam, o chão é instável no lugar porque abaixo da cidade há uma cadeia de túneis e a queda não é pequena, então não caiam se quiserem sair com suas pernas como estão. Boa sorte! Lutem com Honra!
(Amaron)-Vamos nessa! Woohhhoo!!!
Depois de mais um feixe de luz, Ivan estava na tal cidade, o lugar era desértico, não havia um sinal de vida, nem mesmo de plantas, tudo era uma grande tigela amarela, marrom e cinza, sem contar com destroços de casas de madeira que enchiam parcialmente a paisagem.
(Ivan)-?GLADIUS?, mas que droga de lugar é esse? Esse lugar só tem arenas estranhas! Fala sério! Oculus, fica de olho em qualquer movimentação suspeita.
(Oculus)-Eu sei, nenhum sinal dele aqui em cima. Eu sinto que ele deve estar abaixo de nós.
(Ivan)-Pode até ser, mas ele não tem como acertar a gente de lá... Certo?!
Uma lâmina acabava de perfurar o chão, a poucos milímetros de distância de seu pé, uma grande quantidade de rachaduras começou a se formar e Ivan entendeu que era mais do que na hora de sair dali. Após saltar para fora da área de perigo o solo cede, levantando uma grande nuvem de poeira no ar.
(Ivan)-Ah! Quer saber! Eu entendi. Tudo que eu pergunto é verdade, não perca tempo questionando e sai logo da armadilha mortal que você escapa por milímetros de distância! Como sempre!
(Amaron)-Ainda bem que você sabe. Fazer armadilha é um saco, eu prefiro assim, na mão.
Amaron agora fazia sua entrada pela poeira que demorava a abaixar, a espada em punhos refletia a luz como se fosse um espelho, sua ponta era um pouco arredondada para gerar mais peso e criar golpes mais potentes.
(Amaron)-Ainda estou em dúvida... Como eu poderia acabar com você da forma mais dolorosa possível... Cegar você com a poeira não tem tanta graça...
(Ivan)-Leve o tempo que quiser, eu estou curtindo isso daqui!
Ivan prepara um ataque usando a lâmina estendida e tenta acertá-lo mantendo uma distância segura. Aaron simplesmente desvia com o corpo sem sair do lugar.
(Amaron)-Você é bem apressado pra uma pessoa que quer sofrer... Espera, até que faz sentido...
(Ivan)-Fala sério, você tá tirando onda com a minha cara?!
Ivan continuava a desferir os mesmos golpes, enquanto Amaron desviava no mesmo lugar. Ivan não agüentava mais a provocação deu um passo à frente e tentou mais uma vez, pondo um pouco mais de força no ataque. Amaron teve que dar um passo para traz para evitar o ataque, ele olhava para o próprio pé e em seguida para Ivan fingindo surpresa.
(Amaron)-Oh!... Você me fez dar um passo!... Você é realmente algo moleque!
(Ivan)-Filho da...
Ivan preparava-se para ir com tudo para cima de Aaron.
(Amaron)-Não! Eu ainda não me decidi, fique ai!
Apontou seu dedo para Ivan que foi empurrado pelo nada para o mesmo lugar onde estava. Ivan se encolhia de dor, parecia que algo havia lhe dado um soco no estômago tão forte que perdera o ar. Ouve-se um estalar de dedos.
(Amaron)-Já sei! Eu ouvi falar que você ainda está aprendendo a usar magia, por isso eu vou te dar um crédito! Só usarei ataques corpo a corpo! Você use o que quiser, mas faça o favor de se levantar primeiro.
Ivan ficava mais irado com cada provocação que recebia, ao ficar em pé novamente junto com um urro de fúria. Um sorriso bem largo se abriu no rosto de Amaron.
(Amaron)-Hahaha! É disso que eu to falando! Vamo nessa! Pode vir!
Ivan corre a toda em direção a Aaron, que já preparava um forte golpe horizontal, já alerta da existência do perigo, ao se aproximar, Ivan se joga ao chão semi-arenoso , permitindo escorregar por sua superfície, naquele momento ele quase teve sua cabeça acertada pela espada do oponente. Aaron não esperava esse movimento e não podia parar o golpe durante sua execução. Enquanto escorregava, Ivan desferiu um golpe na lateral do joelho de Aaron, embora não fosse profundo foi o suficiente para fazê-lo cambalear e perder o equilíbrio. Ivan se levantou o mais rápido que pode para desferir o próximo golpe, porém, dessa vez, foi parado pela espada de Aaron que havia defendido ajoelhado e de costas para Ivan. Amaron então desfere um chute nas costelas de Ivan forte o suficiente para tira-lo do chão e empurrá-lo uma distância razoável.
