De Violetas e Amores-Perfeitos

Tempo estimado de leitura: 42 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 5

    V

    Spoiler

    Saint Seiya e Saint Seiya Omega não me pertencem, infelizmente...

    Se pertencessem, o nome seria Saint Shiryu, Shunrei seria a deusa, e eles viveriam num Santuário naturista.

    DE VIOLETAS E AMORES-PERFEITOS

    Chiisana Hana

    Capítulo V

    Mais de duas semanas se passaram desde que Ryuhou deu notícias. Tinha telefonado dizendo que estava na vila de Haruto. Shunrei falou brevemente sobre a situação de Shiryu e também falou sobre Sumirê. Ele gostou de saber que agora tinha uma irmãzinha e ficou feliz porque certamente a menina seria um alento para Shunrei. Desde então, ele não telefonou mais. Ela estava aflita por saber que ele estava a caminho de uma batalha e também por conta da situação do marido, que agora alternava momentos de lucidez com inconsciência. Não havia muito que ela pudesse fazer além de mantê-lo seguro e confortável. A permanência nas pedras foi definitivamente abolida e a vida dele praticamente se resumiu a ficar no quarto, pois muitas vezes não tinha forças sequer para andar até a cozinha.

    Shunrei sempre lidou bem com a "doença" do marido, mas as últimas semanas minaram seu ânimo. Passou a se dedicar com mais frequência aos cuidados com as plantas numa tentativa de canalizar o estresse. Estava fazendo isso, com Sumirê por perto, lambuzando-se de terra, quando aconteceu...

    Shiryu aparentava dormir e ela o tinha deixado sozinho no quarto. A febre não voltou, entretanto, ele se sentia extremamente fraco, com uma sonolência estranha, que não passava nunca.

    "Está chegando a minha hora", ele pensou, quando a ferida voltou a queimar subitamente. O ardor chegou a um ponto quase insuportável e ele sentiu como se a escuridão estivesse se espalhando pelo corpo. Agradeceu por Shunrei estar lá fora. Provavelmente se contorcia de dor e não queria que ela o visse partir daquela forma. A dor excruciante chegou ao ápice e parou de súbito. Exausto, ele perdeu a consciência.

    Acordou assustado quando o barulho da cachoeira deixou de ser uma lembrança distante e invadiu-lhe os ouvidos. Achou que estava delirando, mas o som estava ali, vivo e imponente, como era há séculos. Cerrou o punho e, chocado, sentiu os dedos tocando a palma da mão.

    ? Meu Deus! ? exclamou baixinho, e mesmo assim se assustou ao ouvir de novo a própria voz, pastosa por conta dos anos sem uso.

    Desenrolou a faixa que lhe cobria os olhos e abriu-os devagar para constatar que conseguia ver perfeitamente outra vez. Reparou que o quarto onde estava ainda parecia o mesmo, embora agora a cama estivesse com o lado que ele dormia encostado na parede, certamente uma precaução de Shunrei para que ele não caísse durante o sono.

    Tentou levantar-se da cama, mas as pernas fraquejaram e ele caiu de joelhos. Esperou um pouco, respirou fundo e tentou outra vez, procurando concentrar-se em ficar de pé. Nos anos de 'doença' era como se flutuasse, não sentia de verdade onde pisava, agora era quase perturbador sentir o chão sob os pés outra vez.

    Andou com dificuldade até o espelho e olhou-se. Estava mudado... O rosto estava mais fino e já tinha umas poucas rugas, apesar de ainda conservar uma boa aparência. Usava só uma calça de algodão, mas estava limpo e perfumado. O corpo torneado do qual ele sempre se orgulhou deu lugar a uma silhueta esguia, com braços e pernas finos, e músculos atrofiados pelo pouquíssimo uso. Passava os dias meditando ou dormindo, ainda mais nos últimos tempos, então não tinha como ser diferente. E, com certeza, não estava pior porque Shunrei aprendeu com os fisioterapeutas os exercícios que devia fazer com ele diariamente. Chorou quando pensou nela e em tudo que enfrentou ao longo desses anos em que teve e não teve o marido ao mesmo tempo. Voltou-se para o porta-retrato na cômoda onde havia uma foto deles dois com Ryuhou recém-nascido. Ele lembrava bem do momento em que a foto foi tirada, ainda na maternidade, quando o menino tinha apenas algumas horas de vida, e da emoção que sentiu ao se tornar pai.

    ? Ryuhou ? murmurou. ? Meu filho... Como você está agora?

    Tinha visto o filho pela última vez quando ele tinha dez meses, agora já tinha quase quatorze anos. Estava curioso pra saber que aparência ele possuía agora.

