Amai Fukushuu

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    Capítulo 9

    Nigai omoide ga ushinawareta...

    Álcool, Bissexualidade, Drogas, Estupro, Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Suicídio, Violência

    Ruki POV?s

    Naquele dia resolvi arranjar algumas coisas na minha casa, fazia muito tempo mesmo que eu não aparecia por ali e estava um furduso assustador, muitas coisas que precisavam realmente ser jogadas fora, coisas que meus pais guardavam desde que eu era pequeno...

    ?VOCÊ QUIS DIZER CRIANÇA NEE? POR QUE PEQUENO VOCÊ AINDA É! Pensei que você tivesse sumido... SOU SUA CONSCIENCIA, NÃO POSSO IR EMBORA, POR MAIS QUE ÀS VEZES EU QUEIRA... Calado!?

    Reila e eu revirávamos os armários do porão, estavam sujos e cheios de teias de aranha e sujeira, repleto de papeis inúteis em caixas de papelão.

    -Por que eles guardavam tudo isso?

    -Não sei, acho que pena de jogar fora...

    -É estranho... Olha só isso aqui! São fotos! -Ela disse pegando uma caixa pequena. -Oh... Fotos de quando você era pequeno?

    Tomei a caixa de suas mãos.

    -Isso também vai pro lixo!

    -Ah... Ruki, não seja bobo! Me entregue isso! -Reila tomou de volta a caixa da minha mão, se sentando no chão logo em seguida. -Ah... Você era tão kawaii!

    -Era?! -Me sentei emburrado ao lado dela.

    -Ainda é! -Ela riu me dando um selinho, depois voltou a mexer nas fotos. Ficamos em silêncio, enquanto ela revirava a caixa, haviam fotos muito antigas ali, algumas do meus irmão quando ainda era um bebê, algumas minhas, outras da família inteira. Até que finalmente ela voltou a falar. -Quem é este?

    -Onde? Deixe-me ver! -Ela me entregou a foto e eu encarei o pedaço de papel, havia dois garotinhos na foto, um deles era eu, uma criança menor que o normal, devia ter entre uns cinco ou seis anos de idade, os cabelos pretos escorridos na testa, bastante típico, roupas comuns de uma criança rica. O outro era mais alto, a pele um pouco mais morena que a minha, o que não era difícil, por que eu sempre fui muito branco e muito baixo, tinha os cabelos pretos, um pouco maiores que os meus, sorria, tinha um sorriso bonito, grande e inocente, mas suas roupas eram um tanto precárias, estavam sujas de terra e seu cabelo perigosamente bagunçado. Olhei aqueles olhos escuros, sentido meu coração ficar a cada segundo menos, como se uma mão de gelo o apertasse, e parecia que a qualquer momento ele explodiria, estava na minha garganta... Aqueles olhos negros, aquele sorriso grande... Então ele realmente sabia quem eu era?

    -Ruki? -Ouvi a voz de Reila longe, eu estava entrando em um estado de torpor, os olhos pregados na foto...

    *Flashback on*

    ?Eu era um menino pequeno demais para a minha idade, bem menor que o convencional, isso fazia com que meus pais sempre me impedissem de brincar com as outras crianças, como primos e colegas. Era estranho não poder brincar, meus pais preferiam que eu fizesse algo como tocar piano ou coisas assim, mas eu só tinha 5 anos, eu queria ter uma outra criança com quem eu pudesse brincar de ser o Ultraman ou coisas do tipo.

    -Por favor, Sra. Yutaka! -Pedi quando a empregada abriu a porta do armário da cozinha, onde eu estava escondido. -Diga ao meu pai que não me encontrou... Onegai!

    -Desculpe pequeno Taka, mas ele me pediu que o levasse, precisa concluir sua aula de violino de hoje! -Ela disse gentil.

    -Por favor... Diga que não me encontrou...