Os dois voltam a se encarar de pé novamente. Ivan ainda sofria com as dores de sua barriga e costelas, enquanto Amaron tentava não por o peso do corpo em seu joelho levemente ferido.
(Amaron)-Nada mal... Nada mal mesmo... Agora você me deve uma calça nova.
(Ivan)-Uma calça inteira? Cara, você tem sérios problemas com roupa, heim?!
(Amaron)-Huh! Mas você não sabe como...
Amaron segurava sua espada com as duas mãos e a girava para trás como se fosse rebater uma bola de baseball, mas ao invés de uma bola, pedras e poeira começavam a flutuar e se reunir na altura onde a espada rodava. Ivan obviamente percebeu que Aaron havia quebrado sua promessa e que agora iria com tudo pra cima dele. Amaron prendeu sua respiração e desferiu um golpe no ar todas as pedras que flutuavam agora foram atiradas com imensa força em direção a Ivan, que tentou pará-las usando a gladius e sua própria energia, mas não foi o suficiente. Poucas foram as pedras que acertaram sua espada e nenhuma foi parada pelo seu suposto escudo, as pedras acertaram Ivan com a mesma intensidade que haviam sido disparadas e a dor sentida era quase como se tivesse sido baleado por balas de chumbinho. Ivan novamente foi ao chão.
Ele não tinha muito tempo para tentar superar a dor, Aaron vinha em sua direção para perfurá-lo junto ao chão. Sem ter para onde ir. Ivan com toda sua força desferiu um, dois, três golpes no chão, suficientes para abrir um buraco para sua rota de fuga. Depois de se jogar na imensidão escura do túnel, imediatamente cravou sua espada na parede arenosa, que o permitiu reduzir a velocidade de sua queda. Ao alcançar o chão rolando soltando urros de dor, ele tentou recobrar parte da força que havia perdido, antes que Aaron voltasse a caçá-lo novamente. Decidiu arriscar-se e seguir pelos túneis que mesmo com rachaduras e aberturas na superfície eram escuros e abafados, não se podia respirar direito lá em baixo. Ivan suspeitava o fato de Aaron não tê-lo seguido, até que o teto cede e quase o acerta senão tivesse desviado. A maldita poeira havia tomado o túnel onde Ivan se encontrava, ele estava cego, não sabia mais para onde ir. Mais uma vez o teto cede, mas dessa vez em cadeia tornando o túnel um corredor mortal. Ivan corria o mais rápido possível para evitar ser esmagado, tudo a sua frente era um breu total, enquanto atrás pedras e entulhos levantavam uma gigantesca nuvem de poeira.
(Ivan)-Por favor diz que isso aqui não é sem saída... Por favor diz que isso aqui não é sem saída... Por favor... Mas que merda! Por que tudo que eu digo acontece!
Para a sorte de Ivan era sim um beco sem saída, o que era a entrada da mina que estava soterrada por um possível desmoronamento antigo. Ivan teve que parar e olhar para trás e pensar em uma saída, sua corrida havia dado tempo suficiente para fazer seu próximo movimento. Ao olhar para o teto, começou a desferir golpes com a lâmina estendida o mais longe que conseguisse.
(Oculus)-O que você tá fazendo! Você nunca vai conseguir alcançar o teto! Isso deve ter uns cinco metros de altura!
(Ivan)-Você tá certo, hah... Hah... Tá na hora de copia o sabichão lá de cima.
Ivan tentou copiar o mesmo golpe das pedras voadoras que Amaron havia desferido.
(Oculus) Você tem certeza que consegue numa boa? Você nunca tentou antes!
(Ivan)-Tá na hora de começar então! Deixa eu ver... Primeiro, junta as pedras com o ar... Depois tirar elas do chão... Manter elas flutuando e depois atirar com tudo!
Ivan realizou sua única tentativa, porém as pedras foram jogadas em direções diferentes, bem fracas e mal conseguiram chegar à metade do caminho até o teto.
(Ivan)-Aaahhh! Cara! Por que só acontece merda comigo!