    Deixou a foto no lugar e saiu do quarto em direção à sala, que ainda era como ele lembrava. Abriu a porta devagar. O dia claro, de céu límpido e sol brilhante, forçou-o a fechar os olhos, desacostumado que estava com tanta luminosidade. Abriu-os lentamente, procurando adaptar-se. Andou ao redor da casa em direção ao jardim, onde viu Shunrei abaixada, arrancando os botões secos de uma roseira. Sumirê logo notou a presença dele e, apontando, exclamou:

    ? Pa-pa!

    Shunrei voltou-se e viu Shiryu, de pé, olhando para elas embevecido.

    ? Oh, meu Deus! ? ela exclamou emocionada e correu até ele. Abraçou-o firmemente e beijou-o. Shiryu amou sentir de novo o abraço dela e o beijo doce e amoroso.

    ? Deixa eu te olhar, Shunrei ? ele disse depois do beijo. Shunrei notou que a voz dele parecia diferente e que não articulava bem as palavras.

    Ele ficou olhando para a esposa. Estava mais velha, mas conservava a beleza pura e fresca que sempre teve. O tempo tinha sido generoso com ela, afinal. Beijou-a outra vez e deixou que as mãos passeassem por onde quisessem. Acabou por redescobrir uma sensação que não tinha há muito quando seu corpo reagiu às carícias.

    ? Daqui a pouco ? Shunrei teve o controle de dizer-lhe, uma vez que Sumirê estava por perto. Ela pegou a menina no colo para apresentá-la ao pai. ? Quem é esse, querida?

    ? Pa-pa ? a garotinha repetiu, sorrindo para Shiryu. Ele não conteve as lágrimas e beijou-a.

    ? Ela é linda ? ele disse. ? É uma princesinha linda.

    Shunrei concordou e completou:

    ? E ela trouxe muita alegria para esta casa.

    ? Posso ver que sim. E Ryuhou? Deu notícias?

    ? Há mais de duas semanas que não sei dele... ? Shunrei disse e seu sorriso se desfez por alguns segundos.

    ? Espero que esteja tudo bem. Eu gostaria de ver alguma foto atual dele.

    ? Ah, claro! ? Shunrei disse. ? Venha!

    Eles entraram em casa e Shunrei trouxe uma caixa com álbuns e fotografias soltas do garoto. Desde a doença de Shiryu, habituou-se a registrar cada movimento do garoto, na esperança de mostrá-los ao pai no futuro. O próprio Ryuhou adquiriu o hábito e sempre enviava fotos que tirava na Palaestra.

    Por cima da pilha, estavam as fotos que Shunrei tirou na última visita de Ryuhou a Rozan, incluindo algumas com os amigos que vieram com ele. Shunrei foi dizendo a Shiryu quem era quem, e ele imediatamente lembrou-se do bebê de cabelos vermelhos que Saori criava. Tanto ele quanto Ryuhou agora eram rapazinhos. Ele observou que Ryuhou não tinha mudado muito, continuava com os mesmos olhos grandes da mãe, mas agora estava crescido. Queria tanto vê-lo, tocá-lo, ouvir sua voz, escutar as histórias das batalhas dele. Havia tanto para falar e ouvir que ele nem saberia por onde começar.

    Os dois ficaram vendo as fotos, com Shunrei falando sobre ele, até que Sumirê impacientou-se e começou a chorar.

    ? Preciso dar o almoço dela, Shiryu ? Shunrei disse, pegando a menina no colo e procurando acalmá-la.

    ? Eu vou com você. Não quero tirar os olhos de vocês duas nem por um segundo.

    Então os três foram para a cozinha e, enquanto Shunrei dava o almoço a Sumirê, Shiryu pensava no que aconteceu. Quando achou que tinha chegado a hora da morte, ficou subitamente curado. Supunha que se isso tinha acontecido era porque Marte já não existia. Só então se deu conta que sem a ferida negra podia usar o cosmo como bem entendesse. Procurou sintonizar-se com o de Ryuhou. Teve medo de que o filho tivesse morrido na batalha, mas não demorou a sentir o cosmo dele com uma força que jamais imaginou.

    "Como ele evoluiu!", pensou orgulhoso e feliz. "Quanta intensidade nesse cosmo! O Mestre também se orgulharia dele se o sentisse".

    ? Eu o sinto ? disse a Shunrei. ? Sinto o Ryuhou. Ele está bem.

    ? Ah, meu Deus, obrigada ? agradeceu Shunrei, juntando as mãos em prece. Depois, abraçou Shiryu e agradeceu mais uma vez. Sentia uma gratidão imensa pela vitória do filho e a cura do marido. Para que tudo ficasse perfeito, só faltava o garoto voltar pra casa.

