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Estava em uma espaçosa praça das ruas da Inglaterra,um país que gostei muito de conhecer. Estava tocando uma música deprimente que me ensinaram,música qual não recordo o nome. Confesso-lhes que gosto desse tipo de música. Nunca descobri o por que. A maioria das pessoas não gostam delas,porque as deixam pra baixo,talvez. Acho-nas muito bonitas,mas talvez não seja só por isso que gosto delas.
Percebi que havia uma garota tirando fotos de quase tudo que havia na praça. Parou na minha frente e me fitou. Aquilo me incomodou,parei de tocar e comecei a fita-la para ver até quando ela ficaria naquilo. Depois de alguns segundos ela tirou uma foto minha. Nada que não seja inesperado.
- É fotógrafa ? - Perguntei-lhe.
- Um pouco. - Ela tinha um tom de voz meio tímido. - Estou tirando fotos do que vi hoje.
- Para que ?
- Para recordar.
Arqueei uma sobrancelha. Ela sentou ao meu lado e disse:
- Continue.
- A tocar ?
- Sim. - Ela tirou do bolso do short jeans uma carteira listrada de amarelo e preto,tirou uma nota de 10 dólares dela e me entregou.
Peguei a nota e analisei-a. Olhei para a garota que fez um gesto para prosseguir. Guardei o dinheiro no bolso da calça e comecei a tocar a mesma música que estava tocando antes. Ela prestava muita atenção a cada movimento que eu fazia e a cada som que o violino soltava.
No final da música ela pegou novamente sua carteira, retirou outra nota de 10 dólares e me entregou.
- Toque outra. - Seus olhos emanavam inocência e interesse.
- Okay. - Guardei a nota e me pus a tocar novamente.
E ficou nisso até a quarta música.
- Você toca bem. - A garota disse.
- Obrigado. - Agradeci.
- Como você se chama ? - Me perguntou.
- Robert.
- Robert do que ?
- Não sei .. - Respondi sem jeito. - E você ?
- Nicole.
- Nicole do que ?
- Quem sabe. - Soltou um pequeno sorriso ao falar. - Quantos anos você tem,urso-polar ? - A tal Nicole se levantou e ficou em minha frente.
- Urso-polar ? - Arqueei uma sobrancelha.
- Você parece um urso polar. - Aproximou o rosto ao meu e apontou para mim. - Seus olhos são negros e redondos e você é todo branco - Afagou os meus cabelos. - Te acho bonito !
Senti minhas bochechas levemente corarem, desviei o olhar para o lado e com um pouco de anseio disse :
- Obrigado...
- Tenho 16 anos. - Ela disse.
- 19. - Olhei para ela.
- Ooh. - Nicole parecia surpresa. - Tocará para mim !
- Como ? - Não entendi a situação.
- Lhe darei os detalhes depois. Venha,venha ! Lhe mostrarei onde moro. - A garota de cabelos loiros platinados foi andando.
Estava um pouco e dúvida se a seguia ou não,mas sou curioso,admito. Então decidi ir com ela para ver no que dava.
Chegamos em uma pequena e simples casa da incrível Londres. Nicole me convidou para entrar. Entrei e observei tudo atentamente. Não havia nada de muito valor lá. Nicole sentou no sofá e me chamou para sentar ao seu lado. Acatei o pedido e coloquei meu violino encostado no braço do pequeno e confortável sofá.
- Simpático esse lugar ! - Exclamei.
- Obrigada. - Ela apoiou os braços nas coxas e depois apoiou o rosto nas mãos. - Você foi a primeira pessoa que aceitou vir na minha casa. - Me olhava atentamente.
- Acho que as outras pessoas não queriam ir na casa de alguém que não conhecessem.. - Palpitei.
- Ora, se eles tivessem aceitado teriam tido a chance de me conhecer. - Olhou para frente emburrada.
Fiquei em silêncio por alguns segundos e depois falei :
- Como você disse antes você quer que eu toque,não é?
- Sim. Como hoje é segunda-feira venha aqui todas as segundas,toque e retoque as músicas fúnebres que você conhecer !
- Por que esse tipo de música ? - Fiquei curioso.
- Gosto delas. Elas mexem com meus sentimentos e me acalmam. - Pôs as pernas encima do sofá e abraçou-as. - Além de serem muito bonitas. - Fitou-me. - Você não gosta delas ?