Não havia mais escapatória, o teto havia cedido bem ao seu lado, e chegou a sua vez. A única reação de Ivan foi apontar sua gladius para cima na esperança de talvez quebrar uma rocha ao meio.
(Oculus)-?Nihil mihi superferri?
Ivan desaparece soterrado por rochas. O ar tomado por silêncio tanto na arena quanto no lobby, onde várias pessoas assistiam a luta, todos esperando a decisão do juiz e o retorno de Amaron e dos restos de Ivan. Alguém na multidão grita ?Espera! Olhe! Aquela pedra! Ela está... esfarelando?!?
De fato algo acontecia, uma das pedras que acabara de soterrar Ivan se tornava areia sem nenhum motivo aparente. A medida que a areia descia por entre as pedras, a ponta de uma espada apontada para cima começava a ser vista, logo depois sua lâmina, cabo e então mãos e de repente Ivan se levanta como se tivesse prendido o ar por muito tempo. Tossia e tentava puxar ar para seus pulmões. Essa virada na partida foi seguida por gritos e comemorações do público que assistia.
Ao sair de entre os escombros, Ivan dá uma boa olhada para o céu, agora visível em sua cabeça.
(Ivan)-Caramba... Oculus... Valeu... Valeu mesmo por ter... Feito essa coisa que eu nem sei o que é!
(Oculus)-Não foi nada, você teria morrido se tivesse sido acertado, era o mínimo que eu podia fazer.
A conversa só foi cortada com Amaron que havia descido cinco metros como se tivesse descido um degrau de uma escada.
(Amaron)-Muito bom... Parabéns! Eu não faço a mínima idéia de como você sobreviveu... Mas eu não tinha planejado isso.
(Ivan)-O que eu posso dizer... Sempre fui uma pessoa de improvisos.
(Amaron)-Pois bem... improvise isso!
Aaron desfere um golpe de lâmina estendida, porém era maior que a de Ivan e parecia mais forte. Não havia para onde correr, o túnel era estreito demais, a única opção era defender. Dito e feito, Ivan posicionou-se da melhor forma que pudesse e, com uma mão segurando o cabo e a outra dando apoio a ponta da lâmina, levantou sua gladius a altura que o golpe seria acertado. O impacto foi parado e o golpe desfeito. Aaron não entendia o que tinha acontecido.
(Ivan)-Não olhe tão surpreso. A gladius é a espada mais resistente que já foi criada e nada é mais resistente que ela! Deixa eu te mostrar!
Ivan agora ia com tudo de si para cima de Amaron, utilizando o que havia treinado com o seu vulgo ?Moto-serra?. Começava a desferir golpes fortes sobre a espada de seu oponente. Amaron era obrigado a recuar aos poucos e com cuidado devido ao novo chão, agora formado por entulhos que escorregavam.
Amaron de repente se desequilibra ao pisar em uma pedra, mesmo assim ainda bloqueava as investidas de Ivan, mas ao tentar se levantar acabou deixando uma brecha em sua defesa. Ivan se vingou do chute que havia recebido na costela e desferiu um idêntico em Amaron. Porém ele não recuou, e sim empurrou Ivan para longe.
(Amaron)-Já chega! Um novato... Vem tirar satisfação comigo no meio da rua, tira onda com a minha cara e depois me vem com essa! Hahahaha! Não... Eu acho que não... Ninguém! Muito menos um novato. Já chega, isso já perdeu a graça! Você quer mostrar que é o machão, não é?! Você quer traça aquela garçonetezinha, não é?! Então! Me mostra que você é o machão agora!
Aaron então apontou sua mão em direção a Ivan, ele fazia o formato de uma pistola. Uma pedra começa a flutuar e esfarelar tomando uma forma esférica, uma grande massa de ar era deslocada e comprimida atrás da pedra. Agora um estalo dava origem a uma chama que também era comprimida entre a pedra e o ar.
(Oculus)-Ele está controlando três elementos ao mesmo tempo! Que incrível! Mas o que ele está fazendo?!
(Ivan)-O que eu tinha pedido pra você virar! Uma pistola! Cara! É impossível desviar de um tiro!
Ivan então golpeia as paredes ao seu redor, levantando uma pequena nuvem de poeira. O ataque já estava pronto.
(Amaron)-Não adianta moleque! Acabou!
