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Valsa dos Masoquistas
?Dry Kiss, Sono ichi?
?Vá em frente?
Kamijou estava sentada na superfície de uma poltrona cor de vinho; era um dia quente, e o couro do móvel roçava o tecido sintético de lycra de sua curta saia. Olhos cerrados, com o rosto levemente inclinado para cima e nenhum sinal de embaraço ou vergonha. Uma verdadeira ?kuudere?.
?...Okay?
Disse Kamijou, o qual lentamente aproximou seus lábios ao rosto da jovem. Outro ?kuudere?, outro jovem que, naquele pequeno recinto nada sentia além de um sentimento único que compartilhava com a sua conhecida: ?conforto?. Nada de luxúria, nenhuma provocação do libido, tampouco anseios pelo sabor da carne.
?Conforto tão somente?. Um recorte no espaço tempo para ?Kamitwo?.
Antes de continuar a presente cena, é necessário, a priori, regressar, e contar o porquê de ambos tentarem encontrar o prazer do ósculo ( Em verdade, já haviam encontrado...).
Há cerca de uma semana, a escola em que estudavam tinha organizado uma excursão; para onde é irrelevante, mas as fim de melhor ilustrar esse relato, ficaram hospedados em um hotel triple estrelado. A estada, numa região um pouco mais fria da região, em direção ao norte.
A obviedade, jovens aproveitariam a baixa vigilância de supostos responsáveis para fazer algo do qual se vangloriariam e arrependeriam posteriormente ( não necessariamente nessa ordem).
Considerando isso, após rebuliços e cochichos, risadas levianas e fofocas (suspiros e ânimos exaltados também), cerca de 10 jovens arrebanharam-se clandestinamente em uma das acomodações do hotel . Era um chalé, de madeira e de pouco espaço, mas o suficiente para abrigar 10 pós púberes.
4 garotas. 6 garotos. 3 grupos. Um grupo de três adolescentes, um grupo de 5 quase homens. E Kamitwo, os quais estavam confortavelmente instalados em um sofá velho e áspero, com tons de verde e cinza, enfeitado de sujo e vestido de poeira.
Kamijou estava sentado elegantemente torto, com uma envergadura em suas costas, apoiando seu cotovelo na coxa direito de Kamijou, e lendo pacificamente um livro entitulado ?Auto Engano? do Filósofo Eduardo Gianneti. Do outro lado desse sofá que comportava normalmente duas pessoas, a Kamijou estava deitada transversalmente, apoiando suas pernas sobre o colo de Kamijou, concentrada muito em um rápido cochilo.
O relógio quartzo já enferrujado marcava dez horas, e logo os jogos começariam. Ilustríssimo(a) leitor(a), sabe já provavelmente qual é o jogo sadomasoquista que está prestes a presenciar, correto? Truth or dare, verdade ou desafio, ou para os ?hipsters? de plantão, desafio ou verdade; afinal, dizem os matemáticos que a ordem dos fatores não altera o produto, e a presença da partícula alternativa ?ou?, consoantes os gramáticos, reitera ainda mais essa proposição.
?Kagami, já começou??
? Ainda não, estão combinando algumas coisas?
Kamitwo, desde o primeiro olhas há alguns meses, gostava de se isolar dos demais alunos de sua classe. Não que fossem antisociais, mas aos poucos, seja debaixo de escadarias, o cantinho da classe onde habitualmente repousavam em uma só cadeira ou , como agora, aquele sofá em que agora estavam, sofá esse que poderia ser facilmente encontrado em um sebo/depósito de quinquilharias, procuravam sempre encontrar pequenos pedaços de paz, ou, ad nauseam, pequenos recortes na realidade.
E nessa peculiar atitude heremita deses dois indivíduos, é natural que a curiosidade alheia seja provocada, e não apenas esse sentimento, inveja igualmente é provocada. No olhar dos meros espectadores, os dois jovens formavam uma casal perfeito, sempre vivendo o ?ápice? de um relacionamento amoroso comum.
Sem brigas.
Sem intrigas.
Only love.
Obviamente não havia nenhuma conflito relativo a relacionamentos, pois não compunham um casal, mas uma ?união estável? ( não no sentido legal da palavra ou descrito em nossa Carta Magna), que ainda não sabiam definir , muito menos eles, Kamitwo.
Dessa massa disforme de distintas demonstrações do âmago, nasceu uma multidão de ?fãs?, com variadas intenções. Queriam saber exatamente que relação possuíam. E o jogo que estava prestes a começar era apenas um elaborado plano. Talvez tenha sido demais exagerado adjetivar como ?elaborado? ( pois de facto era de iniciativa de um grupo de garotas bem peculiar, mas essa é uma história para outra oportunidade).
E começou, a roleta russa social maníaca; as primeiras rodadas ainda revelavam a falta de segurança dos participantes ( pelo menos a maioria deles), mas essa insegurança logo se ausentaria do recinto. Bastava alguém fixar parâmetros de audácia, e todos tornariam-se Marias.
?Sim, eu gosto dela?.
?Não, nunca dormi com ela?.
?Não, não somos amigos de sexo?.
...E assim por diante. Certamente você, caro(a) leitor(a), consiga deduzir quais eram as perguntas que estavam sendo feitas.
Experimentadas as águas mornas, logo começariam as ?consequências?. O pudor e escrúpulos já tinham sido mandados para descanso, sendo que acordariam no dia seguinte junto com o arrependimento e pela sensação de ridículo.