- Gosto sim. - Talvez seja essa a resposta que eu procurava. - Sempre me perguntava porque me interessava por elas,e o que você disse deve ser a minha resposta,obrigado. - Sorri.
- Você disse de um modo como isso fosse a coisa mais especial do mundo. - Pausou. - Faz coisas insignificantes serem especiais sempre? - Sorriu.
- Não acho que isso seja insignificante.
- Ooh,então me desculpe,urso-polar. - Se desculpou ainda sorrindo. - Toque. - Pediu.
Assenti. Pequei meu violino e comecei a tocar. Ela prestava muita atenção,o que me deixou um tanto curioso.
- Tocas realmente bem ! - Disse enquanto sorria.
- Por que tanto interesse no violino ? - Perguntei enquanto tocava.
- Quantas perguntas. - Foi olhar as fotos em sua pequena câmera fotográfica prateada.
- Desculpe,não foi intensão minha aborrece-la. - Desculpei-me um pouco sem jeito.
Nicole soltou um pequeno sorriso ainda de olho na câmera.
Três meses haviam se passado,e como foi dito,eu ia toda segunda-feira na casa da garota de olhos albinos. Não sabíamos muita coisa um do outro,mas sabíamos o suficiente para ter uma relação instável e um tanto próxima. Mês passado Nicole havia me dito o seu sobrenome, ela se chama Nicole Wayne, não havia me respondido porque eu não tinha dito meu sobrenome pra ela,mas disse-lhe que eu realmente nãos sabia meu sobrenome,ela achou aquilo interessante. Sempre tocava no máximo cinco música a cada segunda,e mesmo sem pedir ela me pagava por cada música que eu tocava.
Estava tocando uma música de Chopin quando Nicole inconvenientemente exclamou :
- Pare ! - Eu imediatamente parei e olhei para ela.
- O que foi ? - Perguntei.
- Pensei bem e já escolhi a música. - Estávamos sentados no sofá.
- Como ?
- A primeira música que tocou pra mim,foi essa que escolhi.
- Para que ? - Fiquei confuso.
- Para o senhor urso-polar tocar no meu funeral. - Ela me respondeu. Fiquei ainda mais confuso.
- Seu funeral ? Me explique isto direito.
- Bem.. eu nasci com uma doença mortal,eu passei no hospital há quatro meses atrás, e o doutor me disse que talvez eu só tenha uns meses de vida. Nesses últimos tempos pensei como eu gostaria que fosse meu funeral. - Me olhou. - Quero um caixão em cor amarela,rosas azuis, e você tocando lá.
O jeito que ela falava aquilo tudo tão normalmente me deixou um pouco assustado. Ainda não acreditava na conversa daquela garota.
- Onde estão seus pais,amigos ?
- Minha mãe faleceu há três anos,meu pai há dois. Nunca consegui fazer um amigo antes,até que conheci você. - Nicole sorriu e deitou a cabeça em meu ombro. - Não preciso de muitas pessoas no meu enterro,uma basta. - Fez uma pausa. - Prometa-me urso polar,prometa-me que tocará para mim a vida toda. E que entrará em uma orquestra.
- Prometo. - Aquilo me comoveu levemente.
- Obrigado por ter aceitado vir em minha casa.
Sem perceber,começou a crescer uma paixão dentro de mim. Dois dias depois havia percebido. O que me deixou deprimido era saber que a pessoa que eu estava apaixonado morreria. Todos morrem algum dia, mas acho que Nicole morreu cedo demais. O que me consola é que eu não deixei ela morrer sozinha,sem ninguém para lamentar a sua morte, e dizer que sente sua falta.
Logo o seu dia chegou,e em uma gélida madrugada de segunda-feira soltou seu último suspiro. Como prometido toquei a música que havia escolhido no seu funeral. Não consegui conter o choro. As lágrimas vieram todas de uma vez me fazendo interromper a música. Nicole foi enterrada em um cemitério de Londres.
Entrei para uma orquestra como ela pedira, e depois de dois anos conheci uma moça de minha idade lá, nos apaixonamos, e depois de um ano e meio nos casamos. Um ano depois tivemos uma filha e pus o nome de Nicole. E quanto a tocar para Nicole a vida toda ? Ah, vou visitar o seu túmulo toda segunda-feira para tocar a música que havia escolhido...