O fogo e o ar são liberados impulsionando a pedra, porém algo não esperado acontece. A pedra havia se fragmentado tornando-se uma chuva de brasa que durou milésimos de segundos que foi seguido de um som de impacto. O som de explosão ecoou pela longa cadeia de túneis, quando cessou algo ainda se movia dentro da nuvem que agora se dissipava.
Ivan tinha o lado esquerdo do corpo cheio de perfurações, sendo seu braço, costelas e peito os mais acertados. As pedras em brasa ainda queimavam nitidamente em sua carne. Ivan teve muita sorte, os fragmentos não chegavam a ser profundos e a brasa cauterizava os ferimentos impedindo sangramentos. Ele cambaleava um pouco para o lado ferido, mas ele parecia ainda não ter desistido.
(Ivan)-Hum! Uma escopeta... Quem diria... Eu devia ter pedido uma... Desgraçado!
Utilizando somente do braço direito, Ivan começa uma nova onda de investidas, mas dessa vez Amaron não levantou sua espada para se defender e sim sua própria mão direita. A espada acertou sua mão em cheio, mas nada havia acontecido, a impressão que Ivan teve foi de ter golpeado um pedaço de ferro tão duro que fez sua gládius ir e voltar com o impacto. Ele não acreditava no que acabou de ver, foi desferido um novo golpe, a mesma reação. Vários outros golpes foram dados, mas todos foram bloqueados por uma simples mão nua, que não apresentava nem sequer uma única marca de contato. Ivan num momento de cansaço decidiu executar um chute novamente em direção a costela do oponente, ele obteve o mesmo resultado das tentativas anteriores com a espada, só que agora sua perna pulsava em dor, ele havia realmente chutado algo sólido como uma pedra. Ivan só foi parado quando teve seu punho segurado.
(Amaron)-Sabe moleque... Eu admiro sua força de vontade, sua bondade e coisa e tal... Mas, pra você conseguir tirar onda...
Ivan acabara de ser suspendido pelo punho, enquanto a mão que o suspendia começava esquentar de forma assustadoramente rápida.
(Amaron)-... Você tem que ter a moral... Pra tira onda.
A mão de Amaron estava incandescente e Ivan gritava de dor, seu braço estava sendo frito. O sofrimento só parou quando foi solto no chão novamente. Ao voltar ao chão nem teve tempo para sofrer com a dor, Aaron desferiu um soco com toda a força, usando a mão incandescente, no estômago de Ivan, que foi arremessado para trás. Durante sua trajetória em pleno ar, a gladius havia escorregado de sua mão e voltado a forma de bracelete, deixando-o desarmado.
Ivan estava estirado no chão quase vomitando. Havia um buraco em suas roupas e sua barriga estava marcada com desenho de um punho. Amaron caminhou em sua direção, para desferir um autentico golpe de misericórdia, mas antes que pudesse, foi interrompido por voz.
(Juiz)-Já Basta! Seu adversário não está mais em condições para continuar a luta. Sem contar o fato de estar desarmado! Está luta acabou!
(Amaron)-Não! Eu acho que não! Eu ainda não terminei com o moleque!
(Juiz)-Sim, você terminou! Agora afaste-se, ou serei forçado a te punir por desacato e por ameaçar um oponente incapacitado e desarmado!
Amaron então guarda sua arma e se afasta de Ivan que ainda tossia e agonizava com a dor.
O emblema novamente surge abaixo dele, e tudo desaparece com a luz, menos suas dores. Quando a luz se enfraqueceu e Ivan pode abrir os olhos não estava na câmara da arena. Havia enfermeiros ao seu redor, discutindo os procedimentos a serem seguidos. Sua primeira impressão foi que estava no hospital, mas não, ele podia escutar vozes de pessoas comemorando, sem contar da voz irritantemente sádica de Amaron.
Os enfermeiros fizeram um trabalho rápido, retirando os fragmentos e anestesiando as dores, para um procedimento mais rápido todos usaram magia, Ivan nunca havia visto daquele tipo antes, ficara impressionado com a sua eficácia, a anestesia o fez cair em um sono pesado, principalmente porque não havia dormido naquela noite. Quando acordou sentou-se na maca, se sentia um pouco tonto e até fora de si. Um dos enfermeiros notou que ele havia despertado e foi em sua direção, olhou sua prancheta e receitou:
(Enfermeiro)-Muito bem, seus ferimentos foram fechados e anestesiados, o efeito só deve durar algumas horas. Com relação às marcas de queimado no seu pulso e na sua barriga, não pudemos fazer nada a respeito. É aconselhável que o senhor seja encaminhado para o hospital para internação, ainda há risco das feridas infeccionarem e do anestésico perder seu efeito, o que vai te causar muita dor e pode ser um pouco desconfortável, mas o mais preocupante é um pequeno efeito de ?embriagues? devido aos impactos na cabeça durante a luta e o efeito do anestésico, nada é perfeito afinal de contas!
