The Dead World

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo Um

    Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

    Acordo repletamente desnorteada, com algo duro e seco batendo de modo persistente contra minha pele. Pisco, enquanto abro as pálpebras lentamente, temendo o que posso encontrar nesse deserto vasto e seco. Neste meio do nada, nos restos banais da humanidade.

    O Sol de fim de tarde ainda está quente e me faz suar, deixando minha camisa grudada em meu corpo. O céu se funde em diversos tons escuros, desde o rosa, amarelo até o alaranjado, fazendo a natureza lembrar aqueles quadros pendurados em museus de arte e eu até apreciaria a paisagem se o fato que me levou a chegar até aqui não fosse o maior mal de todos. E se também a fonte de luz não estivesse me fazendo ficar repletamente agoniada por uma fonte de água, fora esse empecilho, não quero que a mesma se vá. Ela não pode ir, minha maior companhia e protetora.

    Pisco lentamente, deixando as cores de o crepúsculo penetrar por meus olhos. Vejo o Sol descer preguiçosamente pela vasta linha do horizonte, fazendo outro dia morrer, mais um de dureza e de fome. Mal sei quanto tempo já estou vagando por este Texas devastado pela epidemia, mas pelo modo como minhas entranhas se contraem com um barulho alto e oco e quase viram do lado avesso, sei que uma semana se passou ou até mais, já nem sei mais contar ao certo, pois isso se tornou algo repletamente inútil, um a mais ou um a menos não é tão diferente assim. As horas estão parecendo sempre as mesmas ultimamente, cada segundo pulsando como o sangue pulsa através de minhas veias.

    Mal tenho forças para me erguer desse chão tão ressecado e imundo da estrada. Os carros simplesmente não passam mais por aqui, portanto os riscos de eu ser atropelada por algum imprudente é nulo praticamente. Mas ficar só ira me fazer assinar o decreto de minha própria cova, coisa que ando evitando ultimamente. Com um suspiro, ergo-me do asfalto, sentindo meus joelhos protestar contra os movimentos tão repentinos e contra meu peso, que apesar de parecer morto, faz diferença ainda.

    Não sei se poderei seguir durante muito tempo, mas tenho de tentar. Respiro profundamente, meus pulmões em brasa. Quero chorar, mas ser forte não é mais uma opção e sim uma obrigação! Meus lábios estão grudados, secos e rachados. Os sinais de desidratação aparecendo aos poucos.

    Engulo em seco, sentindo um terrível gosto de areia. Minha garganta está seca e apertada, como se bolhas se espalhassem por ela. Quero tanto beber água e me alimentar, mas nesse deserto asfaltado não irei achar nada, só a uniformidade dos cactos escassos e espinhosos e a terra abatida e avermelhada, fundindo-se ao céu.

    Não posso me demorar, mas meus músculos imploram por clemência. Não vou molengar, penso com determinação. Arrasto-me vagarosamente, como uma moribunda. Cada passo é uma eternidade, tudo se prolongando, emaranhando-se. Meus pulmões queimam, a noite já chega aos poucos e é nela que mora o perigo. A noite é a hora favorita deles, pois assim não serão vistos tão facilmente. É uma jogada, mesmo com suas mentes podres e imundas, ainda há algo vívido nesses filhos de uma mãe.

    Meus tímpanos insistem em escutar cada brisa, cada farfalhar, estou mais atenta do que antes. Meus sentidos se aguçaram como se fosse algo próprio da natureza. Deveria ter pegado mais alimentos, ter ligado para alguém.

    Ligar... isso é impossível agora, considerando-se que todos os meio de comunicação estão parcos agora. Internet, televisão, telefone e celular, tudo perdido. O contato humano foi embora junto de milhares de vidas. É como se eles, os repressores soubessem o quanto a tecnologia representa para nós, ou pelo menos representava.

    Mundo perdido, concluo, enquanto me sinto uma menina judia fugindo dos nazistas. Se fossem nazistas pelo menos o fim seria menos doloroso e massacrante do que o que é. As coisas que agora dominam á tudo, não são simples, não são como eu. Mas antes sim, antes do coração destas criaturas pararem de bater com um baque seco e a vida se esvair destes corpos, eles eram só mais um no planeta. Trabalhadores, donas de casa, enfermeiras. Tantas pessoas que poderiam ter tido uma única chance de escapar disso, mas como?

    Com amargura me lembro de que todos os países estão sofrendo em grande escala com essa invasão. O que era para ser uma vacina acabou se tornando uma arma nuclear de grande efeito, pior do que bombas usadas em guerras. Uma cura que se transformou em dor de cabeça, sem retorno. Tentaram impedir que isso ocorresse, mas não havia meios e ainda não há e nunca haverá.