    -Hum... Vamos fazer um trato... Você corre e se eu te pegar, eu venci...

    -Wakata! -E sai correndo antes que ela pudesse impor qualquer coisa.

    Corri o mais rápido que eu pude, atravessei o salão de entrada da mansão e corri para fora, dando a volta na construção, olhei para trás para ter certeza de que a Sra. Yutaka não me seguia e quando me virei para a frente de novo, trombei com alguém, caindo de bunda no chão.

    Olhei para o garoto na minha frente, também sentado agora, ele estava sujo, era magro e carregava um vasinho com um broto de qualquer coisa.

    -Itaii! -Resmunguei, e logo ele se levantou prestativo, me puxando pelo braço, me fazendo ficar de pé. Depois se afastou um pouco assustado e fez um reverencia ultra formal.

    -Gomenasai, Matsumoto-sama! Eu tentei desviar, mas estava muito rápido e...

    -Tudo bem! -Eu disse quase mais assustado que ele. -Quem é você?

    -Yutaka Uke! -Ele respondeu ainda em reverencia.

    -Levante a cabeça nee, Uke!

    -Gomenasai! -Ele pediu levantando finalmente a cabeça.

    -Pare de me pedir desculpas também... Você é filho da Sra. Yutaka?

    -Etto... Sim!

    -Sua mãe é legal... Você está trabalhando?

    -Ah... Apenas ajudando minha mãe!

    -Wakata! Então Uke... Você... Você pode brincar?

    -Brincar?! Ah... Eu tenho que terminar de fazer isso para a okaa-san nee!

    -Hum... Eu... Posso ajudas?

    -Ajudar?! Mas...

    -Por favor!

    Ele demorou ceder, mas logo estávamos cobertos de terra na tentativa de plantar o pequeno broto. Claro que eu levei uma bronca absurda dos meus pais, mas não me importei, nos dias seguintes continuei a fugir para brincar, e assim aconteceram nos próximos sete anos...

    Uke e eu éramos inseparáveis, fazíamos tudo juntos. Pedi (vulgo, implorei) para que meu pai o colocasse na mesma escola que eu e se não colocasse eu pararia de estudar, então ele cedeu, contra a vontade dele, de Uke e da Sra. Yutaka.

    Talvez eu estivesse um tanto possessivo em relação à Uke, mas era meu único amigo e eu não pretendia deixar que ele se afastasse de mim nunca mais.

    Mas como infelizmente as coisas nunca fluíram ao meu favor, quando tínhamos 12 anos a Sra. Yutaka veio a falecer, ela tinha câncer e já estava em um estado avançado e por conta de sua situação financeira não pode fazer nenhum tipo de tratamento.

    Era estranho como Uke conseguia se manter tão sério, parecia sem emoção. O enterro da Sra. Yutaka foi simples e poucas pessoas compareceram, muitas adulavam Uke e ele parecia incomodado com aquilo, era como se quisesse mandar todos dali embora, inclusive eu.

    Mais tarde naquele mesmo dia consegui roubar Uke de dentro da funerária, eu me sentia mal, por que fui o único da minha família a comparecer, por que o resto simplesmente não se importava e agora estavam ocupados em busca de uma nova empregada.

    Acho que ele queria ficar sozinho, mas me agradeceu por salvá-lo daquelas pessoas e da forma que conseguimos, nos trancamos no banheiro da funerária.

    -Você está bem Uke-kun? -Perguntei preocupado quando ele se sentou no vaso.

    -Sim... -Ele disse de vagar, depois cobriu o rosto com as mãos, em desespero. -Não!

    -Eu... -Eu não sabia o que dizer.

    -Não sei mais o que fazer... Eu... Eu não tenho mais ninguém... Você sabe que meu pai também morreu não é?

    -An... -Eu estava me desesperando, ele chorava agora.

    -Taka-kun?!

    -An...

    -Seu pai me disse hoje de manhã que eu tenho que ir embora...