(Ivan)-Não... To legal... Sem hospital... Por favor.
(Enfermaria)-Mas senhor, por precaução é melhor...
Ivan saiu da cama e já ia embora, cambaleando um pouco.
(Ivan)-Olha gente... Valeu mesmo por ter cuidado de mim, mas eu tenho que ir... Indo... Em frente!
(Enfermeiro)-Senhor... Você está indo na direção contrária, a porta é pra lá.
(Ivan)-Huuum?! Claro, eu me esqueci... Obrigado cara...
Ivan então estava de volta ao lobby do Coliseu, percebeu que já anoiteceu e que o lugar estava quase vazio, com a exceção dos lutadores do turno da noite e os balconistas do lugar. Ivan seguiu para um deles.
(Ivan)-Olá... Eu apanhei feio numa luta de manhã e eu queria o meu dinheiro de volta... Digo, o meu dinheiro...
(Balconista)-Caramba cara! Você não parece nada bem! É melhor eu chamar alguém pra te levar pro hospital!
(Ivan)-Nem precisa! Tá tudo bem, eles me liberaram, eu só quero isso daí pra ir pra casa.
(Balconista)-Aqui... São 10 créditos e 5 pontos.
(Ivan)-Wohoo!!! Eu perdi uma luta, mas eu já tenho dinheiro pra pagar o aluguel! É isso ai! Fuuuiii!
(Balconista)-Tem certeza que o senhor está bem?!
Por mais impossível que parecesse, Ivan encontrou o caminho para o hotel graças a Oculus que o guiava como um cachorro pela rua, mesmo Ivan estando em estado psicologicamente questionável, sob influência de anestésicos. Crianças não tentem isso em casa!
Ao chegar não encontrou Romeu sentado a recepção como sempre encontrava, nem nenhuma outra pessoa na sala de estar para comentar de sua luta. Ivan estava tonto de mais para se importar com essas coisas, ele precisava dormir logo. Subiu as escadas para o segundo andar quase caindo de cara nos degraus. Ao chegar lá em cima Ivan reparou que porta do quarto 22 havia sido aberta, Akira saiu carregando em mãos um pedaço de roupa intima feminina. A única pessoa que poderia ser dono de tal objeto era a garota misteriosa que Ivan admirava. Ele então caminha em direção a Akira, que sem graça com o rosto quase inteiramente rubro se espantou com a aproximação. Ivan olhava fixamente o pedaço de roupa, enquanto Akira prendia a respiração esperando o pior.
(Ivan)-Ei!
(Akira)-Hum?! E... E-eu?! Quero dizer...
(Ivan)-Onde você arranjou isso?!
(Akira)-Estava n-no chão... Embaixo d-da cama...
(Ivan)-Huuum... Você por acaso não roubou isso, não foi?!
(Akira)-N-nunca! Eu nunca faria uma coisa de-dessas! Pr-principalmente a uma mu-mulher!
(Ivan)-Você sabe quem é a dona?
(Akira)-Gulp!... Não...
(Ivan)-Cara... a garota é muito gata!!! Você tinha que ver, que olhos dela cara!!! Eu fiquei sem reação quando ela passou aqui no corredor!!! Você perdeu! Mas ela ainda mora aqui, ela mudou lá pro final por provavelmente timidez! Cara, ela é tímida e gata, combinação perfeita!!!
(Akira)-Hum?! Hum?! O que, mas ela aqui?
(Ivan)-Deixa eu dar uma olhada!
Ivan tira rapidamente o pedaço de roupa das mãos de Akira.
(Ivan)-Caramba olha esse sutiã! Ela com certeza deve ter uma técnica secreta pra conseguir esconder isso tudo!
(Akira)-Hah... Espera, eu acho que você não devia... Nossa! Realmente devem ser grandes!
(Oculus)- Ei! Seus pervertidos!Tem alguém subindo as escadas!
Para Ivan o som já era familiar, eram as botas que a garota usava. A explosão de pânico foi imediata.