    A complexidade envolve mais coisas além de um tratamento mal acabado. Famílias foram dizimadas. Sinto algo úmido descer por minha bochecha e sei que meu último fiapo de esperança foi consumido, como o fogo consome a pólvora, pois sei como os vampiros podem ser.

    Não sei quantos quilômetros já andei, mas ainda não há sinal de nenhum deles em nenhum lugar. Talvez não gostem de lugares desabitados. Mas afinal, quem gosta?

    Mordo o lábio inferior, quase o cortando, mas me seguro para não me ferir. Tenho a certeza absoluta de que por entre essa poeira há algum bar. Só não me lembro onde e minha cabeça está dando tantas pontadas que me recuso á fazer qualquer outro tipo de esforço.

    Paro só um segundo, forçando-me a tentar arrancar algo de minhas memórias retumbadas. Essa estrada me é familiar, já estive aqui, tenho certeza. Massageio as têmporas, vasculhando tudo.

    Norte, norte, norte! A coordenada repete em minha mente diversas vezes, martelando á minha frente de modo frenético, serpenteando. Franzo a testa, tentando captar mais alguma coisa. Fecho os olhos e espero, apenas espero. Bill?s Bar. O nome desencadeia uma reação de premonição. Esse lugar! Preciso ir até lá!

    Salvação, só pode ser isso! Um pouco de paz, só um pouco. Preciso andar como se não houvesse amanhã. Rumar ao norte e fazer uma curva e no meio daqui a construção irá aparecer. Irei me abrigar nela e quem sabe, poderei dormir em paz e comer e se eu der sorte, tomar banho.

    Com um sorriso de fazer a bochecha se esticar para cima e os dentes aparecerem, formando pequenas rugas ao redor do olho, finalmente percebo que talvez nem tudo possa dar errado!

    Mais um passo, mais uma porra de um passo. Prendo a respiração, enquanto sinto minhas costelas doerem. Parece que meus ossos estão sendo partidos ao meio feito galhos secos, mas isso não me impede de avanço, a curva não me está longe, posso vê-la mesmo nessa incessante escuridão. Cada vez mais perto, como uma miragem.

    Toc, toc, toc! Meus pés tocam o chão, produzindo um barulho grave, mas não ligo. Meu objetivo vai ser alcançado. Meu cabelo bate contra minha cara enquanto aumento a velocidade. O caminho está certo. Sinto meu coração martelar, esmagando-se contra minhas costelas, seu som preenchendo meus tímpanos. Minha respiração acelera a adrenalina fazendo efeito, zunindo em minhas veias.

    Quando alcanço o pedaço curvo da estrada, quero berrar á pleno pulmões. Lá está ele, lá está ele! O bar, meu pequeno refúgio construído repletamente em madeira e antigo, mais ainda sim, útil!

    Minhas pernas e pés em frangalhos me incentivam ao invés de me impedirem. Mas tenho de ser cuidadosa, mesmo que as chances de um imortal estar por aqui sejam baixas. Paro um segundo e estreito os olhos, procurando algum sinal de sangue.

    O local está escuro e parece abandonado faz anos. As janelas estão com os vidros com rachaduras imensas, que lembram cicatrizes. A porta da frente está fechada, apesar de estar em um péssimo estado, frouxa e quase caindo. Isso é bom!

    Aliviada em parte e sem hesitar, vou até ele. Quando piso na soleira empoeirada, abro a porta com cuidado, ouvindo seu rangido macabro. Pelo visto, ninguém gostava de passar óleo nela! Fecho-a e somente com meu tato, rastreio o caminho para algum possível interruptor, minhas mãos ensopadas de suor tateiam coisas feitas de material sólido, como carvalho. Tento não tropeçar em nada, não quero me ferir.

    Gemo ao sentir algo bater em meu joelho, provavelmente o balcão e resmungo em voz baixa. Apoio as mãos no local e busco apoio. Procuro por outra parede e dessa vez não tenho problemas em achá-la. Está rachada e áspera, ralando minha mão.

    Sinto um botão, graças á Deus! Aperto-o, rezando fervorosamente para que as luzes se acendam. Ouço um pequeno estalido, seguido por um ?clique ? abafado e as coisas se iluminam aos poucos.

    As lâmpadas fluorescentes invadem o ambiente silencioso com sua luz amarelada, fazendo os detalhes surgirem e é então que sinto que finalmente terei chance de sobreviver por mais alguns dias.


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