    Sumirê pegou no sono pouco depois do almoço e finalmente os dois puderam se entregar ao desejo. Fizeram amor desesperadamente e terminaram abraçados, exaustos, cobertos de suor.

    ? Como é bom me sentir vivo ? Shiryu murmurou quando terminaram. ? Eu sentia tanta falta de ter você, meu amor.

    ? Eu também ? ela disse, aconchegando-o no colo. ? Foi uma longa espera, mas agora temos de novo tudo que perdemos.

    ? Sabe, Shunrei ? ele começou a dizer ?, eu queria ficar curado e ao mesmo tempo tinha medo de descobrir que as coisas entre nós não eram mais como antes. Eu não tinha dúvidas sobre o nosso amor, pois a dedicação que você teve nesses anos não me permitia duvidar. Mesmo assim, eu tinha medo de que não houvesse mais assunto, cumplicidade ou desejo entre nós. Felizmente, o que eu vejo é que nosso amor ainda é o mesmo. Tudo ainda é como sempre foi.

    ? Na verdade, acho que tudo mudou ? ela corrigiu. ? Meu amor está maior e mais forte, bem como o meu desejo e tudo mais... Acho que as coisas estão muito, muito mais intensas, não acha?

    Shiryu ergueu-se do colo dela e deu-lhe um beijo.

    ? Como sempre, você tem razão ? ele concordou.

    Depois de alguns minutos de descanso, foram tomar banho juntos. Sempre apreciaram dividir esse momento. Era uma hora de cumplicidade e prazer sensorial, não necessariamente sexual, embora algumas vezes terminassem fazendo amor. Essa foi uma das vezes, pois quando Shunrei começou a ensaboar-lhe as costas, Shiryu não pôde resistir. Recomeçaram tudo, tentando não se apressarem, buscando um ao outro devagar, redescobrindo-se lenta e prazerosamente.

    Quando terminaram o banho, Shiryu foi tirar um cochilo e Shunrei começou a preparar o jantar. Estava faminta e certamente Shiryu também acordaria assim. Ao invés de simplesmente esquentar o almoço, ela quis que ele encontrasse seus pratos favoritos: guiozá, arroz cantonês e camarões apimentados.

    ? Que cheiro maravilhoso! ? ele exclamou ao chegar à cozinha. ? Impossível sentir esse cheiro e não ficar com fome.

    ? Você estava dormindo tão quietinho! ? Shunrei disse. ? Não era para ter acordado agora!

    ? Posso dormir depois ? ele disse, sentando-se à mesa. ? Agora quero esperar o jantar vendo você cozinhar e sentindo de perto esse cheiro.

    A essa altura, Sumirê também já tinha acordado. Shunrei a tinha colocado na sala para brincar com sua torre de argolas, mas a garotinha foi à cozinha quando viu o pai. Levou consigo uma das argolas e convidou-o a entrar na brincadeira.

    ? Ela sempre tentava brincar com você ? Shunrei explicou ? e não entendia por que você não aceitava.

    ? Então não posso recusar esse convite ? ele disse, e acompanhou a garotinha até a sala, onde ficou brincando até Shunrei chamá-los para o jantar. Saboreou tudo lentamente, divertindo-se com a redescoberta dos sabores e da temperatura da comida. Comer os pratos favoritos, dos quais ele não sentia o gosto há muito, foi como ter uma explosão de felicidade na boca. Ainda havia alguma dificuldade para mastigar, mas era definitivamente mais fácil quando podia sentir a textura e o sabor dos alimentos.

    Depois do jantar, Shiryu quis ir até a cachoeira. Shunrei e Sumirê acompanharam-no. Na pedra onde costumava meditar, ficaram os três sentados, Sumirê aninhada no colo do pai e Shunrei abraçada a ele.

    Pela primeira vez em treze anos, ele se permitiu pensar no futuro ao invés de tentar adivinhar quando seria vencido pelo poder maligno de Marte. Ficou pensando em tudo que queria fazer com Shunrei e em todos os assuntos que tinha para conversar com Ryuhou. Desejou rever seus amigos, abraçá-los, colocar a conversa em dia. Planejou também fazer uma grande viagem com a família inteira, talvez um cruzeiro ou alguns dias relaxando numa praia espetacular, onde a única preocupação seria se divertir. Pensou na educação que queria dar a Sumirê. Não pôde participar ativamente do crescimento de Ryuhou, agora queria compensar isso criando a filha da melhor forma possível. Achou até que talvez houvesse tempo para ter mais um filho. Seria bom passar por tudo outra vez, a expectativa boa dos meses de gravidez, o parto, os difíceis primeiros dias com o bebê em casa, além de passar por todas as fases que não vivenciou com Ryuhou.

    "É, é um bom plano para futuro", concluiu.

    FIM


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