(Ivan)-Ahh, Meu Deus é ela! Esconde isso!
(Akira)-O que?! Por que eu?!
Os dois passavam de um para o outro o sutiã, até o momento fatídico. O som havia cessado, e junto com ele os dois que pararam de passar o objeto, que para o infortúnio de Akira ainda estava em suas mãos. Dessa vez a misteriosa garota tinha a cara marcada com arranhões e alguns esparadrapos, mas o olhar frio e indiferente continuava em seu rosto, mesmo vendo a sena infame.
Ela caminhou em direção aos dois, mas especialmente para Ivan que estava pálido como um vampiro, os dois não sabiam qual seria a reação dela, ou o que poderia acontecer depois. Ivan imaginou-se sendo desafiado e aniquilado na arena pela garota, enquanto Akira temia ser despejado. Ela havia parado bem na frente deles. Akira então sussurrou para Ivan.
(Akira)-Escuta, eu vou entregar o sutiã numa boa, ajoelhe-se no chão, abaixe a cabeça e se desculpe. Não tente fazer nada que...
(Ivan)-Oi! Quanto tempo...uuu...Eu sei o que você está pensando, não é o que parece...uuu... Eu não estava...
O discurso sem pé nem cabeça de Ivan só foi parado depois de ter tomado um soco tão forte que teve sua cabeça imprensada na parede deixando no local uma pequena deformação, gotas de sangue e um Ivan estirado no chão com o nariz ensangüentado. Agora ela caminha para Akira, mas ele seguiu como havia planejado, ajoelhou-se, abaixou sua cabeça e disse em alto e bom som.
(Akira)-Eu encontrei esse pedaço de roupa embaixo da minha cama, eu tentei encontrar o dono, mas aquele tarado ali só piorou o meu trabalho! Por favor! Nos desculpe!
A garota olhava para Akira ao chão tremendo, ela se abaixou, pegou o sutiã e foi embora para seu quarto sem dar uma única palavra. A porta foi fechada com força. Akira ainda tremia no chão, enquanto Ivan tentava recobrar os sentidos.
(Akira)-Então... Ela é realmente tímida não é?!
(Ivan)-Ouch! Meu nariz... Ela era. Eu acho...
(Oculus)-Nossa você tem toda a razão! Você realmente é um conquistador de corações! Você realmente sabe o que uma mulher gosta de ouvir!
(Ivan)-Cala a boca seu bracelete idiota... caraca isso dói!
Os dois demoraram um pouco para levantar por causa do choque, Akira mesmo em pé ainda tremia, enquanto Ivan apertava o nariz para impedir que saísse mais sangue.
(Ivan)-Bem, não era o que eu esperava de um calmo retorno ao quarto, mas até que foi uma experiência interessante.
(Akira)-Interessante? Você ficou maluco! Ela poderia ter matado agente e foi tudo culpa sua! Se você tivesse feito o que eu pedi você ainda estaria com seu nariz intacto! Agora você vai ter que ir para o hospital à noite.
(Ivan)-Pois é...
Ivan tinha acabado de se lembrar de Myah, e o seu suposto banimento do hospital.
(Ivan)-Pensando bem... Isso é uma péssima idéia...
(Akira)-Péssima?! Como assim?
(Ivan)-Eu tive um problema com uma enfermeira, e eu acabei sendo ameaçado de morte se voltasse.
(Akira)-Você... Você tem uma ótima fama com mulheres heim?!
(Ivan)-Vocês dois não entendem!.. que não se pode ganhar sempre!
(Akira)-É claro que ganhar sempre é impossível, mas perder também é meio... Estranho. Você disse dois? Wow, é melhor você ir para o hospital cara!
(Ivan)-Naaada to legal, eu só preciso ir dormi que tá tudo bem.
Ivan cambaleava, parecia não saber para aonde ir, e quando andou para a porta de seu quarto acertou em cheio a parede gerando um som oco.
(Ivan)-Wow! Quem botou essa parede ai? Eu não lembrava dela!
(Akira)-Aaafff... Espera ai que eu vou chamar ajuda.
(Ivan)-Ajuda? Não, não ,não, tá tudo sobre controle... quem apagou a luz?...
Ivan despencou no chão completamente apagado. Akira havia voltado com ajuda, e Ivan foi carregado de maca até o hospital. Agora sua vida está nas mãos da sorte e de uma enfermeira psicótica assassina.
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