    -O QUE?

    -Eu entendo o que ele quer dizer... Não tem motivos pra eu continuar lá...

    -Tem sim...

    -Não Taka... Eu estava lá por que minha mãe era sua empregada... Tudo bem Taka, eu vou para uma casa de menores, mas... A gente pode continuar mantendo contato não é?! Afinal somos amigos...

    -Não... -Resmunguei sem ouvi-lo, eu estava mais desesperado que ele agora, afinal, sempre que eu tinha meus ataques era ele quem tinha o trabalho de me acalmar. Encostado na parede, escorreguei até o chão, cobrindo o rosto com as mãos. -Eu vou ficar sozinho de novo...

    -Não! -Ele se abaixou de frente para mim, puxando minhas mãos e fazendo com que eu o encarasse. -Você não vai ficar sozinho... Você tem sua família...

    -Taishita! -Reclamei. -É o mesmo que estar sozinho... Não... É pior...

    -Você devia agradecer de ainda tê-los...

    -Não! Você não sabe como é viver como um nada dentro da sua própria casa, por que seus pais amavam você, cuidavam de você... Não te tratavam como obrigação...

    -Seus pais não são assim, Takanori... Só estão preocupados em te dar o melhor...

    -Mas não dão! -Ele me encarou. -Por que o melhor não é ter tudo o que eu tenho... Não é todas essas coisas caras...

    -Taka... -Ele parecia confuso. Passei a mão pelo rosto limpando minhas lagrimas (na verdade, eu só fiz lambuzar mais meu rosto).

    -Eu queria que às vezes eles pelo menos olhassem pra mim... Perguntassem como foi meu dia... Perguntassem se eu fiz novos amigos... Mas eles sabem que eu não sou capaz disso...

    -Para Taka... Eu sou seu amigo não sou? Você é capaz disso mais que qualquer um...

    -Gomen! -Pedi respirando fundo. -Você com tantos problemas e eu aqui dando os meus chiliques...

    -Tudo bem! -Ficamos em silêncio por algum tempo, até que ele ameaçou falar. -Taka...

    -Se você for embora não precisa mais voltar! -Eu o cortei, ditando com firmeza e frieza. Ele apenas me encarou e eu senti meu coração ficando cada vez menor.

    ?Por favor, diga que não vai!? era o que eu pedia mudamente agora, enquanto o encarava. Vi ele corar, parecia não saber o que fazer, depois aproximou o rosto do meu, deixando um selinho nos meus lábios, foi um selinho demorado, meus olhos estava arregalados, e os dele me olhavam fundo. Ele se ajoelhou sem soltar meus lábios e sem deixar que seus olhos despregassem dos meus. Agora ele estava entre minhas pernas, suas mãos nos meus joelhos dobrados. Vi seus olhos se fecharem de vagar quando minhas mãos seguraram firmes seus cabelos e meus olhos se fecharam automaticamente, quando, surpreendentemente, minha língua pediu passagem. De certa forma nenhum de nós dois sabíamos o que estava acontecendo, afinal naquela época crianças de 12 anos ainda eram inocentes, e aquilo poderia ser visto por nós dois como uma forma de demonstrar que gostávamos um do outro de todas as formas.

    Era meu primeiro beijo e eu não sabia o que fazer... Como fazer... Apenas agi por instinto, deixando que as mãos dele deslizassem pelas minhas pernas, parando na minha cintura, me empurrando agora contra a parede, sem violência, apenas fazendo com que eu encostasse minha cabeça na cerâmica, fazendo com que, assim, eu sentisse melhor o que estava acontecendo.

    -Uke-kun?! -Chamei baixinho quando ele foi parando o beijo de vagar, deixando vários selinhos sobre meus lábios, agora vermelhos.

    -An...

    -Koishiteru... -Falei ainda mais baixo, sem acreditar no que saia das minhas cordas vocais. Ele me encarou, minhas mãos ainda em seus cabelos, seus olhos agora voltavam a me consumir.

