De Violetas e Amores-Perfeitos

Tempo estimado de leitura: 42 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 4

    IV

    Spoiler

    Saint Seiya e Saint Seiya Omega não me pertencem, infelizmente...

    Se pertencessem, o nome seria Saint Shiryu, Shunrei seria a deusa, e eles viveriam num Santuário naturista.

    DE VIOLETAS E AMORES-PERFEITOS

    Chiisana Hana

    Revisão: Nina Neviani

    Capítulo IV

    Com a melhora de Shiryu, Shun sentiu-se seguro para partir, embora tenha precavido Shunrei de que ele podia ter outras recaídas. Deixou com ela algumas ampolas de morfina antes de ir e a prescrição para que comprasse mais caso fosse necessário.

    ? Muito obrigada, Shun. Não sei o que faria se você não tivesse vindo.

    ? De nada, Shunrei. Não podia deixar meu amigo assim... Boa sorte pra vocês.

    ? Que Deus o abençoe ? ela disse.

    Dias depois da partida de Shun, Shunrei saiu bem cedo a fim de comprar as verduras da semana. Com a piora de Shiryu, acabou não tendo tempo para isso. Pretendia levá-lo consigo, mas o dia estava chuvoso e ela teve medo de que se resfriasse. Não gostava de deixá-lo sozinho em casa, mas não conseguiu ninguém que pudesse vir tomar conta dele.

    Com Shiryu privado dos sentidos e Ryuhou tendo os problemas de saúde que tinha, ela se obstinou a aprender a dirigir para o caso de uma emergência com um dos dois. Nas crises respiratórias de Ryuhou, tinha dado graças a Deus por ter tomado essa decisão.

    Desceu de carro para a cidade e fez as compras o mais rápido que pôde. Já estava deixando o mercado com as compras quando ouviu um choro fraco.

    "A saudade do Ryuhou está me fazendo mal...", pensou.

    Abriu a mala do carro e começou a ajeitar as compras, mas parou ao ouvir o chorinho outra vez.

    ? Não é possível...

    Apurou os ouvidos e ouviu mais uma vez, agora mais forte. Começou a seguir o som e viu que vinha de uma grande lixeira retangular onde havia um amontoado de caixas de papelão e restos de frutas e verduras que exalavam um cheiro forte.

    ? Não pode ser que venha daqui... ? disse, desejando realmente que não viesse do meio daquela sujeira. Mas vinha.

    Shunrei começou a revirar os restos, jogando as caixas para fora da lixeira, até ver um bracinho se mexendo.

    ? Oh, meu Deus, é mesmo uma criança! ? exclamou, e tratou de tirar a menina dali. Ela estava sem roupas, tremendo de frio e muito suja. Limpou-a como pôde, retirando os restos de vegetais e as porcarias que estavam sobre ela. Tirou o casaco que usava e envolveu a criança com ele. Cuidadosamente colocou a menina no banco de trás. Ryuhou já crescera há muito e aquele carro não tinha mais a cadeirinha de bebê. Dirigiu-se ao hospital mais próximo, onde a menina foi examinada por um médico muito mal humorado.

    Depois, enquanto a criança era banhada por uma enfermeira, ele conversou com Shunrei. Disse-lhe que a menina estava com boa saúde, bem nutrida e que devia ter cerca de um ano e meio, mas que era apenas uma menina e Shunrei devia tê-la deixado no lixo.

    ? Se a pessoa que me encontrou há quase quarenta anos atrás pensasse como você eu não estaria aqui hoje ? ela retrucou indignada, mas o médico a ignorou e deu-lhe o nome de um abrigo para meninas, já alertando que devia estar superlotado. Shunrei pegou o papel e rasgou na frente dele.

    ? Ela não vai precisar. Posso levá-la?

    ? Quer mesmo levar isso? ? ele perguntou, incrédulo.

    ? Pode crer que eu quero.

    ? Você ainda é jovem, pode ter um filho homem ? o médico insistiu.

    ? Eu já tenho! ? ela respondeu. ? Tenho o melhor filho do mundo. Agora vai me dar a criança?

    O médico se afastou como se Shunrei fosse louca e disse algo a uma enfermeira. Pouco depois, outra mulher voltou trazendo a menina banhada e enrolada numa manta com o timbre do hospital.