    -Gomenasai... Matsumoto-Sama... -Ele pediu, segurando minhas mãos, e tirando-as de seus cabelos e pousando-as sobre meus joelhos. -Não se esqueça de mim, onegai... Eu... Não vou me esquecer de você!

    -Não... -Voltei a resmungar, eu estava chorando de novo, as mãos cobrindo a boca e os olhos grudados nos dele.

    -Gomenasai... -Ele me pediu outra vez, se levantando e indo até a porta, segurou a porta ainda me olhando, eu estava de cabeça baixa e eu chorava numa altura consideravelmente elevada. -Sayounara, Matsumoto-Sama...

    Ele esperou por algum tempo, mas eu não respondi, não consegui, então ele saiu, fechando a porta atrás de si.?

    *Flashback off*

    Aquela foi a ultima vez que vi Yutaka Uke. Naquele dia voltei para casa cansado e enjoado, eu estava triste e sem vontade de nada. Soube que ele havia sido levado para Sukumo, uma pequena cidade no Japão mesmo. Foi então que minha mente resolveu trabalhar... Conhece um problema chamado de Amnésia Psicogênica? É a perda de memória temporária que leva o indivíduo a esquecer de trechos ou acontecimentos que podem ser traumáticos de forma psicológica. Esse tipo de amnésia ocorre quando o tipo de lembrança apagado pode causar algum tipo de dor ou sofrimento, então o cérebro age bloqueando informações como um mecanismo de defesa. A recuperação pode acontecer em alguns dias, pode levar meses, anos... Ou pode simplesmente nunca acontecer. A memória pode ser estimulada por fotos ou objetos que lembram ou estão relacionados ao incidente, fazendo com que a memória seja desbloqueada. No meu caso, a minha havia sido desbloqueada por aquela foto. Eu havia bloqueado Uke da minha lembrança, havia bloqueado qualquer coisa relacionada a ele, simplesmente me esqueci... Vesti uma personalidade nova quando me mudei de escola, passando a ser o garoto rico e descolado, fazendo novos amigos... Reita, Uruha, Aoi e Miyavi, mas por dentro eu ainda era o mesmo Takanori que tinha medo das pessoas e que se esforçava nos estudos. A mesma amnésia havia me afetado em relação a morte de Kai, eu havia escolhido esquecer e seguir em frente, sem querer me preocupar...

    Senti então meu corpo sendo balançado, olhei para Reila com os olhos lacrimejados, ela parecia assustada.

    -Ruki... Você está bem? Está me ouvindo?

    -Eu... Eu...

    -O que aconteceu com você? Me deixou preocupada...

    -Desculpe! É que... Essa foto...

    -Quem é ele?

    -Um... Garoto que eu conhecia... -Me lembrava agora que eu havia guardado aquela foto ali, para que meus pais não encontrassem ela.

    -Parece que mexeu muito com você... Quer se deitar um pouco... Está pálido!

    -Quero! -Reila me ajudou a me levantar e me levou até o quarto, eu estava me sentindo fraco e parecia que a qualquer momento eu despencaria.

    Então esse era o interesse estranho que eu sentia por Kai? Minha mente havia trabalhado de forma tão protetora que nem mesmo a menção do nome real dele me fez lembrar... É por isso que ele me conhecia então... Não me fazia perguntas, sabia onde eu morava... Então eu havia dirigido até Sukumo quando atentei Kou? Eu sabia que ele estaria lá... Inconscientemente eu sabia que ele estaria...

    Não demorou para que eu simplesmente apagasse na minha cama, eu havia praticamente desmaiado, minha cabeça parecia uma bomba que estava em contagem regressiva, prestes a explodir, mas de certa forma eu preferiria não ter dormido, por que mais uma vez foi bombardeado por aqueles pesadelos...


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