    Shunrei pegou-a, prometeu devolver a manta assim que possível e saiu. Colocou a menina novamente no banco de trás do carro e dirigiu-se imediatamente ao comércio, onde comprou a cadeirinha de bebê, roupas e alguns brinquedinhos para ela. Antes de voltar para casa, passou no hospital e devolveu a manta.

    Quando finalmente voltou para casa, a menina já estava dormindo, e ela foi contar a novidade a Shiryu, que reagiu com insegurança.

    "Você tem certeza de que dá conta de tudo?" perguntou a ela através do cosmo. "Eu sei que sou um peso para você. E as coisas estão ficando mais difíceis..."

    "Não, você não é", ela respondeu convicta. "Você é meu marido. E sim, eu posso dar conta de tudo. Mesmo que Ryuhou ainda estivesse morando conosco, eu daria. Não se preocupe com isso. O que eu não podia fazer era deixá-la onde estava. E não tente se comunicar dessa forma, meu amor. Você sabe que piora seu estado."

    Ele quis dizer que já não tinha mais importância, que sentia o fim se aproximando, mas ao invés disso, falou:

    "Eu sei que você jamais a deixaria, mas se achar que não consegue cuidar dela, você pode arranjar um bom lugar para levá-la." Estava realmente preocupado que a carga fosse pesada demais para Shunrei. Sabia que ela era forte, mas sabia que também que o fio do arco arrebenta quando a tensão é grande demais. Ele era um fardo que ela carregava há treze anos. Ryuhou estava crescido e era um cavaleiro honrado, mas quando voltava para casa havia sempre aquela preocupação intensa com a saúde frágil do garoto. Além disso, Shunrei não era mais a garotinha da época em que eles começaram a namorar. O tempo passou para ela também. Talvez estivesse cansada.

    "Eu consigo", ela disse e Shiryu percebeu que não haveria modo de demovê-la. "Como você vai chamá-la?", ele perguntou, rendendo-se. Ela ia censurá-lo por continuar se comunicando, mas entendeu que estava curioso e deixou passar.

    "Ainda não sei. O que você acha? Vai ser sua filha também."

    "Quando você estava grávida e não sabíamos ainda o sexo do bebê lembra que nome ele teria se fosse menina?"

    Shunrei sorriu. Claro que lembrava.

    "Sumirê(1). Você gosta?", pensou para Shiryu, enquanto colocava a garotinha na cama.

    "Sim, gosto muito. Como ela é?", ele perguntou.

    "Ela é uma graça! Tem um rostinho delicado, bem redondinho, os olhinhos apertadinhos, quase não abrem, e as bochechas rosadas. E ela está bem cuidada, Shi. Dá pra ver que era bem alimentada, tem um bom peso. O médico disse que deve ter cerca de um ano e meio. Provavelmente a mãe engravidou de novo e teve um menino, por isso a abandonou. Deve ter sido deixada no lixo durante a madrugada ou logo cedo, talvez pouco antes de eu chegar ao mercado."

    "Não consigo me acostumar com esse tipo de crueldade", disse Shiryu. Tinha sido abandonado no orfanato com poucos dias de vida e Shunrei fora abandonada na floresta com provavelmente a mesma idade de Sumirê. Que tipo de ser humano abandonava uma criança? Ele não conseguia entender, ainda mais depois que se tornou pai.

    "Eu também não", Shunrei concordou, mas procurou mudar de assunto. "Comprei umas coisas para ela e um berço também, mas só vão entregá-lo amanhã. Enquanto isso, ela vai ficar conosco na cama. Vou deixá-la aí enquanto preparo o almoço, certo? Ela está dormindo quietinha, acho que não vai acordar, mas por via das dúvidas, vou pôr umas almofadas no chão para que não se machuque."

    "Ok. Não se preocupe. Qualquer coisa eu grito", brincou Shiryu, fazendo Shunrei sorrir.

    Shiryu sentia-se fraco e sonolento, então se deitou também. Nada melhor do que cochilar um pouco com a nova filha, já que não era capaz de fazer mais que isso.

    Mais tarde, Shunrei ouviu risadinhas de Sumirê e foi até o quarto ver o que estava acontecendo.

    ? Parece que ela já se encantou pelo papai ? ela disse, ao ver que a garotinha se divertia mexendo no cabelo de Shiryu. Não tinha dúvidas de que devia ficar com Sumirê, mas vê-la feliz, brincando com o novo pai, só reforçou sua certeza.

    Continua...

    (1) Sumirê quer dizer violeta (a flor, não a cor).


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